Capítulo 7

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Sammy

Tudo está errado.

Eu ter descoberto a verdade e ter fugido de casa. Escapei na expectativa de poder esquecer, mas não posso, não quando as palavras dele ainda ecoam na minha mente. Só espero que agora ele esteja carregando um baita peso na consciência.

Uma hora terei de voltar, não posso ficar aqui para sempre, preciso viver, preciso enfrentar e não fugir, fui covarde em tomar tal decisão. Preciso de Sam e me arrependo por não ter contado nada a ele, ele deve estar que nem um louco atrás de mim e tudo o que eu quero é pedir perdão.

Parece que meu papel de durona caiu montanha abaixo.

Helena, agora sabia seu nome, - ela me disse durante o almoço que nós duas fizemos juntas, que ficou ótimo - estava na cozinha preparando um bom café preto e procurando alguns biscoitos para comermos ao redor do fogão a lenha.

Descobri que ela tem dois filhos, os dois se mudaram para Los Angeles depois de se formarem, a deixaram sozinha. Com quase oitenta anos nas costas, Helena era forte e saudável e não se deixava abater pela solidão e pela falta que seus meninos deixaram após partirem. Até Helena é bem mais forte do que eu.

-Pronto, achei aqueles biscoitos de amendoim, já provou? São uma delícia - ela ergue as sobrancelhas e me estende um pratinho cheio de biscoitos.

-Não, nunca provei. - pego um deles e dou uma mordida. O gosto do amendoim preenchendo minha boca me fez salivar. - Uau, isso é muito bom. - ela solta um sorriso e se senta na cadeira, pondo os biscoitos na mesa.

-Eu te falei. - pego o meu café e tomo um gole, o quente descendo por minha garganta, esquentando meu interior. - Então Sammy, eu descobri muita coisa de você, mas você se esqueceu de me contar duas coisas - ela me mostra dois dedos da mão. - Primeiro, você não me disse o que descobriu de seu pai, mas entendo que não é a hora de você me contar - solto um alívio por saber que ela não irá me obrigar a tal coisa, mas fico tensa em querer saber  qual será a próxima coisa. - Segundo, quem é Sam?

Acabo errando a mordida do biscoito e mordo meu lábio inferior, sinto o gosto metálico do sangue e passo a língua. Meus olhos piscam sem parar enquanto minha mente tenta raciocinar o que ela me perguntou.

-Ham... Sam? - pouso a xícara na mesa junto com o meu biscoito de amendoim e junto minhas mãos sobre o colo. - Bom...

-É o garoto que você gosta, não é? - eu me encolho na cadeira e abaixo a cabeça, para ela não ver que as lágrimas estão caíndo outra vez. Helena se aproxima de mim e segura minhas mãos frias junto com as suas que estão quentes.

-É, Sam é o menino que eu gosto. - nunca contei pra ninguém o que sinto por Sam, tenho vergonha e medo de que ele descubra e que nossa amizade acabe.

-Quer falar sobre ele? Eu adoraria saber. - seu rosto tão suave, mesmo com quase oitenta anos ela é linda. O tempo foi generoso e parece que ainda posso ver um pouco de sua juventude através de seus olhos.

-Sam é meu melhor amigo, meu vizinho e a pessoa mais importante da minha vida. - sinto um aperto em meu peito, um vazio.

-Se ele é tão importante pra você, por que fugiu dele também? - ela está certa, ao fugir de meu pai eu também fugi de Sam.

-Não sei. - ela faz um sinal com as mãos para prosseguir. - Nos conhecemos desde que nascemos, fazemos aniversário até no mesmo dia, - solto uma risadinha. - temos os mesmo gostos e até tínhamos um ritual. A gente via filmes de terror toda sexta a noite, dormíamos juntos e de manhã eu era sempre a primeira a acordar, por isso eu o acordava com cócegas, começava nos pés, que é onde ele mais tem. - lembrar daquilo era como viver aquelas cenas outra vez.

Sammy & SamOnde histórias criam vida. Descubra agora