A guarda do Mosteiro estava a postos, Briseu e Celandine tentaram me convencer a ficar com eles em sua sala. É claro que recusei.
__Eu vou estar onde Max estiver.
__Victória, precisamos que sobreviva. – disse Briseu.
__E para que vem me treinando todos esses meses senão para lutar? – respondi com determinação.
__Está certo, você tem razão. Tome cuidado e lembre-se, fique calma e concentre-se, Max sabe se cuidar. – assenti com um movimento de cabeça e vi quando Max fez aquela expressão de descontentamento. Ele contava com Briseu para me convencer a ficar fora da luta.
__Não seja teimosa. Proteja-se! – seu desespero me deixava confusa, mas eu não poderia me esconder em uma sala sabendo que ele estaria lá fora, lutando por mim.
__Não, não vou ficar longe de você.
O portão estava abaixado e ainda estava escuro, archotes iluminavam as paredes externas e internas do Mosteiro. Nossos homens estavam a postos, as muralhas estavam sendo vigiadas, mas não em toda sua extensão, tínhamos poucos guardas. O Mosteiro contava com um grupo de cento e cinquenta homens. Era muito pouco, eu temia por eles, sabia que poderiam morrer lutando e eles lutariam para me manter segura. Eu precisava ajudá-los.
Quando a luz do dia começou a surgir, assustamo-nos realmente. Havia mais de trezentos soldados preparando-se para a invasão. Não me permitiram subir até as muralhas para ver, queria procurar pelo tal comandante, mas fui convencida a permanecer no pátio. Um mensageiro chegou ao portão do Mosteiro trazendo uma missiva, Hector a pegou e trouxe até Max.
__Eles querem a jovem Senhora, dizem que se não concordarmos, eles invadirão o Mosteiro.
Pensei por breves segundos e decidi me entregar.
__Max, se eu for com eles, não haverá mortes.
__Não! – Max gritou. __Ficou louca! Não vou concordar com isso.
__Max, me escute. Eles não vão me matar e eu poderei encontrar-me com Bianor, poderei convencê-lo a...
__Não. Não. Vic, por favor, não faça nenhuma bobagem. Suba. Vá para a sala de Briseu, eu não vou deixá-la ir. – seus olhos estavam abertos e assustados, nem parecia o mesmo rapaz que havia me tirado daquele lago no grande Meiavi. Ele estava transtornado, seus cabelos cacheados, um pouco crescidos, caiam sobre seus olhos e grudavam ao suor que brotava em sua fronte. Não desejava vê-lo sofrer, mas jamais sairia do seu lado.
__Então Max, haverá muitas mortes.
__Não vou deixá-la com eles. – Max reafirmou sacudindo a cabeça. Olhei angustiada para Hector.
__Não se preocupe jovem Senhora, nós estamos preparados para protegê-la com nossas vidas se for preciso.
__Obrigada Hector, mas eu não quero que morram por minha causa. – ele sorriu e enviou a mensagem com a resposta.
Ouvimos sons de trombetas e logo em seguida, homens jogaram cordas sobre a muralha. Como isso era possível? O mosteiro ficava em uma encosta, mal havia espaço para que alguém passasse a pé. Mas eles conseguiram passar e subiam como lagartas nas muralhas de pedra. Max e Nereu subiram e foram ajudar os outros guardas a cortar as cordas, ouvi gritos. Homens caíram, mas eram muitos e vinham de todos os lados. O portão rangeu, não era possível! Ele estava fechado, trancado.
Percebi que as cordas eram só uma distração, senti uma onda de energia poderosa, cheia de raiva. O portão subiu mais, tentei mantê-lo fechado. Concentrei-me como nunca havia feito e por algum tempo eu o mantive fechado, mas algo mais forte que eu, o ergueu de uma única vez. E uma enxurrada de homens entrou a cavalo no pátio do Mosteiro, Max lutava em cima da muralha. Tentei empurrá-los, vários soldados voaram sobre seus companheiros, arranquei suas armas e as atirei sobre a muralha em direção ao penhasco.
Eu sentia a energia percorrer meu corpo, fazendo meu cabelo se erguer como se eu estivesse no meio de um vendaval. Alguns dos soldados voltaram para trás, o horror em seus olhos me deixava enojada de mim mesma, eles me temiam? Com o que eu parecia? Uma bruxa assassina? Outros tentavam chegar perto de mim, mas eu os repelia. Eu não queria feri-los, mas precisava detê-los, então os deixava inconscientes, comecei a perceber que alguns não sobreviviam, mortes aconteciam ao meu redor e me senti nauseada.
