Sammy
Os dias passavam muito devagar, os ponteiros do relógio pareciam não andar, pareciam estar em um congestionamento. Quanto mais eu queria que chegasse a noite, só para mim poder ficar fazendo companhia para Sam no hospital, mais demorava.
Sam ainda está em coma, de início eu me recusei a acreditar que aquilo era real, mesmo quando a prova real estava a minha frente. Ainda não consigo acreditar, mas não me desespero tanto quanto antes. Agora, dez minutos antes do hospital proibir as visitas, eu vou lá e fico com Sam, ouvindo sua respiração e lhe falando coisas que jamais falei.
Atravesso a rua do hospital e assim que entro, corro para o quarto 221. Abro a porta devagar, como se tivesse medo de acordá-lo, mas Sam não vai acordar se eu abrir a porta. Caminho até sua cama e com ternura beijo o topo de sua cabeça.
-Oi Sam. - mesmo que ele não me responda, eu tenho a esperança de que talvez ele possa me ouvir.
Puxo a cadeira que estava jogada em um canto do pequeno quarto e me sento ao seu lado, entrelaço nossas mãos e observo o quanto elas se encaixam perfeitamente. Um encaixe perfeito. Eu nunca mais vou soltar sua mão.
-Queria tanto que você abrisse os olhos, queria tanto ver o seu sorriso outra vez, ouvir a sua voz... Ah Sam, eu queria que você pudesse me ouvir. - solto um suspiro. - Me desculpe por tudo. Eu queria tanto que você soubesse que eu... - abaixo a cabeça, olhando para meus tênis all star preto. Fecho os olhos e inspiro, soltando devagar o ar. - Eu sempre...
O que há de errado? Por que não consigo dizer que o amo? Eu sempre quis dizer a Sam que o amo, que o quero de todas as formas possíveis. Eu esperei por tanto tempo e talvez eu tenha esperado até demais.
Acaricio sua cabeça, a faixa ainda a cobria. Os ferimentos e hematomas estavam melhorando, mas ainda levaria um bom tempo para o rosto de Sam voltar completamente ao normal. Sua pele ainda era macia ao meu toque.
Acho que tenho razão em pensar que esperei tanto tempo para lhe dizer o que sinto. Queria lhe falar logo, de coração aberto, porque agora, estou pronta para dizer a ele e a todos. Mesmo que Sam me diga que não sente o mesmo por mim, estou disposta a correr este risco. Mas algo me diz que seu coração também me pertence.
Caminho nervosa até a janela do quarto branco e pequeno, cuidando a movimentação da rua, não há ninguém passando a essa hora, tudo está muito quieto, apenas os meus pensamentos não param de gritar em minha cabeça.
Coragem. Preciso de coragem.
Volto ao seu lado, e com a voz tremida meus lábios roçam ao seu ouvido, libertando tudo o que estava preso dentro de mim...
-Sam... eu sei que você não pode me escutar... mesmo assim eu tenho a sensação de que você pode me ouvir, talvez... sei lá. - inspiro profundamente, soltando o ar devagar. - Há tanto tempo eu quero te dizer umas coisas, que eu tenho guardado só pra mim... e talvez agora eu tenha finalmente percebido que eu não posso mais segurar nada do que eu sinto por você...
Minha mão acaricia sua cabeça, enquanto a outra seca algumas lágrimas que despencam, molhando os lençóis que cobrem Sam.
-Desde que éramos pequenos, você sempre me cuidou, me salvou dos perigos, foi meu protetor, meu herói, posso dizer. Acho que nunca te agradeci por tudo de bom que você me fez, pelos momentos mais felizes que você me proporcionou. Nunca em toda a minha vida, encontrei alguém como você... que me apoia-se e me ajuda-se... - pego um lencinho do bolso e assopro o nariz. - Acho que eu só tenho a te agradecer... por tudo.
Uma enfermeira baixinha, de olhos pequenos e pele clara entra no quarto. Ela parece levar um susto ao me ver ao lado da cama de Sam, conversando com ele.
-Desculpe, mas o horário de visitas já passou. - ela fala, a voz doce e calma, mas com uma pontada de ignorância. - Vou ter que lhe pedir para que se retire.
-Será que posso ficar mais um pouco com ele? Só mais cinco minutos? - a expressão da enfermeira fica séria.
-Moça, vou ter que lhe dizer de novo para que...
-Por favor. Eu tenho que dizer uma coisa muito importante para Sam. - eu a interrompo, falando depressa para que ela não me interrompesse.
-Você sabe que o paciente está em coma, não é? É pouco provável que ele esteja te ouvindo.
-Mas também há a possibilidade dele estar escutando. Quero falar com ele, mesmo sabendo que não terei respostas, quero falar agora, porque depois pode ser tarde demais... por favor? - minha cara se fecha. Comprimo os olhos, louca para soltar outra enxurrada de lágrimas, mas me detenho ao perceber que a pequena enfermeira se aproximara de mim.
-Tudo bem. - sua mão esquerda acaricia meu braço, uma espécie de consolo. - Mas não demore muito.
Assim que ela sai, volto a olhar para as feições de Sam. Sempre que faço isso, chego a uma conclusão: ele é lindo.
-Obrigado Sam. Obrigado por sempre estar ao meu lado nas horas boas e ruins. Obrigado por sempre me proteger. Obrigado por nunca ter desistido de mim, de nós. Obrigado por nunca ter soltado minha mão, por ter corrido riscos por mim, por ter corrido atrás de mim quando eu não merecia. Obrigado por me perdoar todas as vezes que falhei com você... - e com o choro completamente solto, me debruço sobre seu corpo, deitando a cabeça em cima de seu coração. - Obrigado por ser meu melhor amigo.
Acorde Sam. Acorde. Por favor, acorde.
Fecho os olhos com força e digo minhas últimas palavras:
-Você é a pessoa mais importante pra mim, é a única coisa que me restou. Me desculpe por não ter te contado o que me aconteceu. Me desculpe Sam. Eu não sei quando você vai abrir os olhos, pode ser hoje, amanhã, ou pode ser daqui a alguns meses... ou então, pode ser que nunca mais. Preciso que ouça, você tem que me ouvir... Eu te amo Sam Evans, e nunca amei outro como eu te amo.
Acorde Sam. Acorde. Por favor, acorde.
O coração de Sam parece querer pular para fora, de tão rápido que está batendo. Sua respiração está mais pesada e ele começa a se mover devagarinho, como se estivesse acordando...
-Ai meu Deus. - digo, assustada demais para me mover.
Ele está acordando, e agora? Ele não pode me ver. Não quero que ele me veja quando acordar.
Saio correndo para fora do quarto, e assim que avisto a enfermeira que havia invadido o quarto, vou até em sua direção.
-Ele está acordando.
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Sammy & Sam
RomanceEra tão bom tê-la em meus braços outra vez, pensei que nunca mais olharia para este rosto tão delicado. Ouvir sua respiração perto de meu ouvido e sentir seu coração batendo ao mesmo ritmo que o meu, era a melhor coisa do mundo. Queria que este mome...