Capítulo 20

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Sammy

Saio correndo do hospital, atravessando a rua sem olhar para os lados, minha única vontade é de estar bem longe de Sam. Agora que ele acordou, não posso mais me aproximar, provavelmente ele vai voltar para casa em alguns dias.

Não é que agora eu já não queira mais ficar com ele, é que as coisas estão tão complicadas, ele está se recuperando e a polícia deve estar atrás de mim. Não quero voltar para casa ainda, preciso de mais um tempo sozinha, para pensar no que disse a Sam.

Não me arrependo de nada do que disse, sinto um enorme alívio por finalmente ter dito a ele, mesmo que ele não tenha escutado tudo... ou talvez nada.

O vento parece cortar meu rosto, respirar parece rasgar meus pulmões, uma ardência interna percorre por todo o meu ser. Corro tão rápido que nem me dou conta de que esbarrei em um menino que estava passando na calçada, só me dou conta disso quando já estou sentada ao chão, voltando a droga da realidade.

-Desculpa... - ele estende a mão para me ajudar a se erguer. O menino está de capuz, não consigo ver seu rosto pois a rua está escura, apenas há um poste acesso sobre sua cabeça. - Sammy?

Assim que me levanto percebo que o menino cujo esbarrei, é Landon. Fico aliviada por ser ele, porque agora posso ser reconfortada por alguém.

Me aconchego em seus braços, sentido o calor que irradia de seu corpo, ele logo me aquece. E sem fazer se quer uma pergunta, ele me consola ali mesmo, passando os dedos finos e longos pelo meu cabelo.

Depois de quase cinco minutos parados na calçada, ele me pergunta o que aconteceu.

-Sam acordou. - olho diretamente em seus olhos, os seus não me encaram, estão distraídos, parecem tristes.

-Você deveria estar feliz agora. Não queria que seu Sam acordasse? - ele ressalta o seu Sam, como se estivesse com ciúmes do que sinto.

-Claro que queria e, eu estou feliz por ele finalmente ter saído do coma, só que... - faço uma pausa, baixando o olhar.

Seu dedo indicador ergue minha cabeça, para que ele possa me ver.

-Só que... - ele repete, esperando minha resposta.

-Nada. Não quero mais falar sobre isso. Vamos pra casa. - digo, nervosa. - Só quero ir embora.

Ele assente com a cabeça e seu braço passa por cima de meus ombros. Eu inalo seu aroma, não era tão bom quanto o de Sam, mas ainda assim dava um certo prazer em inspirá-lo.

Será que Landon gosta de mim? Digo, do mesmo jeito que gosto de Sam. Não, é um sentimento muito forte para se dizer isso. Mas o jeito como ele me trata, como me cuida e me toca, é mais do que um amigo.

Não quero que Landon crie expectativas, se é que ele gosta de mim, não quero magoa-lo, ele sabe que amo Sam. Mesmo assim, quando uma pessoa está apaixonada, ela sempre consegue acreditar que tem chances com esse alguém. 

Seguimos para a casa de Helena em um grande silêncio, nenhum de nós se atreveu a falar mais nada durante o caminho.

Assim que chegamos, Landon insistiu para entrar um pouco, mesmo eu dizendo que não era necessário, mas no fim ele acabou entrando.

-Helena? - eu chamo, e ela vem até nós, com uma camisola cor de rosa e uma pantufa da mesma cor, só que mais forte.

-Onde você estava? - seu tom de voz está elevado, ela estava preocupada comigo.

-Desculpe. - ela concorda com a cabeça. - Sam acordou. - um sorriso se abre ao receber minha notícia.

- Mas que bom! - ela me abraça fortemente.

-Harã... acho que vou dormir. Boa noite Landon. - eu me viro em sua direção e beijo sua bochecha, tendo de erguer os pés para alcançar. 

-Boa noite. - ele beija minha bochecha com delicadeza.

-Boa noite Helena. - e beijo o topo de sua cabeça.

Sigo até o corredor e paro no meio quando ouço Helena falar:

-O que há de errado? Ela não me parecia muito feliz.

-E não está. - ele bufa. - Não sei o que aconteceu, ela não quis me contar. Eu estava indo ao hospital buscá-la e ela estava vindo correndo em minha direção quando se esbarrou em mim.

-Estranho, isso é muito estranho.

-Pois é.

-E você? - Helena pergunta.

-O que tem eu? - Landon retruca, com medo.

-Você acha que eu não percebi. - franzo a testa, sem entender o que Helena está querendo insinuar. - Acha que eu não vi o jeito como você a olha? Como parece cuspir fogo quando a houve falar de Sam? Você gosta dela. - arregalo os olhos, chocada.

-Tá bom. - Landon bate as mãos ao lado das coxas e solta um suspiro. - Eu me rendo, tá bem? Eu gosto dela.

Isso não é possível. Eu estava certa, meus pensamentos excessivos não estavam errados. E agora? Não quero magoar ele, mas... sei lá. Tudo isso está muito confuso para mim.

Corro até o quarto na ponta dos pés, para não fazer barulho, fecho a porta devagar e assim que a tranco, me deito na cama. Fico analisando o teto, tentando não pensar em nada mais.

-Alguém vai sair magoado nessa história. - afirmo para mim mesma. 

Quer saber, eu deveria me entregar logo e acabar com esse jogo. Voltar pra casa e contar para minha mãe tudo o que meu pai, se é que posso chamá-lo assim, fez para mim e nossa família. Isto tudo que está acontecendo é culpa dele.

Não, a culpa não é dele. É minha. Não foi ele quem fugiu.

Mas, seu eu voltar, terei de ver Sam. E se ele escutou tudo o que eu lhe disse no hospital? 

Que droga... Por que tudo é tão complicado? A vida deveria vir com um manual de instruções. Só que eu sei, que a vida não é nada complicada, somos nós que a complicamos e que criamos problemas onde não existem. No fim, somos todos encarregados de nossas próprias derrotas, por acreditar que a vida não tem jeito e que as coisas são assim porque tem der assim. Mas o fato, é que cada um é dono da própria vida, e depende de nós tornar possível tudo o que nos parece impossível.

Sammy & SamOnde histórias criam vida. Descubra agora