Olhei ao redor procurando por Max, de repente, senti uma dor aguda em minha cabeça, alguém tentava invadir minha mente, bloqueei, mas a força era demais para mim, tombei sobre meu corpo e nesse momento, tive uma visão. O portão norte estava sendo aberto por Neandro, soldados inimigos entraram no pátio interno. Como ele pôde fazer isso conosco? Ele nos traiu!
__Vic, você está ferida? – Max estava ao meu lado.
__Não. – consegui me erguer e aspirei o ar com força antes de responder.__ Max, nós precisamos entrar, o pátio interno foi invadido.
__Como? – ele perguntava e olhava ao redor. Hector nos viu e veio até nós.
__Neandro. – falar seu nome me causou ânsias e senti um gosto amargo na boca __ É um traidor, está ajudando os soldados. Vamos! Eles vão chegar até Briseu e Celandine. – não esperei por Max, corri em direção ao pátio interno. Passei por dentro do Mosteiro e encontrei com Adameire, ela parecia aterrorizada.
__Adameire! – chamei e a jovem olhou para mim com olhos assustados, corri até ela e segurei suas mãos. __Se esconda, vamos! – a empurrei em direção as escadas que levavam aos quartos.
__Mas Senhora...
__Vá! – gritei e ela correu. Max chegou até mim seguido por Hector.
__Hector, suba. – eu dei ordens como se tivesse feito isso a minha vida toda __Proteja Bianor e Celandine. – Hector assentiu com um movimento de cabeça e subiu as escadas que levavam a sala de Bianor.
Enquanto corria pelas salas do mosteiro cruzamos com Neandro. Max arfou e empunhou a espada, vi o terror nos olhos de jovem traidor, seus cabelos cor de prata estavam revoltos e seu corpo tremia sem parar e quando ele se preparou para correr, simplesmente o empurrei contra uma parede usando os meus poderes telecinéticos, o deixando inconsciente.
Corri em direção ao pátio interno do Mosteiro, seguida por Max e outros dois guardas. Vários soldados já haviam entrado no pátio, eu não queria feri-los, mas temia por meus amigos, por Max.
__Por Deus! São muitos. – ouvi Max sussurrar. Ele me lançou um olhar de desespero e partiu para um confronto direto com um dos homens. O som pavoroso das espadas colidindo me arrepiava. Mais guardas do mosteiro apareceram, mas ainda não era suficiente.
Também me vi as voltas com os soldados inimigos. Quase nunca usava armas, sempre meus poderes, mas eu me sentia mentalmente esgotada. Então apanhei a primeira coisa que vi ao meu alcance e o chicote me pareceu leve demais, avancei contra um deles e ele sorriu de modo sarcástico, estalei o chicote próximo ao seu rosto e o chamei pra luta, não sei de onde tirei coragem, mas consegui desarmá-lo. Talvez ainda usasse meus poderes no fim, isso não importa, porque eles continuavam a entrar pela porta lateral.
Lembrei-me da trilha estreita que subia a encosta, concentrei-me mais uma vez e movi o chão de cascalho abaixo deles. Ouvi seus gritos, senti suas mortes, comecei a chorar, eu já não conseguia mais me conter. O medo me dominava, continuei a desarmá-los. Max lutava próximo a mim. Acho que matei vários soldados inimigos, eu os lançava para longe e batiam com força nas paredes de pedra, alguns voaram por sobre a amurada em direção ao lago.
O pátio ficou calmo, só corpos pelo chão. Max olhou pra mim com um ar de alívio e seu sorriso me reconfortou, mas não pude respirar aliviada, senti uma vibração.
__Celandine! – soltei num arfar. __Max, Celandine está ferida. – olhei para a amurada do terraço de Briseu e vi o momento que o arqueiro lançou a flecha em direção a Max. __Max! Nãããooo!- eu o empurrei ficando em seu lugar, senti o impacto da ponta de metal perfurando meu ombro. Perdi o equilíbrio e caí sobre a amurada. O lago se aproximava pouco a pouco, eu não conseguia pensar, a dor me atordoou, fechei os olhos e senti a água fria me envolver.
![](https://img.wattpad.com/cover/59544156-288-k359305.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Andirá - a jovem da profecia
FantasyVictória Regina é uma jovem de 16 anos que ao observar uma estrela em uma noite, é transportada para outro planeta em um túnel de luz. Confundida com Andirá, a jovem da profecia, ela terá que aprender a lutar e a dominar seus poderes recém descober...