Capítulo 27

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Sam


Depois de quase termos feito amor, não consigo deixar de pensar em como eu a quero e o quanto doi não a ter por um todo. Mas por mais que eu sinta a vontade de possui-la, vou esperar. Ela precisa confiar em mim para fazer isso, mas ela sabe que serei carinhoso, acho que o problema está em que realmente temos que conversar sobre os problemas que nos rodeiam.

-Você quer voltar pra casa? - lhe pergunto, enquanto ela põe o moletom que a poucos instantes tirei.

-Não. - ela diz com certeza na voz. - Não quero voltar nunca mais se puder.

-Sammy. - ela para repentinamente de colocar os tênis agora, e me olha com certa impaciência. - Vai me contar o que aconteceu?

-Agora? - suas sobrancelhas se erguem. Faço que sim com a cabeça e ela parece se render. - Está bem. Acho que está na hora de contar toda a verdade.

Nos sentamos na cama bagunçada e ali ficamos, um olhando pra cara do outro, esperando que alguém diga uma palavra se quer. E hoje, quero que Sammy comece.

Ponho a palma da minha mão em cima de sua perna e lhe ofereço um sorriso torto. Ela não está nem um pouco a vontade, mas sabe que é o certo a se fazer.

Mais alguns minutos se passam, o silêncio parece aumentar entre nós. Então Sammy abre a boca e sua voz parece compensar todo esse tempo em que esteve calada.

-Tudo começou quando eu estava indo para o meu quarto, já que minha mãe iria fazer uma reunião com suas amigas. Aquele lance de Clube do Livro, ela levou super a sério isso. - por uma fração de segundos, Sammy parece rir, mas logo sua expressão retorna ao normal. - E no caminho, eu vi meu pai no quarto falando ao telefone, mas ele não estava normal. Aquele dia, daquele mês, era a primeira vez que eu o via depois de uma longa viagem a trabalho dele, você sabe como ele se importa, como sempre se importou mais com isso do que com qualquer outra coisa, incluindo eu.

Já havia reparado nisso antes. O pai de Sammy, era o pai mais ausente que eu já conheci na vida. Sempre trabalhando, fazendo viagens de negócios e muito pouco tempo pra ficar com a família, mas mesmo por isso, eles eram uma família unida, nunca escondiam nada uns dos outros.

-Não é verdade Sammy. Você sabe que ele te ama. Ele é o seu pai e que pai não ama a filha? 

-Que tal o meu? - os dentes cerrados impedem que as lágrimas caiam.

-Por que tá falando isso? - pergunto, indignado.

-Porque eu podia esperar tudo do meu pai, mas isso que ele fez foi... horrível. - ela grita e uma lágrima cai.

-E o que ele fez?

-Ele... - Sammy aproxima sua boca de meu ouvido, e desmembra as palavras até agora presas em sua garganta.

Quando ela termina de falar, fico sem reação. Não sei se grito, se a envolvo em meus braços ou sei lá. Quero socar a cara do pai dela por ser um grande covarde.

Apenas a abraço como nunca a abracei em toda a minha vida. Suas lágrimas encharcam meu moletom que abafam seus soluços. As mãos tremem demais, frias.

-Obrigada. - ela me diz.

-Pelo que?

-Por não dizer que sente muito.

-Eu acho, que nada que eu diga irá poder mudar em relação ao que você sente e ao que ele fez.

-Você tá certo. Nada pode concertar esse erro.

-O que vamos fazer? Você não quer voltar pra casa e...

-Quero que você me leve até aquela cidade. Lá terei respostas.

-Não Sammy! Pra que?

-Quero respostas Sam! Acho que mereço tê-las.

-Merece. Claro. - pisco, confuso. - Mas você podia simplesmente perguntar para seu pai.

-Não. Ele é a última pessoa de quem eu quero ouvir respostas.

-Não tenho mais meu carro. O perdi no acidente.

-Ah é. Droga! - ela bate os punhos cerrados nas pernas. - Podemos alugar um.

-Com que dinheiro?

-Sam! Eu não sei!

-Tenho dinheiro guardado no meu quarto. Mas como vou pegar sem ser visto?

-Não vamos fazer isso. Temos que achar outra maneira de conseguir dinheiro.

-Ah não ser, que a gente vá de ônibus.

-Não, vai ser horrível. Vai demorar muito mais do que de carro.

Nós dois ficamos em silêncio por alguns minutos, antes de uma ideia invadir minha cabeça.

-Tá, tenho um plano. Escuta.

Não sei se irá dar certo o que tenho em mente. Espero que sim. É arriscado, mas precisamos do dinheiro e de respostas. Tudo o que temos agora são perguntas, nenhum centavo e um ao outro, a única coisa que parece fazer sentido nessa história toda.

Assim que termino de explicar o plano, me empenho em fazer Sammy concordar com essa loucura. Quando por fim seu aceno de cabeça confirma a resposta, traçamos uma estratégia que com certeza pode pôr tudo a perder.

Quando saímos do quarto de mãos dadas e cheios de olhares e sorrisos apaixonados, Helena nos olha desconfiada.

-O parque de diversões estava animado hoje, em. - sua cara séria aparece por entre os bordados que ela mesma costurou.

Sammy e eu rimos ao mesmo tempo.

-Não estávamos fazendo aquilo que você está pensando. - Sammy fala.

-Vou fingir que acredito. - Helena dá uma piscadela para mim e volta a se concentrar em seu croché.

-Nós vamos voltar pra casa. - falo, mais para mim do que para Helena.

-Vão é? Mas que ótimo! - Helena vem ao nosso encontro e nos envolve em um abraço maternal. - Só me prometam, de que não irão se esquecer de mim. Prometam de que irão vir me ver quando puderem.

-É claro Helena. - Sammy diz. Sei que ela está com um peso no coração por ter de mentir para Helena. - Obrigada por tudo, mesmo. Você é como uma mãe pra mim.

-Querida. Quanto chororo, não é mesmo? Até parece que esse é um adeus. Saiba que essa mulher aqui, ninguém derruba. - sua risada ecoa por toda sala de estar, os olhos marejados.

-Se cuida. - Sammy beija a mão de Helena.

-Você também querida. E você rapaz, trate de cuidar bem dela. Vocês são um lindo casal.

-Pode deixar Helena.

Sammy & SamOnde histórias criam vida. Descubra agora