Capítulo 9

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Sammy

-Sam?! - salto da cama desesperada, as gotas de suor escorrendo pela minha testa se misturando com algumas lágrimas. Foi um pesadelo. 

Acendo as luzes do quarto e olho ao redor, me dou conta de que estou na casa de Helena, no quarto onde um dia pertenceu aos seus filhos. Seco o suor e percebo que estou tremendo, não de frio, mas de medo. O sonho que tive me deixou aflita, chocada. Sonhei que Sam havia sofrido um acidente de carro.

-Calma Sammy, foi apenas um pesadelo. - tento me convencer, mas aquilo pareceu tão real. Meu coração em desespero se debate, sinto uma angústia tão grande, uma necessidade de saber se Sam está bem. - Não foi nada, não foi nada. - e uma pontada no peito me faz urrar de dor. - Ai. - parecia que alguém estava me dando choques, era como se meu coração quisesse parar de bater mas não soubesse como. Minha respiração fica cada vez mais pesada, como se estivesse ficando sem oxigênio. Tento sugar o ar do ambiente e controlar minha respiração, mas não consigo.

Minhas mãos socam a cama, a dor, a tristeza, o conflito, as mentiras, o sentimento, a raiva, o amor, a angústia, tudo está me tomando. 

Caio ao chão de joelhos, minhas mãos em punhos no carpete, meus braços fracos tentando me segurar. Não sei porquê sinto que uma parte de mim está morrendo, está se indo pra nunca mais voltar.

Foi errado? Foi errado eu fugir? 

Eu não sou forte, não sou, nunca fui.

Agarro meus cabelos, ainda de joelhos ao chão, e os puxo com uma força incrível. Arde, queima. Meu corpo balança para frente e para trás, como se eu fosse uma louca.

-Não, não, não, não, não... Sam... - a represa se abre aos poucos, tenho que impedir que ela estoure de uma vez. - Calma Sammy - outra pontada em meu peito. Preciso de ar. 

Fecho os olhos e me lembro do seu rosto. Lembro de como estava dormindo e do adeus antes de eu partir.

- Fique comigo Sam, fique aqui comigo. - digo num sussurro, com a voz embargada.

Não sei porquê disse isso, senti que era preciso.

A pulsação pouco a pouco volta ao normal, as últimas lágrimas caem e meu corpo para de tremer. Me ergo do chão e me sento na cama, voltando a respirar. Alívio, é isso que sinto agora.

Não consigo compreender o que se passa, isso foi a coisa mais assustadora que vivi. Mas a agonia ainda está aqui, a sensação de tentar respirar mas não conseguir, de estar perdendo a consciência. 

Olho o celular, onde meu papel de parede somos eu e Sam juntos, abraçados. São quase as quatro da manhã, nem me lembro direito do que aconteceu ontem a noite, apenas lembro de ter falado sobre Sam com Helena e de chorar muito, depois disso, tudo é apenas um borrão em minha mente.

Deito novamente, desligando a luz e me cobrindo com a colcha até o topo da cabeça. Por que sinto que estou perdendo algo? Algo que é importante pra mim, que eu amo.

Bom, eu amo o Sam. Será que alguma coisa aconteceu com ele? Quer dizer, meu celular está ligado - meio burro da minha parte -, ele podia simplesmente ter me ligado ou ter deixado alguma mensagem, mas nada. Será que ele realmente se importa comigo? As vezes eu chego a pensar que um mundo sem Sammy Asher seria bem melhor do que com ela. 

Fecho os olhos e respiro profundamente, tentando absorver o máximo de ar possível. 

Tenho vontade de ligar para Sam, para saber como está, é uma vontade que tenho desde o pesadelo. Tomara que ele esteja bem, apesar de eu estar morrendo de saudades dele, de tudo que o envolve, eu também estou aqui por ele. Pela primeira vez desde que eu fugi, percebo que assim será bem melhor, e se todos esses anos eu fui apenas mais um peso para Sam? Ele me protegeu de meninos valentões que tentavam roubar meu lanche e das meninas malvadas que gozavam de mim. Ele não tinha amigos de verdade, ele só me tinha. E se Sam sempre me considerou como um problema em sua vida? Talvez a esta hora ele esteja apenas comemorando a minha ausência, junto com meus pais sentados na mesa da nossa cozinha comendo petiscos, tomando vinho caro e brindando por finalmente terem se livrado de mim.

Há tanto o que pensar, minha mente é apenas um barco a navegar em um mar turbulento.

***

De manhã, logo que acordo, saiu correndo porta afora em direção à cozinha. O cheiro de pão e café quentinho faz meu estômago reclamar de fome. Helena está sentada na mesa já, devorando seu pão.

-Bom dia. - dou um sorriso e me sento junto a ela. Pego um pãozinho francês e passo geleia de uva, me sirvo café e ponho duas colheres de açúcar. 

-Bom dia. Dormiu bem? - ela retribui o sorriso e toma um gole de seu café preto. 

-Na verdade não, tive um pesadelo. - estremeço ao lembrar. 

-Sabia que muitas vezes um sonho representa o nosso maior desejo e outras, é apenas uma visão do que pode acontecer? - sinto um arrepio na espinha e prendo meu olhar na toalha da mesa, de um azul listrado.

Uma visão do que pode acontecer? Será? Isso é realmente possível? Então isso quer dizer que...

-Espera. Sonhei que Sam havia sofrido um terrível acidente de carro, isso pode ter sido uma premonição? - parece que a fome que me dominava antes, saiu de mim. Junto as mãos na mesa e fixo meus olhos nos seus, esperando sua resposta.

-Sim. - engulo em seco e ligeiramente tapo meus ouvidos com minhas mãos. Não quero ouvir mais nada, isso é loucura. - Sammy, para com isso. Escuta, você viu algo de irreal nesse sonho? Algo que não bate com nossa realidade? - a única coisa que não bate com a minha realidade é que Sam vai ou pode ter sofrido um acidente de carro.

-Não, apenas pareceu real demais aquilo tudo, eu podia até ver o sangue escorrendo de seu rosto. - a imagem da cabeça de Sam caída para o lado, seu corpo embaixo das ferrugens do carro com o rosto e a roupa ensanguentada, me faz ter náuseas.

-Vamos esquecer isso Sammy. Vamos tomar o café da manhã e talvez mais tarde possamos conversar sobre isso, pode ser? - concordo com sua sugestão, mesmo meu eu interior se negando a tal coisa. 

Dou uma mordida no pão, ainda pensando sobre o pesadelo e nas grandes chances dele ter se realizado. De repente algo surge em minha mente, algo que eu havia me esquecido, que estava guardado no meu subconsciente. Ontem a noite quando acordei desesperada por causa do sonho, me lembro de ter sentido como se estivesse perdendo alguém importante, de tentar respirar mas não conseguir.

Será que isso tem a ver com Sam?

Sammy & SamOnde histórias criam vida. Descubra agora