Capítulo 13

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Sammy

No dia seguinte Landon apareceu novamente na casa de Helena, ele estava diferente, na verdade ele ficou assim desde ontem quando tivemos aquela conversa no parque. Sua expressão que antes era calma, agora é de preocupada.

-Bom dia, senhoritas. – Landon faz uma reverência para nós duas, como se fossemos damas.

-Por favor Landon. – Helena sacode as mãos, debochando da performance dele. – Você sabe que não sou mais senhorita. – Landon ri, logo após Helena também, o que me resta é me juntar a eles.

-O que você trouxe? – aponto para o jornal em suas mãos. Ele coloca o jornal em cima da mesa e apoia as mãos em cada canto.

Hoje estava mais quente do que ontem, a brisa era leve e os passarinhos cantavam lá fora, um dia perfeito para passear no parque. Se Sam estivesse aqui, com certeza estaríamos lá fora agora, nos jogando em montes de folhas avermelhadas caídas ao chão.

-É o jornal de hoje, fala sobre o acidente que houve por aqui perto. – meu coração acelera, como se fosse saltar de minha boca. Ele abre a primeira página e ali está, a foto de uma camionete toda destruída na frente. – Olha como ficou essa camionete, não sei como alguém pode sobreviver depois de sofrer um acidente desses.

A camionete estava com o vidro todo estilhaçado, podia-se ver até o sangue em alguns cacos que caíram no capô. Então meus olhos começam a correr por entre as linhas abaixo da foto, até encontrarem o nome: Sam Evans. Uma dor muito forte em meu peito me faz se arquear de dor, era como se meu coração tivesse sido apunhalado por uma espada. Landon, que está ao meu lado, logo me agarra e me leva até o sofá.

-O que houve Sammy? – algumas lágrimas já estão rolando montanha abaixo, outras estão presas em minha garganta.

-Sam. – é tudo o que consigo dizer. É o meu Sam, o menino que me protegia e que sempre esteve ao meu lado.

Sam sofreu um acidente de carro. Sam está no hospital. Sam pode morrer. A culpa é toda minha.

Se eu não tivesse fugido, se tivesse lhe contado, se tivesse sido forte e corajosa o suficiente para ter lhe contado. Não. Não fiz nada disso. Fugi.

-Sam. Meu Sam. Sofreu. Um. Acidente. – entre soluços e lágrimas, desespero, agonia, o que veio depois foi apenas a escuridão. 

***

Acordo.

A primeira coisa que vejo são dois pares de olhos verdes me encarando. Landon. Tento me levantar do sofá sozinha, mas pareço ainda estar um pouco tonta, ele me ajuda a se sentar.

-O que houve? - pergunto. Minha cabeça parece estar sendo rachado por uma machado. Ponho a mão onde está doendo, fazendo cara feia.

-Você desmaiou. - Landon se ajoelha a minha frente, parece preocupado. 

Helena surge da cozinha com uma xícara em mãos, provavelmente deve ser algum chá.

-Ah, você acordou. - ela parece surpresa.

Bufo, e uma mexa do meu cabelo cai sobre meu olho.

-Como se sente? - ela entrega a xícara para mim. 

-Minha cabeça dói. 

Como em um filme, as cenas do que aconteceram antes do desmaio passam por minha cabeça. Lembro da notícia, do acidente de carro e da culpa.

Tomo um gole do chá de camomila, queimando os lábios e afastando a xícara. Landon ri de mim e eu reviro os olhos. Astro está acomodado na poltrona de Helena, no meio de uma caixinha de lãs e agulhas de tricô. Seu rabo balança e seus grandes olhos me fitam, curiosos.

-Você desmaiou Sammy. Estou preocupada com você. Desde que você chegou aqui, passa mal, desmaia, tem crises, começa a chorar do nada. - Helena tem razão, e o pior de tudo, é que eu sei o motivo de tudo isso estar acontecendo. - Você tem que voltar pra casa. Para Sam.

