P.O.V. Amanda Evans
Uma vez, quando eu tinha seis anos, acabei me perdendo dos meus pais no zoológico. Pra uma criança de seis anos, isso pode ser uma coisa horrível, amedrontadora. Pra mim também era, pra falar a verdade. Mas a única coisa que eu pûde fazer foi sentar num banquinho e continuar observando os elefantes, porque eu sabia que uma hora alguém viria me buscar. Não devia ter passado muito tempo que eu estava ali, quando uma homem sentou ao meu lado. Ele deveria ter uns 50 anos, era mal-cuidado e muito menos bonito. Em questão de segundos, ele se virou para mim e disse que havia sido mandado pela minha mãe, para me buscar, caso alguma coisa desse errado. Eu nunca tinha visto aquele homem na minha vida.
- Qual é a senha? - Perguntei a ele, ganhando um "O quê?" de resposta.- Qual é a senha? - Repeti, e o homem explicou novamente que "havia" sido mandado pela minha mãe. Depois de fazer a pergunta pela terceira, e em seguida, pela quarta vez, o homem foi embora. Minutos depois, meus pais apareceram. Minha mãe chorando e meu pai pálido igual uma folha de sulfite A4.
E bem, a senha era: "Srta. Evans."
Era assim que os empregados, o motorista e a maioria dos amigos do meu pai me chamavam.
Não sei de onde minha mãe tirou essa história de senha, mas nunca me esqueci do que aconteceu naquele zoológico. Antes porque achava estranho, hoje porque entendo. Talvez a "senha" tenha salvado minha vida. Acho que nunca contei essa história para minha mãe. Talvez porque depois do ocorrido, ela tenha me levado ao Mc Donald's mais próximo e me mimado por 2 semanas, dizendo que achou que tinha me perdido para sempre. Talvez porque eu nunca tenha tido uma oportunidade de sentar com ela e dizer que eu havia obtido sucesso com a "histórinha" do segredo.
E bem, 13 anos depois, nessa situação que estou, com Justin, com Claire, eu me sinto como o velho de 13 anos atrás: sem a senha. Presa numa situação, em que não me contaram a senha para conseguir sair dela. Com apenas uma pessoa para confiar; Claire.
Quando Justin estacionou o carro, desejei não ter pedido para ver Claire, porque no fundo eu estava com medo. Medo do que, tanto ele quanto ela, iriam me dizer. Para minha felicidade, Justin acabou com a tortura rapidamente.
- Você tem 20 minutos, docinho. Sem gracinhas, ok? O carregamento de armas só chega amanhã, e com elas, as munições. E não dá para ficar gastando balas com vocês. Mesmo assim, se você resolver aprontar alguma coisa, eles atiram a uma bala vai parar na sua cabeça e outra na da sua amiguinha, combinado?
Não respondi. Apenas continuei fitando Claire através do vidro do carro, a uns 200 metros de nós.
- Se eu fosse você, não aprontava nada. Essa não vai ser uma situação em que seu amiguinho vai conseguir te salvar.
- Está falando de Christian?
Justin não respondeu, mas fez uma cara feia, como se não gostasse do fato de que eu havia me aproximado de Christian e não dele, algo que, provavelmente, ele esperava que acontecesse.
- Vá logo. Faça o que você tem que fazer. Não tenho o dia todo para você.
Bufei, tirando o cinto de segurança. Saí do carro, batendo a porta, sabendo que Justin estava me xingando do lado de dentro.
Observei o lugar que Justin havia escolhido para eu encontrar Claire.
Além de cascalho e moitas, o lugar não tinha mais nada.
Observei Claire, a uns 200 metros de mim. Ela ainda não havia me visto, e comecei a ficar nervosa com a situação.
Eu caminhava lentamente em direção à minha melhor amiga, sem saber o que diria para ela quando realmente a encarasse. Explicaria tudo que está acontecendo? Ou esconder tudo dela e apenas pedir para que não conte à polícia? Eu não sabia. E parecia estar muito longe de saber.
