CAPÍTULO 7: TREINAMENTO

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Uma coisa tinha me deixado meio inquieta, o Alexander tinha razão, eu estava me aproximando dele e parecia estar me distanciando do Neythan. Estávamos brigando por motivos bobos e mesmo sem perceber, isso nos afastava um pouco. Eu não gostava disso. Queria poder ficar com o Neythan sem nada para atrapalhar, queria poder ter o controle sobre isso.

O Neythan saiu depois que viu que acordei, não tentei impedir, sabia que ele queria ficar sozinho e estava chateado com a situação. Sinceramente se eu estivesse no lugar dele também estaria, eu entendia o lado dele por isso precisava que ele confiasse em mim. E também... Gostava quando ele cuidava de mim mesmo quando estava chateado comigo, isso mostra o quanto ele se importa comigo. E, eu também me importo com ele.

Na quinta-feira esperei pelo Alexander em casa, não sabia como tudo iria funcionar, onde, quando ou que horas era para encontrá-lo, então a melhor decisão era esperar em casa mesmo. Ele chegou alguns minutos depois, estacionou o carro e veio até a porta onde eu estava.

— Preparada?

Respirei fundo afastando os pensamentos que começavam a chegar.

— Estou!

Alguns minutos depois estávamos parados no jardim da casa do Alexander mais especificamente atrás do grande castelo onde havia uma enorme área vaga. A grama era toda bem cuidada e todo o espaço mais adiante eram só árvores e mais árvores.

— Nunca tinha conhecido esse lado da sua casa. — Disse e ele sorriu

— Na verdade já. Você só não se lembra.

Ele tirou o terno entregando a uma das empregadas dele e dobrou as mangas da camisa social. Fiquei na duvida sobre exatamente o que iríamos fazer, eu não sabia nada a respeito disso então teria que confiar no Alexander. Ele caminhou até uma porta longa preta do lado de fora do castelo e a abriu, percebi que tinha um corredor estreito com escadas que davam a algum lugar lá para baixo.

— É um sótão ou algo do tipo? — perguntei. Estava na duvida se devia ou não entrar.

Ele sorriu de uma forma maliciosa.

— Não vou machucar você. Quando vai se convencer disso? Aliás... Você é que pediu a minha ajuda.

— Desculpa, não foi o que quis dizer.

Depois de entrarmos chegamos a uma longa sala vermelha e escura, em frente tinha um vidro e uma porta que dava para uma outra salinha. Parecia aqueles estúdios de som.

— O que isso significa? — Perguntei confusa

— Para ter controle sobre isso, você precisa ter controle sobre três coisas: Percepção, audição e força. As vozes que ouve na sua cabeça quando o selo está prestes a quebrar, são vozes reais. De pessoas que estão por perto ou a alguma distância.

— O quê? — perguntei surpresa tentando raciocinar — As vozes são reais?

— Exatamente. São vozes de todos os lugares, mas como não consegue distinguir ainda, elas se embaralham.

— Está dizendo que as vozes que ouço quando estou prestes a perder o controle, é de pessoas que estão por perto? Como é possível? Isso é... Invasão de privacidade — Disse e ele deu um meio sorriso

— Não é, se você escolhe não ouvir. Quando tiver controle vai ser como se essas vozes nem existissem. Você vê uma pessoa ao longe e decidi ouvir a conversa é só concentrar sua atenção nelas.

— Acho que entendi. Como Clark Kent*.

Ele caminhou até a porta que dava para o outro lado do vidro e parou no batente.

— Hoje vamos treinar a parte da audição. Vou ficar deste lado e tudo que você tem que fazer é se concentrar na minha voz.

— Esperai! Como é que vou conseguir ouvir sua voz se ficar ai dentro? Existe mais alguma coisa que preciso saber?

— A audição dos Adormes, meio-originais e os originais são excelentes. Com um pouco de treinamento, talvez em pouco tempo já consiga se concentrar na minha voz.

— Quer dizer que a probabilidade de eu conseguir nas primeiras semanas é pouca?

— Exatamente. Até porque, você não tem muita experiência com isso. — Disse ele arqueando uma sobrancelha como se fosse obvio.

— Mas não é impossível?

— Não! Vou colocar um som e precisa ignorá-lo e se concentrar na minha voz. Quebrarei a parte do selo que está ligada à audição, assim ficará mais fácil.

Olhei pra ele mais confusa ainda

— Como assim?

— Quando o selo está quebrando, todos os sentidos se misturam. O poder que corre nas suas veias você confunde com a dor, é por isso que tem a sensação de seus órgãos estarem sendo esmagados. As vozes das pessoas ao seu redor começam como sussurros e se intensifica. E a sua visão embaralha porque precisa se concentrar em um só detalhe.

Agora entendia um pouco mais. Eu precisava distinguir todas as partes e assim teria controle, quando o tivesse poderia, talvez, conseguir viver normalmente como o Alexander e o Neythan.

Ele pegou a minha mão e pediu que eu fechasse meus olhos, como estava ansiosa para começar logo, fiz isso. Senti a mão dele no meu rosto e tentei ignorar, ele realmente não se desviaria do assunto que estávamos ali para resolver... Ele não era assim. Ele passou a mão esquerda na minha cintura me prendendo a ele, e com a direita desceu do meu rosto passando até o meu pescoço. Respirei fundo tentando ignorar isso. Eu realmente não estava interessada em possivelmente um beijo.

— Alexander não...

— Espera! — Ele advertiu

A mão dele desceu mais ainda e senti um arrepio percorrer minha pele, ele parou onde ficava meu coração, e eu involuntariamente abri os olhos...

— Não acho... — Comecei mais parei

Vi uma luminosidade branca sair da mão dele, neste mesmo momento fechei os olhos e ele apertou com força na minha caixa torácica. Uma dor feroz percorreu as minhas veias e cai no chão. Ele se afastou entrando naquela porta e parou.

— Lembre-se: Você precisa ter foco no que quer ouvir, assim as outras vozes na sua cabeça vão deixar de significar algo.* — Disse ele e fechou a porta

Os sussurros começaram a aparecer na minha cabeça, mas dessa vez era somente os sussurros e nada da dor ou a visão embaralhada. Vi que ele mexeu em alguma coisa lá dentro e comecei a escutar ruídos, parecido com o de um apito repetitivo. Aquele barulhinho incomodante. A vozes se intensificaram misturando-se aos ruídos e eu não conseguia concentrar em mais nada. Precisava ter foco no que queria ouvir. Foco. Involuntariamente levei as mãos ao ouvido tentando ignorar o quanto aquilo era incomodativo, ainda estava abaixada e fiquei me mexendo pra frente e pra trás querendo que aquelas vozes parassem.

— Foco. Foco. Foco.

Tentei o máximo que podia mais nada ainda, era impossível me concentrar com aquele barulho ensurdecedor.

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Clark Kent* Referência ao Clark personagem super-herói conhecido como Superman, também da serie Smallville.

* Fala do Alexander no prólogo da fanfic.


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