Capítulo 20 - Ogden

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VIC

Caminhamos até ficar muito escuro e acampamos mais uma vez. Não consegui dormir, tive pesadelos com Max, a tristeza dele me consumia. Eu não sabia como avisá-lo que estava tudo bem e que logo eu o encontraria.

Como Ekualo disse, após uma semana caminhando na escura floresta de Ogden, nós vimos o sol. Primeiro a claridade foi aumentando gradativamente, até que toda a luminosidade incidisse sobre meus olhos. Eu corri em direção à clareira e ri como uma criança que vê o sol pela primeira vez depois de dias de chuva. Deitei na grama e deixei o calor do sol me inundar, Ekualo ria e sacudia a cabeça numa repreensão velada sobre meu comportamento infantil.

__Vamos Victória, logo dormiremos em camas decentes. - ele me estendeu a mão grande e longa e ajudou-me a levantar. Seguimos por uma estrada de calçamento de pedra e avistamos as primeiras casas. Eram brancas com telhados de palha, as janelas pequenas com jardineiras cobertas de flores miúdas e multicoloridas. As pessoas eram alegres e nos cumprimentavam com curiosidade, meu cabelo negro chamava a atenção em qualquer lugar.

__Para aonde estamos indo? - perguntei enquanto olhava uma ou outra árvore que ficava perto das casas. Vê-las isoladamente era impressionante, a altura que chegavam... A sensação é que tocavam o céu.

__Para casa de minha irmã.

__Você tem uma irmã? - perguntei curiosa. Ekualo sorriu e seus olhos amarelos se iluminaram.

__Você não tem irmãos? Eu também.

__Mas... ela mora em Ogden? Eu achei que todos os Aiesh vivessem só nos lagos.

__Kailina casou-se com um lenhador de Ogden e mora aqui desde então.

__Casou-se? - minha boca estava aberta de surpresa.

__É, eu sei que é incomum, mas eles se gostam. Fazer o quê?

Caminhamos em silêncio e seguimos por uma rua lateral que saía do centro da cidade. Estávamos caminhando há quase trinta minutos e já estávamos fora da cidade, quando avistamos a cabana de madeira às margens de um pequeno lago.

__Eles têm filhos? - perguntei quase num sussurro. Ekualo sorriu triste.

__Sim. Olavo já possuía filhos do primeiro casamento, mas os dois não podem gerar filhos deles, Kailina e Olavo são geneticamente incompatíveis. - ele fez uma pausa e quando já estávamos bem próximos à casa, ele voltou a falar. __Mas eles são muito felizes apesar disso.

A porta abriu-se e avistei uma mulher tão alta quanto Ekualo e com olhos grandes e amarelos, seus cabelos esverdeados estavam presos em uma trança que descia pelo seu ombro esquerdo. Ela sorriu e correu ao nosso encontro.

__Irmão! - fiquei de lado observando o encontro dos irmãos Aiesh, senti uma vibração de amor, paz e felicidade vinda deles.

__Kailina. - ele disse com ternura. __Como está?

__Bem, meu irmão. Melhor agora que chegou. Vamos entrar, deve estar cansado da viagem.

__Eu trouxe uma amiga comigo. - eles então se voltaram para mim. __Importa-se que ela fique conosco?

__Claro que não. Venha! - Kailina me estendeu a mão e eu a segurei. __Como é seu nome?

__Victória Regina, mas pode me chamar de Vic.

Entramos na casa e logo fui envolvida por um aroma de comida, Kailina percebeu que eu estava com fome e nos serviu pão com geleia e um copo de suco de frutas silvestres. Enquanto comíamos, conversávamos sobre mim e a minha história. Kailina aceitou bem a ideia de estar conversando com uma pessoa de outro planeta e nem se abalou quando lhe falei da profecia e do ataque a Megaron. Ela, assim como Ekualo, aceitava bem as adversidades como se fosse só mais um obstáculo a ser superado e que a vida daria um jeito.

Andirá - a jovem da profeciaOnde histórias criam vida. Descubra agora