Capítulo 3

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Sammy

Não posso acreditar que papai fez isso comigo, com mamãe, com a nossa família. Ele é um estúpido completo, o que ele acha que ganha fazendo essas coisas? Pensei que ele nos amasse, mas pelo jeito me enganei.

Quer dizer que todos esses anos, esses dezoito anos, eu fui enganada? Papai enganou a todos nós, bem de baixo de nossos narizes por todo esse tempo?

A gente era a família perfeita, aquela onde sempre fazia as refeições juntos ao redor da mesa, que discutia os problemas sentados na sala de estar, que sempre contava tudo, não existiam segredos entre nós três. Não até agora.

Deveria contar para mamãe o que descobri, mas tudo isso causaria uma grande revolta e não estou pronta para enfrentar tudo isso, preciso de um tempo, preciso fugir. Sei que depois do que soube, nunca mais irei conseguir olhar para meu pai novamente, ou seria canalha? Seja como for, ele destruiu toda a imagem que tinha dele, destruiu tudo isso em apenas cinco segundos.

Não sei para aonde eu vou, só sei que vou para bem longe deste homem. Mas antes de ir, quero me despedir de Sam, não o direi o que aconteceu, não estou pronta para isso, apenas irei até sua casa e ficaremos embaixo das cobertas vendo um filme de terror, como nos velhos tempos.

Agora devem ser dez horas, o canalha do meu pai deve estar lá embaixo com minha mãe vendo televisão, fingindo que nada aconteceu, mas eu não sou ele para fingir tão bem.

Pego minha mochila da escola e enfio dentro algumas roupas, calças jeans, meias quentinhas, moletom, perfume, dinheiro, e tudo o mais que preciso. Visto minha camisola de seda clarinha e desço pelo telhado da minha casa até um salgueiro que tem longos galhos que chegam até ao meu alcance, do outro lado do salgueiro é a casa de Sam e para a minha sorte, a árvore também vai com seus galhos até o telhado dele. Eu costumava fazer isso quando era pequena, era o nosso ritual. Toda sexta a noite nós nos encontrávamos na casa de Sam, íamos para seu quarto e víamos algum filme bem assustador. Hoje vamos repetir a dose, depois de muito tempo.

Escalo o telhado da casa de Sam com o mesmo cuidado que fazia quando era mais nova, vejo que não perdi a prática. As luzes estão apagadas, deve estar na cama já, mas se o conheço, ainda está acordado, pensando. Jogo a mochila no telhado, para quando sair ela estiver ao meu alcance e quando estou quase dentro de seu quarto, escuto sua voz.

-Sammy? - agora que entro posso ver que ele está apenas de cueca. - O que está fazendo aqui? - ele parece bem surpreso por me ver.

-Ah, qual é Sam. Só queria fazer como nos velhos tempos, lembra? - era em parte verdade, sentia saudades de fazer essas coisas com ele, de dormir ao lado dele. Mas em outra, eu apenas estava ali para um último adeus. Lhe dou um sorriso e ele acende as luzes do quarto.

Posso ver o contorno dos seus músculos agora, tento não reparar no quanto ele parece ser forte. O olho bem nos olhos, esperando que ele me diga algo.

-Lembro sim. - ele abre um sorriso irradiante, capaz de derreter meu coração. Queria poder lhe contar, mas não estou pronta para isso.

Meu olhar percorre por seu abdômen bem definido, aquela pele morena, os braços musculosos e, quase solto um suspiro mas me detenho. Assim que vejo que ele percebeu que o admirava, desvio o olhar para o chão.

-Pensei em assistirmos a algum filme de terror, o que acha? - minha sobrancelha se ergue e não posso evitar de sorrir para ele.

Sam é tudo para mim, ele sempre me apoia em tudo, ele sempre foi tudo o que procurei em um homem para mim. Sam não sabe, mas eu o amo com todas as minhas forças, mas por medo de estragar nossa amizade e dele não sentir o mesmo, fico quieta e trato de fazer com que esse sentimento seja reprimido por mim.

Mas como não se apaixonar por ele? Como? Como não se apaixonar pelo seu sorriso, pelo seu olhar, pela sua voz? Como não se apaixonar pelo seu jeito de me abraçar e de me fazer feliz? Como não se apaixonar por Sam se ele é completamente apaixonável?

-Ham...tudo bem, o que vai ser? - a voz dele me faz acordar dos meus pensamentos e por Deus, como posso dormir ao seu lado com ele estando apenas de cueca?

-Tá, mas antes de assistirmos o filme, vê se coloca um calção ao menos. - ajunto o calção que está jogado perto da janela e lhe entrego. Suas bochechas ficam vermelhas e ele pega o calção estendido. Rio da cara dele e pego o notebook em cima da escrivaninha.

Me sento na cama dele e enquanto Sam veste o calção procuro por um filme bacana em algum site online. Assim que acho, ele se senta ao meu lado, o cheiro do seu perfume invadindo meu nariz.

-Deita aí Sam, eu boto o filme pra carregar - ele se deita e eu conecto o notebook com a televisão. Aperto no play e me jogo ao seu lado na cama.

Entrelaço nossas pernas e pouso minha cabeça em seu braço estendido em especial para mim, boto minha mão em seu peito sentido ele subir e descer e algo a mais, seu coração bater acelerado. Sei que o meu também está e é tão bom saber que o dele reaje como o meu quando estamos pertos. Sua respiração em meu ouvido me causam arrepios enormes, desde os pés até o fio de cabelo. Sentir que estamos conectados é maravilhoso, mesmo não sabendo o que Sam sente em relação à mim.

Tento prestar atenção ao filme, mas apenas consigo me concentrar nos mehores momentos. Sam deve estar pensando que estou com medo, porque estou tremendo e ele não para de me apertar toda vez que isso acontece, realmente estou com medo, mas medo do que pode acontecer por causa do que descobri.

Me parte a alma saber que essa é nossa despedida, só espero que Sam possa me perdoar por abandoná-lo. Se ele soubesse de tudo, do que descobri, do que sinto, talvez houvesse uma chance de as coisas darem certo, mesmo assim, não posso botar tudo a perder. Tenho que fugir.

Antes mesmo de o filme acabar, fecho os olhos, não durmo, apenas fecho os olhos. O filme acaba e sinto Sam beijando minha testa, seus lábios quentes e macios em contato com minha pele. Tento relaxar e dormir, mas Sam é a única coisa que vêm ao meu pensamento.

Sam, meu Sam.

Quando acordo já são quase cinco horas da manhã, dormir nos braços de Sam é como dormir em uma nuvem fofinha. O olho de novo e inspiro seu aroma adocicado, tento prestar atenção em cada detalhe seu, o cabelo meio caído na testa, a expressão relaxada e o formato de seus lábios carnudos.

Lhe dou um leve beijo no topo de sua cabeça e saio devagarinho de sua cama, tentando não fazer barulho. Sei que quando ele acordar estranhará por não acordá-lo com um ataque de cócegas nos pés e estranhará muito mais em ver que não estou mais ao seu lado.

Pulo a janela de seu quarto novamente e me viro em sua direção uma última vez.

-Adeus Sam.

Sammy & SamOnde histórias criam vida. Descubra agora