Por mais que a loira fosse minha melhor amiga há anos, eu meio que tinha vergonha de encará-la. De dizer que havia sido burra ao ponto se deixar tudo isso acontecer. Pois, querendo ou não, eu colocava todo mundo em risco. Justin havia encontrado Claire, e havia o risco dele encontrar meus pais também. Assim, do mesmo jeito, eu colocava os meninos em risco com o fato de que esse meu encontro com Claire poderia fazer com que a polícia encontrasse todos eles.
Caminhei por poucos segundos até ficar diante de Claire, que ainda estava de costas para mim, como se tivesse medo do que poderia encontrar quando me vesse.
- Claire. - Chamei-a e senti minha garganta arder, como toda vez que eu quero chorar mas sinto que não posso.
Quando se virou para mim, me surpreendi. Aquela não era a amiga que eu havia deixado na Carolina do Sul há poucas semanas. O cabelo loiro estava desidratado, as unhas com o esmalte descascando e ela não usava maquiagem, tudo muito atípico de Claire.
A garota me abraçou, e acho que ficamos abraçadas por uns 2 minutos, até Claire me soltar e me encher de perguntas.
- Oh Meu Deus! Oh Meu Deus, Amanda! O que eles fizeram com você?
Por mais que a situação fosse totalmente desesperadora, eu ri. Ao receber aqueles milhões de perguntas, era como se eu tivesse recebido minha melhor amiga de volta, mesmo que as perguntas não fossem sobre maquiagem, garotos ou uma série nova.
- Eles têm matindo você num cativeiro no fim do mundo, não é? Eles tem batido em você, há quanto tempo você não come?
Claire meio que me revistava, como uma mãe quando o filho esteve em uma situção de "perigo", para saber se está tudo bem.
- Não, Claire. - Me sentei numa grande pedra que havia ali, e Claire se sentou ao meu lado. - Eles... - Fiz uma menção às vans. - Os garotos, eles moram numa mansão. Eu tenho um quarto só para mim. E uma Tv. Com uma conta da Netflix.
Claire me ouvia, com uma expressão estranha no rosto.
Contei sobre Christian, sobre Justin e sobre os meninos. Da casa, das empregadas e da rotina na mansão. Da Madison, do Carter e da relação dela com Justin. Do jantar, das roupas no closet, da piscina. Tudo. Claire, às vezes me interrompia, para perguntar alguma coisa, que eu respondia.
Eu não contava as coisas para ela igual uma melhor amiga conta para a outra que conheceu um garoto novo. Eu contava como se tudo na minha vida, agora, fosse indiferente. Como se nada mudaria se eu acordasse amanhã ou não.
Por mais que eu já tivesse falado, Claire quis voltar a um ponto de toda essa história: Justin e eu.
- O que você quer saber? - Eu disse.
- Tipo, qual a relação de vocês?
Dei de ombros.
- Não existe relação. A gente quase não se fala. O pouco que ele conversa comigo é pra falar alguma merda.
- Tem outras garotas na casa? Quer dizer, tem outra garota sequestrada?
- Ahn...não. Mas vira e mexe tem outra garota lá me olhando de cima a baixo como se aquilo fosse uma competição. Como se eu quisesse estar ali.
- E o Christian?
- A gente é meio que amigo. Ele que vai no meu quarto, pergunta se eu quero alguma outra coisa. - Eu dei uma risadinha pelo nariz. - Outro dia ele levou pizza para mim.
Eu e Claire ficamos em silêncio por alguns segundos, que pareceram eternos.
- Ele disse para você se vai te soltar? Quando vai te soltar?
- Não. Ainda... ainda não conversamos sobre isso. E acho que nunca vamos conversar. Pode ser amanhã. Do mesmo jeito que pode ser que eu nunca mais saia daquela casa. O Justin é... imprevisível.
