| What Did He Want? |

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O cheiro maravilhoso da comida da minha mãe atacou logo as minhas narinas assim que entrei dentro de casa.

Ao andar pelo corredor, vi que a minha irmã estava na sala a ver os seus desenhos animados favoritos enquanto que a minha mãe estava na cozinha a preparar o jantar, mas também a falar ao telefone com alguém:

– O que que faz-te pensar que podes fazer isso? Nunca tiveste presente na vida dela, foste o primeiro abandonar-nos.

Falou a minha mãe aos berros.

– Não, não podes! - continuou ela. - O quê? Mas a Jayt--

E a conversa terminou por ali.

Irritada por terem desligado o telemóvel na sua cara, ela atirou o telefone contra a bancada da cozinha. Bufou com as mãos na cabeça e os cotovelos apoiados no lava-loiça.

Vendo que ela precisava de se acalmar, preferi deixá-la sozinha, subindo assim para o meu quarto e atirando-me para a cama.

O meu telemóvel, logo depois, começou a vibrar sem parar.

Era uma chamada da Channel.

Revirei os olhos e recusei o pedido, pois tudo o que eu menos queria agora era aturar as suas famosas birras e carências.

É... Eu curti com ela, mas a verdade é que curto com qualquer rapariga à hora e ao dia em que me apetece, porque elas caem-me aos pés que nem patinhos.

Com o passar do tempo, começa a ficar aborrecido mas lá se vai satisfazendo as minhas necessidades.

[...]

– Então, como foi a escola hoje?

Perguntou a minha mãe quando já nos encontravamos todos sentados à mesa para jantar:

– A minha escola é tão fixe, mamã.

Falou a pequenina, toda entusiasmada.

– Fizeste muitas amigas?

– Sim!

– Mas não fizeste nenhum amigo, pois não?

Perguntei para brincar com ela.

– Não! Os rapazes são estupidos.

– Jaytlin!

Repreendeu a minha mãe enquanto riamos os dois.

– Deixas-me orgulhoso.

Sussurei para ela, fazendo-lhe algumas cocegas.

– E tu, Justin? A tua escola sempre vai começar o programa de intercâmbio, certo?

– Sim, ninguém se cala com isso. Quem vai acolher essa gente toda?

– As famílias dos alunos inscrevem-se para puderem acolher alguém do programa.

– Ah...

Disse mais esclarecido, porém, desconfiado.

– Não tiveste a brilhante ideia de te inscreveres. pois não?

– Tive.

Declarou a minha mãe, sorrindo.

– Mãe?!

Cuspi com os olhos esbugalhados.

– Não sejas tão dramático, Justin. Achei uma boa ação se acolhessemos alguém!

– Tás a gozar comigo, certo? Uma boa ação?

Revirei os olhos.

– Eu já falei com a rapariga que nos calhou e pareceu-me uma pessoa impecável. Ela hoje vai passar a noite no hotel, mas amanhã já vai estar cá.

– Ui, até vai dormir em um hotel.

– Cala-te e come, tá bom? Quero também pedir que controles as tuas emoções quando ela estiver cá. Sê educado e ajuda a rapariga a adaptar-se à escola.

– Queres que lhe dê comida à boca, também?

Falei revoltado.

– Vê lá como falas, menino.

Respondeu a minha mãe com o seu olhar de morte.

– Pronto, desculpa! Já não falo mais nada.

Bufei, continuando a comer.

Não estava satisfeito com a decisão que a minha mãe tinha tomado, sem nos consultar primeiro.

Porquê que nós, de todas as famílias que existem, tinhamos que receber alguém em nossa casa? Ainda por cima, tinha que ajudar a menina adaptar-se à escola, quando eu não tive ninguém para o fazer e claramente, desenrasquei-me.

Todavia, havia outra situação a tilintar na minha cabeça.

Estava com dúvidas acerca da chamada que a minha mãe estava a ter quando cheguei a casa. Queria saber se era o tal alguém que estava na minha mente.

Por isso, esperei que a Jaytlin saisse da mesa para ir vestir o pijama para que ficassemos apenas nós os dois na cozinha:

– Mãe.

– Sim?

– Era ele, não era?

– Do que que estás a falar?

Respodeu ela, confusa.

– Eu ouvi a conversa... Era o Jeremy, né?

– Sim...

Bufou ela.

– O que que ele queria?

– Ele decidiu que estava na hora de ver a Jaytlin e quis informar-me disso.

– Ele decidiu?

Respondi, rindo.

–Isto é uma piada, certo? Ele decidiu...

Passei a mão na minha boca ao mesmo tempo que ria levemente para puder disfarçar a minha raiva.

– Justin...

– Mãe, ele não se vai aproximar desta casa ou da Jaytlin ou de ti. Se não, vamos ter problemas.

Gritei.

– Justin, fala baixo!

Disse ela com um olhar sério na cara.

– Eu sei que isto tudo te irrita, mas calma. Portanto, ele ameaçou-me por o caso no tribunal quando rejeitei que ele viesse cá.

– Mãe, ele é um desgraçado, não tem onde cair morto! Achas mesmo que ele iria ganhar qualquer coisa no tribunal?

– Ele é o pai dela, Justin. Querendo ou não, tem o direito de estabelecer uma relação com a sua filha.

– Olha, que tivesse pensado nisso antes de ter decidido ir embora desta casa e abandonar-te grávida com um rapaz de 12 anos.

Agarrei a sua mãe e continuei:

– Eu não vou deixar que nada de mal aconteça connosco. Eu prometo!

Ela apertou na minha mãe em sinal de aprovação e recompôs-se.

Este assunto era algo bastante sensível para todos nós:

A minha mãe ficava completamente abalada com a situação e a minha ira não ajudava nada acalmá-la.

Eu odiava-o com todas as células do meu corpo e não suportava ouvir o seu nome.

Não só por nos ter deixado para trás quando mais precisavamos, mas também por ter-me obrigado a ser o homem da casa com apenas doze anos.

Novas obrigações vieram a meu encontro, incluindo a pesada preocupação de manter a minha família segura de tudo e todos.

Coisas que só um pai consegue ensinar a um filho, tive que descobrir por minha conta.

Não sentia tristeza pela sua ausência, nem mágoa, mas sim raiva por ele ter posto os pés andar sem olhar para trás, virando todos contra nós.

Por essa razão, eu não iria permitir que ele entrasse nas nossa vidas depois de tudo o que ele nos fez passar.

Undefined Love || J.BOnde histórias criam vida. Descubra agora