Capítulo XXX: Conhecendo o bestiário

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Lexa

Depois da nossa vitória na aula de lutas práticas tudo parecia um pouquinho diferente. A história havia se espalhado rapidamente sobre todos os outros alunos, o que fez que eles retornassem suas fracas mentes para meu irmão e eu.

Não que eu desgostasse da atenção, mas no momento havia outra coisa me incomodando. Ou melhor, outro alguém. Tate Carson, o rapaz que falava com os mortos.

– Não gosto desse olhar.

Disse Amora terminando de arrumar seu cabelo.

– Que olhar?

Perguntei desviando da sua gata idiota que tendia a ficar sempre onde meus pés tentavam pisar.

– Esse de que eu vou fazer alguma coisa com alguém e ninguém vai me impedir porque eu sou completamente insana.

Disse ela por fim pondo a toca de crochê cinza deixando a mecha cinza cair entre seus olhos, quase da mesma cor.

– Não tenho esse olhar.

Respondi virando disfarçadamente para o espelho para reparar.

Não, eu realmente não tinha. Pensei sozinha.

– Se você está dizendo. Vou ao banheiro antes de irmos, vai me esperar?

– Sim.

Respondi e logo Amora já tinha saído.

Já era início de março e as coisas não ficavam mais simples de entender. Não mesmo. Por um momento de relance pensei em Cecilly, algo que eu não fazia há algum tempo. A morte dela agora realmente poderia ser minha culpa, ou melhor, nossa. Mas se a Amora e eu estávamos destinadas a ficarmos juntas e um círculo desde o início, por que não fomos simplesmente postas juntas, como Sam e Sébastien? Isso talvez tivesse salvado a vida da Cecilly desde o início.

Não fazia diferença agora pensar ou perguntar essas coisas. Ela estava morta, completamente e definitivamente morta.

Peguei minha bolsa de debaixo da cama somente porque precisava devolver alguns livros à biblioteca depois da aula de TCBM com o senhor Garrett. Então alguma coisa caiu do guarda-roupa. Uma vela.

Peguei sem me recordar de onde ela poderia ter vindo. Provavelmente de Amora e um dos seus feitiços artesanais, bem, sem meu irmão eu era meio inútil mesmo, então não fazia muita diferença eu ter essas coisas. Recoloquei-a no lugar e continuei andando me recordando que a Amora ainda poderia demorar.

Me virei e peguei a vela de volta, abri a gaveta da penteadeira da Amora e procurei pelo isqueiro rosa que ela tinha perdido por lá e o guardei no bolso do uniforme.

Atravessei a porta em um impulso só e fui mandada diretamente para o memorial dos falecidos. Um lugar que praticamente nenhum de nós colocava o pé com muita frequência. Principalmente eu.

Os nomes de Cecilly e da Demetria eram os últimos escritos, e seus espíritos provavelmente repousavam por perto e esse era um lugar praticamente sagrado para nós.

Abaixei devagar e apoiei a vela perto do objeto de prata sólido gigantesco.

Acendi a vela com o isqueiro e rezei. Pela primeira vez em muito tempo eu rezei.

Nem me recordo de quantas vezes Alfred, meu mordomo lobisomem tentou me fazer criar laços sacros ou os internatos católicos que estudei tentaram, mas como praticante de magia era confuso demais tudo isso.

Bruxos&Demônios, vol. II - Legado&SinaOnde histórias criam vida. Descubra agora