- No... no dia que você me ligou, e disse, mais ou menos, o que estava acontecendo, eu liguei para a polícia e a única coisa que consegui dizer foi "Alô?" e depois que a mulher perguntou qual era minha emergência, eu disse "A minha melhor amiga foi sequestrada" e parei por aí. Porque, no fundo, eu não sabia onde você estava, não sabia o que tinha acontecido direto e você havia me pedido para eu não ligar para a polícia. Eu não havia nada. Só havia uma mulher no outro lado da linha falando "Alô?" e perguntando por uma tal de "senhora", quando eu só tenho 19 anos. Alguma coisa havia mudado do dia que você sumiu até o dia em que você me ligou. Mas ninguém sabia o que era. Então, quando você me ligou, em vez de eu ficar aliviada, as coisas só pioraram. Porque eu sabia que você estava viva. E que estava sofrendo nas mãos de um criminoso.
Eu não consegui mais ir trabalhar, e até a rotina lá de casa mudou. Meu pai ficou mais apreensivo, e passou a ser mais carinhoso comigo ao ver a situação que seu pai estava. Depois que você me ligou, eu meio que mudei para a sua casa, para ficar perto de sua mãe. O seu pai, ele não vai mais para a empresa, mas também não fica em casa, pois não consegue encarar sua mãe e continua achando que a culpa de tudo que está acontecendo é dele. E a sua mãe... ela emagreceu muito, ela quase não come mais, e só chora. Reza e chora. Todos precisavam que você volte para casa, Mandy.
Eu chorava. Não conseguia encarar Claire. Então só encarava o horizonte e chorava. As lágrimas escorriam pelas bochechas.
- Eu pensei muito no que você me disse, no que nós poderíamos tentar. Eu não sei se vai dar certo, mas é a única chance que temos.
Nesse mesmo momento, Ryan saiu da outra van e bateu a porta, fazendo eu e Claire levarmos um susto e levantarmos num pulo. O garoto usava boné e óculos, e me senti pior do que já estava ao me lembrar do dia em que reencontrei ele no metrô.
- Amanda! Vamos embora!
- Amanda, olha pra mim... - Claire me pegou pelos braços e me fez ficar de frente para ela. - Eu sei que o que eu vou te dizer agora parece loucura mas pode dar certo. É o seguinte...
Claire falava, falava e falava. E eu apenas ouvia. Por mais que tudo que ela me dizia parecia loucura, podia dar certo. Só precisava que eu fizesse tudo certinho.
Quando ligaram as vans, Claire apressou a fala, e eu soube que nosso tempo era curto.
- Eles vão vir atrás de você! De novo! - Questionei.
- Eu sei o que estamos fazendo. Vai dar tudo certo. De onde você tem me ligado? Vamos tentar manter contato. - Assenti.
- Amanda! - Ryan gritou de novo. - Você vai vir ou vou precisar ir te buscar?!
- Vai lá. - Disse Claire, me abraçando. - Não esquece tudo o que eu te disse. Vai dar tudo certo.
Era extremamente difícil deixar Claire para trás. Mas como tudo que já havia acontecido, eu sabia que era o que tinha que fazer. Entrar naquela van e voltar para Atlanta parecia fácil, mas nada se comparava com deixar a melhor amiga com um plano maluco para trás. Ela era a única coisa que eu tinha no momento. A única coisa de várias que já tive, a única coisa que ainda parecia real perto das outras coisas que, agora, pareciam ter se desconectado e destruído toda minha história.
Naquela volta para Atlanta, depois de tudo que havia acontecido, era como se nada que eu tivesse vivido nos últimos 19 anos existisse. Se Justin me deixasse ir, agora, eu voltaria para casa sem a história da minha própria vida. Apenas querendo construir meu futuro.*********************************
Sorry pela bad mas escrevi o final desse cap. ouvindo Story of My Life da OneD. 💔
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sirens // j.b
FanfictionSua boca era o lugar onde eu encontraria o sorriso mais lindo de todos. Seus olhos, o endereço de um mar cor-de-mel brilhante. Seu corpo, cheios de tatuagens, algumas estranhas, outra lindas, de hipnotizar o observador. Mas suas mãos... elas estavam...