Capítulo 1

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Sam

Desde pequenos, Sammy e eu fomos sempre muito próximos, como verdadeiros melhores amigos são. Eu a conheço melhor do que ela mesma, conheço cada movimento seu, cada risada e expressão facial dela, conheço quando está braba, chateada ou triste, conheço cada parte dela que nem a própria conhece. Sei desvendar cada olhar seu, como se para mim fossem claros como água cristalina. Seu modo de agir e de falar me encantam, o jeito como Sammy faz parecer tão fácil as coisas, como ela se ergue tão rápido depois de uma queda. Sammy sempre foi minha força interior, aquela que sempre precisei ter, ela me dá a coragem, o apoio e a esperança de que sempre tudo acabará bem no final.

Se não fosse por Sammy, eu não seria a pessoa que sou hoje. Devo minha vida a ela, e acredite, eu a daria se precisasse. Adorava quando éramos menores, quando ela pulava a própria janela do quarto para invadir o meu, ficávamos os dois encolhidos em baixo das cobertas assistindo a filmes de terror, não sentia medo, porque parecia que enquanto Sammy estivesse do meu lado, nada poderia me dar medo, nada poderia me assustar. Tendo ela em meus braços, dormindo depois de assistir ao filme, com seus cabelos pretos espalhados pelo travesseiro, sua face tão serena como a de um anjo, me trazia a calmaria.

Sammy é a luz que ilumina o fim do túnel. É a pessoa que mais amo no mundo inteiro.

Está noite lá fora, os grilos cantando harmoniosamente no jardim, a lua no céu iluminando meu quarto. Pela janela que fica do lado da minha cama, posso ver a casa de Sammy, as luzes parecem apagadas, mas há um pequeno facho de luz atravessando as cortinas cor de vinho, então fico pensando no que ela poderá estar fazendo agora. Será que está vendo um filme de terror? Pode estar lendo algum romance do Nicholas Sparks ou escutando suas músicas preferidas de rock.

Me viro de barriga pra cima e puxo as cobertas até meu pescoço, tento relaxar meus olhos. Meu quarto é pequeno, de um azul escuro, cheio de pôsteres de banda como Metálica e Gun's Roses. Minha cama fica perto da janela onde Sammy costumava entrar até ser descoberta pelos pais, que a pegaram tentando escalar a árvore. Do outro lado do quarto, em frente a cama, tenho minha estante cheia de livros de ficção, troféus e medalhas que ganhei por jogar no time da escola.

Escuto um barulho vindo de fora do quarto, como se alguém estivesse tentando subir pelo telhado e entrar aqui dentro. Os movimentos parecem ser suaves, calmos, por um momento penso que pode ser Sammy.

Olho para a janela, em direção ao barulho, vejo uma garota de cabelos longos se esgueirar sobre. Sua sombra magra e o cheiro de flores me fazem ter a certeza de que é Sammy quem está ali.

-Sammy? - pulo da cama, deixando as cobertas meio caídas ao chão. Ela entra por inteiro, finalmente em meu quarto. - O que está fazendo aqui?

-Ah, qual é Sam. Só queria fazer como nos velhos tempos, lembra? - ela abre um sorriso sombrio, pois as sombras da noite marcam seu rosto.

Agora que acendo as luzes posso vê-la melhor, ela está de cabelo solto, um preto bem escuro, está de pijama, uma camisola. Por Deus, ela subiu até aqui de camisola? Seus olhos azuis me olham fixamente, esperando que eu diga algo.

-Lembro sim. - e lhe dou um sorriso. Estou apenas de cueca box preta, sem camisa. Percebo que seu olhar percorre por meu abdômen, ela nota e desvia seus olhos para o chão.

-Pensei em assistirmos a algum filme de terror, o que acha? - sua sobrancelha esquerda se ergue e um brilho passa em seu olhar, seus lábios se curvam e uma covinha muito atraente aparece.

-Ham...tudo bem, o que vai ser? - falo. Não entendo porquê Sammy está aqui, faz tanto tempo que não fazemos esse ritual. Quero lhe perguntar o que aconteceu, pois sei que algo está errado, mas sinto que ela não irá me contar, ao menos não agora. Talvez ela apenas precise de um tempo.

-Tá, mas antes de assistirmos o filme, vê se coloca um calção ao menos. - ela pega o calção que está jogado ao chão, perto da janela e me estende. Minhas bochechas ficam vermelhas, por isso pego o calção de suas mãos. Ela ri da minha cara e pega o notebook para procurar algum filme bacana.

Assim que me visto volto a desligar as luzes e me sento ao seu lado na cama. Ela está procurando em algum site online o filme e acaba encontrando um que chama sua atenção. "Jessabella: O Passado Nunca Morre".

-Deita aí Sam, eu boto o filme pra carregar - me deito na cama, por baixo das cobertas, esperando que ela se deite ao meu lado. Ela conecta o notebook pela televisão que está a parede e aperta o play, logo ela se deita ao meu lado.

Sammy entrelaça nossas pernas, sua cabeça pousa com cuidado em meu braço estendido no travesseiro, sua mão em meu peito, a respiração calma, o coração batendo em batidas aceleradas. Tento ignorar o fato dela estar deitada em minha cama apenas de camisola. Faz quase quatro anos que não fazemos mais isso, era tão bom poder recordar todas aquelas noites em que passamos juntos, onde eu dormia com o perfume de Sammy me envolvendo e acordava com ela me fazendo cócegas nos pés.

Agarrados um no outro, assistindo ao filme de terror, meus braços a apertando toda vez que ela tremia de medo, meus dedos acariciando sua cabeça para mantê-la tranquila, para lhe mostrar que ao meu lado estava protegida.

Seu corpo parecia tenso, mesmo sua face estando serena. Alguma coisa estava errada com Sammy, e uma preocupação enorme em relação a ela se instala em meu peito. O que quer que tenha acontecido, quero que ela saiba que tudo irá ficar bem, que sempre terá meu apoio.

Depois de quase duas horas assistindo ao filme, Sammy pega no sono em meus braços, beijo o topo de sua cabeça e fecho os olhos. Como nos velhos tempos.

Sammy & SamOnde histórias criam vida. Descubra agora