Capítulo 28 - Uma família escondida

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VIC


As semanas passavam rápidas e minhas aulas com Caleb estavam diferentes, eu tentava demonstrar interesse e evitava falar em Max ou qualquer um que tenha conhecido antes dele. Eu podia sentir sua mudança, seu envolvimento, apesar de não sentir suas emoções ou ler sua mente, mas eu notava mudanças sutis em sua expressão, o tom da voz, o modo como me tocava, o que ocorria cada vez com mais frequência.

__Hoje vamos até a praia.

__Alguma lição envolvendo o mar ou vamos nadar outra vez?

__Vamos caminhar um pouco pela areia.

Cavalgamos até a praia e lá encontramos guardas que vigiavam o fim da estrada, desmontamos e após deixarmos os cavalos com eles seguimos a pé pela areia.

__Por que estamos caminhando? – perguntei após alguns minutos de silêncio.

__Não podemos chegar a cavalo aonde vamos.

__Por quê?

__Você verá.

Eu o segui calada, imitando-o e ouvindo o som das ondas no seu ir e vir incessante. O som das ondas, do vento e das gaivotas me deixava meio tonta, embriagada com tamanha beleza, era como flutuar em um mundo de sonhos, então depois de caminhar por uns dez minutos chegamos ao fim da faixa de areia e havia pedras. Olhei para Caleb que continuou a caminhar, subiu nas pedras e me ofereceu a mão, após transpor o obstáculo, nos deparamos com um barco pequeno, ele me ajudou a subir e seguimos até umas ilhas bem próximas ao litoral.

Descemos na areia e Caleb arrastou o barco e o amarrou em uma palmeira. Seguimos pela ilha adentro e nos deparamos com um grupo de pessoas vivendo em tendas, eram como ciganos, fomos recebidos por uma mulher de meia idade com longos cabelos cacheados e ruivos, e um sorriso franco. Ela abraçou Caleb com intimidade e ele retribuiu sorrindo, depois fui abraçada com o mesmo entusiasmo e apesar de não termos conversado, ela me passou uma sensação de carinho e segurança.

__Quem são eles? – perguntei baixo.

__Amigos. – ele respondeu ainda sorrindo.

__Por que vivem isolados?

__Eles não querem misturar-se ao povo de Atlantis.

__De Atlantis? E que língua é essa que estão falando?

__Nunca a ouviu?

__Não, eu deveria?

__Não. _ ele sorriu, poucas vezes vi Caleb sorrir.

Sentamos ao redor de uma fogueira e fiquei ouvindo Caleb e a mulher conversarem naquela língua desconhecida. Outras pessoas chegaram e foram sentando ao redor da fogueira. Perguntava-me em silêncio o porquê de não entender o que diziam. Eu podia entender todos de Atlantis mesmo antes de estudar sua língua, mas essa eu não entendia, apesar de achar que não era de todo estranha.

Comemos e bebemos, eu me sentia alegre e ria com eles mesmo sem entender o que diziam. Caleb vez ou outra traduzia algo para mim, eram histórias de outro tempo envolvendo aquela gente, tradições que me lembraram o povo cigano. Então como se um raio cruzasse o céu, eu senti o estalo em minha cabeça, essa era a família de Caleb. Levantei-me depressa e perdi o equilíbrio, ele rapidamente amparou-me segurando-me pelo braço.

__Sua família?! – perguntei enquanto encarava aqueles olhos verdes intensos.

__... – ele não respondeu, estreitou os olhos e me puxou de volta ao banco.

Andirá - a jovem da profeciaOnde histórias criam vida. Descubra agora