CAPÍTULO 28: À BEIRA DO ABISMO [PARTE 2]

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O pânico tomou conta de cada parte do meu corpo, a força que achava que poderia encontrar dentro de mim já não existia, não iria aguentar ali em cima por muito tempo e não tinha a mínima intenção ou vontade de morrer daquela forma.

A janela foi aberta e meu coração pulou de alegria e espanto, era o Neythan, ele se apoiou na janela segurando a minha mão.

— Se segura. — Disse ele me puxando, mas cometi o deslize de soltar a mão do parapeito do prédio para segurar a dele e assim eu quase cai.

Meu coração estava acelerado e a adrenalina assim como o pânico já tinham me dominado, eu acabei gritando de medo. Não queria que meus pais recebessem a noticia que a filha tinha morrido porque caiu do parapeito de um prédio.

Eu sabia que o Neythan era forte, mas ele parecia assustado assim como eu, e talvez isso tivesse tirado toda a concentração dele, minha mão estava úmida, provavelmente porque tinha tocado naquelas coisas dentro do refrigerador, e já não encontrava mais forças para continuar segurando. Minha mão deslizava da dele, o toque era quente e eu não podia deixar de pensar nem por um segundo o quanto era bom.

Ele se soltou da janela me segurando com as duas mãos e me puxou, o alivio tomou conta de mim, em menos de segundos já estava do lado de dentro de novo, respirando fundo como se tivesse corrido uma maratona, ele me olhava de uma forma surpreso e assustado. Tinha caído em cima dele, mas não era como se ele tivesse sentindo meu peso, ele parecia aliviado e a vontade de abraçá-lo tomou conta de mim, mas acabei me levantando. Foi questão de segundos para a minha visão embaralhar e as coisas a minha volta começaram a se tornar sombras e acabei desmaiando.

Acordei com dor por todo o corpo, ainda não conseguia abrir os olhos, parecia que doía quando tentava, escutava vozes ao longe e um barulhinho perto. Abri os olhos o mínimo que consegui, mas a visão ainda estava embaralhada, não sabia onde estava, mas tinha uma ideia. O ambiente estava claro e iluminado, sentia alguma coisa no meu braço, mas não consegui identificar o que, havia alguém segurando a minha mão.

Estava em um hospital.

Assim que as coisas foram tomando suas formas e minha visão deu uma melhorada olhei para o lado e vi o Neythan sentado em uma cadeira do meu lado segurando a minha mão. Aquilo me deu um conforto, mas também pânico, ele poderia sair dali e voltar para a Loren e assim tudo voltaria como estava antes.

Mas... Porque eu estava ali? Só porque tinha desmaiado? E a minha bolsa com os frascos onde estava? Eu queria perguntar ao Neythan, mas perdi a concentração olhando para uma coisa que estava do meu lado. A coisa pingava de um saquinho e escorreu por um tubinho chegando até o meu braço, olhar aquilo me dava uma sensação de fraqueza. O que era? E porque estavam colocando aquilo em mim? Já tinha quase uma ideia do que era...

— O que é isso? — consegui perguntar e o Neythan me olhou, parecia calmo. — Porque estou aqui? Cadê a minha bolsa?

Como eu tinha conseguido sair do prédio e estava em um hospital? Só poderia ter sido o Neythan, claro.

— Você estava fraca. Eles estão te dando soro. Disseram que estava em estado inicial de anemia.

Eu decidi mudar de assunto

— Como... Como sabia que eu estava lá?

A lembrança da Loren dizendo aquilo veio a minha mente, tentei ignorar, mas a vontade de perguntar sobre o assunto estava me consumindo a cada segundo.

— Escutei você falando ao taxista aonde iria e como você não é acostumada a sair à noite ainda mais para aquele lado da cidade decidi ir atrás de você.

— Então... Foi você que distraiu os seguranças sobre aquele assunto do fogo? Como saiu de lá?

— Pelos fundos, tem uma saída de emergência.

— Cadê minha bolsa?

— Deixei na sua casa. — Disse ele

Queria saber se os frascos não tinham quebrado ou alguma coisa parecida.

— Os frascos...

Ele pareceu dar de ombros, mas sua expressão era um misto de indignação e confusão.

— Não quebrou. Por que você fez isso? Sabe o quanto foi arriscado? Poderia ter morrido lá.

Sermão... Sério? Eu não queria brigar com ele.

— Poderia ter ficado bem.

— Você quase caiu.

— Por que você me assustou. Achei que fosse um deles. — Disse e respirei fundo

Eu não poderia começar uma discussão agora, eu não era assim, sempre preferi evitar esse tipo de coisa porque não tinha sentido, mas eu me sentia confusa, fraca e... Quebrada. Meu coração doía de pensar nele com a Loren, mas doía mais ainda saber que ele poderia estar em perigo, ou até mesmo o Alexander. Aquele pessoal não estava para brincadeiras.

— Eu...

— Não quero brigar com você, Neythan. Sei que deve estar me odiando, mas eu...

— Eu não odeio você. — Ele me cortou e acariciou a minha mão com o polegar.

— Queria que me perdoasse, queria que me contasse a verdade e tudo voltasse como estava antes. — Falei tentando conter as lágrimas, não queria e não iria chorar na frente dele.— Por que beijou a Loren?

— É complicado.

— Você dormiu com ela?

Eu esperava que a resposta fosse não, tinha medo do que ele poderia dizer, sabia que aquela conversa toda estava parecendo mais um interrogatório de tantas perguntas, mas não poderia deixar que ele fosse.

— Você realmente acredita nisso?

— Eu acreditei em você antes e mentiu pra mim. Sobre ela ter morrido. Depois disse que ela não fazia o seu tipo e a beijou.

Não estava culpando ele por ter beijado ela, na verdade isso me deixava chateada claro, eu nunca tentei beijar o Alexander e ele sabia disso, se fosse a Loren que tivesse beijado ele eu até entenderia, mas no caso ele que a beijou. Isso me deixava frustrada e sabia que não podia me permitir a isso.

Ele soltou a minha mão ficando de pé e se aproximou mais de mim.

— Estou tentando proteger você e sabe que eu ainda te amo. Se quiser acreditar em mim mesmo que ache impossível, faça isso. Mas se achar que estou mentindo pra você, não posso fazer nada. — Ele me deu um beijo no rosto e foi até a porta — Prometo que quando for a hora certa eu te conto.

— Aonde você vai? — perguntei entrando em pânico mentalmente, não queria que ele fosse embora.

— Vou à recepção.

— Neythan... Os meus pais sabem que eu estou aqui?

— Achei que você iria preferir que eles não soubessem.

Era verdade, ele realmente me conhecia muito bem. Não queria preocupar meus pais com isso.

— Mas... Tive que chamá-los. Eles precisam saber como anda sua saúde.

Ah não...

— Vou deixar você descansar. Boa noite.

— Neythan... Por favor... Volta. — Disse e ele fez que sim com a cabeça e saiu fechando a porta do quarto.

Meu coração doeu ainda mais, parecendo que iria se quebrar em mil pedacinhos e não sabia exatamente porque, a voz dele tinha saído sincera ao me dizer aquilo, não queria pensar que estava sendo ingênua ao confiar nele, eu iria acreditar, meu coração me dizia para confiar, eu só precisava saber como. Tudo o que passamos juntos não poderia ter sido mentira, não poderia ter sido em vão.

Ele tinha um motivo para aquilo tudo.

Só poderia ser isso.

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