E como eu queria, queria voltar para Sam. Não posso mais suportar, a solidão da sua voz, o seu cheiro, eu preciso sentir as mãos dele nas minhas. Preciso sentir que ele é real, que tudo o que vivemos foi real. Até onde posso ir sem Sam do meu lado? 

Algumas pessoas não entendem qual o significado do amor, como ele funciona, porquê as pessoas acreditam e sofrem por causa dele. Acontece que o amor não foi feito para sofrermos, ele também não foi feito para sorrir. O amor não é para os fracos e nem para os corajosos. O amor é para aquele que realmente acredita que pode ser feliz para sempre com alguém ao seu lado, o amor nada mais é do que aprender a dividir os prazeres, os momentos, as tristezas com alguém. É aprender a caminhar de mãos dadas sobre uma corda bamba, porque se um dos dois perder o equilíbrio de um lado, o outro também perderá. Se um se machuca, o outro também se machucará. Tudo o que se faz de um lado, haverá consequências no outro.

É assim que funciona comigo e com Sam.

-Não posso voltar pra casa Helena. - meus olhos embaçam.

O que mais preciso é de compreensão. Não posso voltar pra casa agora, não tenho coragem de enfrentar minha mãe, principalmente meu pai. Depois do que descobri, acho que jamais conseguirei perdoá-lo. 

Se é verdade tudo o que descobri, se é verdade que Sam sofreu aquele acidente de carro, então eu preferia que meu pai estivesse no lugar de Sam. Não é justo isso, Sam pagar por um erro que não tem nada a ver com ele. Quem deveria ter batido o carro em um caminhão e estar no hospital nesse momento, deveria ser meu pai, não Sam. 

A vida nunca foi justa comigo, com ele muito menos. Mas isso é demais. Por que justamente com ele? A pessoa que mais amo nesse mundo inteiro. Até onde posso ir com toda essa dor dentro de mim? Quando essa represa irá estourar de uma vez por todas?

-Sammy, eu sei que você não quer voltar por causa de seu pai, mas olhe o que aconteceu com Sam. Você não acha que essa história já deu o que tinha que dar? - algumas lágrimas caem, dessa vez estou mais controlada, não estou conformada, só não quero me desesperar na frente deles outra vez.

-Não Helena, vou ficar mais um tempo. - esta é minha decisão final. - Landon. - ele ainda está ajoelhado a minha frente. - No jornal, por acaso cita o nome do hospital em que ele está?

Ele levanta, indo até a mesa da cozinha pegar o jornal. Ele me entrega o jornal, seu dedo apontando para o nome do hospital. Não sabia onde ficava.

-Onde fica? 

-Não fica muito longe daqui, acho que uns vinte minutos de a pé. 

Agora era só por meu plano em prática. Vou visitar Sam, ver como ele está. Tudo isso escondido, claro. Não quero que a mãe de Sam me veja, ou qualquer outra pessoa que possa me conhecer.

-Será que você pode me levar até lá? - ele arregala os olhos, surpreso.

-Claro.

Helena faz cara de reprovação.

-Você vai ir vê-lo? Escondida? - faço que sim com a cabeça. - E se alguém te ver?

-Ninguém vai me ver.

Tomo todo o chá, que agora está frio e ponho a xícara em cima da mesa de centro. Landon se levanta para me dar passagem. 

-Vamos Landon? 

Assim, seguimos rumo ao hospital.

Vou observar, vou cuidar os horários em que sua mãe o visita, e quando ela abrir uma brecha para mim, vou ir vê-lo. Quero saber quantos estragos o acidente lhe provocou. Quero saber como está meu Sam.

Sei que tudo isso é culpa minha, eu realmente deveria me manter afastada dele. Agora está mais que comprovado que eu sei apenas machucar as pessoas que amo.

Sammy & SamOnde histórias criam vida. Descubra agora