Dois

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Acordo no quarto, ele deve ter me trazido para cá. Escuto algumas vozes altas vindo do andar de baixo, saio do quarto ainda sonolenta e vou até à escada, olho para baixo e vejo alguns meninos sentados no sofá. Um deles me olha de cima a baixo e é nesse momento que me arrependo de estar de short curto. Desço as escadas lentamente enquanto sinto seus olhos castanhos seguindo cada movimento meu. Vejo Vítor pegando alguns salgadinhos na cozinha e vou até ele, quando me vê um sorriso abre em seus lábios.

- Tomara que nossos gritos não tenha te acordado. - forço um sorriso.

- Não me acordou não...nem me incomodei. - ele suspira.

- Que bom, vem quero te apresentar. - diz ele me puxando para a sala onde os meninos estavam. - Meninos essa é a Sophia, Sophi esses são Daniel, João, Pedro e aquilo é o Caio.

Todos aparentavam ter pelo menos uns 20, 21 anos. Daniel tinha cabelos loiros e olhos verdes, João cabelos e olhos escuros como a noite, Pedro tinha os cabelos ruivos, olhos cinzas iguais ao do Vítor, e Caio tinha cabelos loiros escuros e olhos castanhos.

- Oi Sophi. - todos dizem em corro.

- Oi menino. - sorrio olhando eles.

- Sophi fica aqui com a gente? - pede Pedro, olho no relógio e vejo que era, exatamente, 21:30.

- Sim, mas antes tenho que fazer uma coisa. - digo saindo da sala indo até o jardim em frente ao bosque.

Me sento em um balanço que tinha ali e começo a me balançar lentamente. Era bom sentir a brisa de verão novamente, ver as estrelas e sentir o ar limpo.
Pego meu celular e ligo para minha mãe que durante esses dois meses, se aproximou de um jeito totalmente anormal.

Ligação on...

- Alô? Mãe? - escuto sua respiração, mas não sua voz. - Mãe está me assustando.

- Ela está com leucemia. - ouço sua voz, um pouco rouca.

- Quem está com leucemia? - escuto meu pai abrindo a porta do quarto atrás de mamãe e se aproximando. Quando eu o escuto dizer... "deixe que eu falo com ela querida." - Pai o que foi?

- Oi pequena... - sinto sua voz triste mais do que o normal.

- Não minta para mim, quem está com leucemia?

-Jade, os exames saíram ontem antes de você ir embora. - sinto uma lágrima escorrer dos meus olhos. - Ela não queria que você soubesse porque sabia que você iria querer ficar.

- Eu vou voltar para casa amanhã. - digo olhando meus pés.

- Sophia não. Ela iria se culpar pelo resto da vida. - pelos poucos dias.

- Posso falar com ela? - digo olhando o bosque

- Ela está cansada, acabamos de chegar do hospital. - suspiro.

- Tenho que ir. Manda um beijo para ela.

Ligação off...

Nem deixo ele falar mais nada, desligo o celular e olho para os meus pés, no momento eles estavam tão interessante. Começo a me balançar um pouco forte enquanto lágrimas escorrem pelo meu rosto sem parar, porque sempre acontece comigo. Porque a vida sempre tira alguém que eu amo.
Muitas vezes deveríamos entender a lição por trás de todo sofrimento, mas nesse caso qual seria? Não brigar na escola? Não amar as pessoas? Não...deixá-las nunca?
Não sei... Mas uma vez vou perder alguém que amo, Jade era como uma mãe para mim. Sempre cuidou de mim, me protegeu e me ensinou a fazer tantas coisas.

- Sophia, tá tudo bem? - escuto a voz de Vítor atrás de mim, ele se aproxima e se senta no outro balanço.

- Sim, tudo sim. - seco as lágrimas

- Não minta para mim pequena. - disse ele me olhando mesmo estando de cabeça baixa.

- Minha...babá está com câncer. - digo segurando as lágrimas.

- Eu... Sinto muito. Sei que já perdeu algumas pessoas que você amava. - olho ele. - Estou te acompanhando há algum tempo e seus pais sempre me manteram informado.

- Eu não quero falar sobre isso... Acho melhor você ir, os meninos ainda estão aí né. - me levanto. - Aproveite a noite, eu vou deitar.

Saindo indo em direção da casa quando ele me puxa pela mão e me abraça, um abraço quente e aconchegante.

- Eles já foram embora. - ele sussurra.

-Não quero dormir sozinha...dorme comigo? - sussurro um pouco sem jeito.

- Claro pequena. - ele sorriu.

Entramos em casa e arrumamos a pequena bagunça que fizeram, depois subo as escadas escovo os dentes e coloco meu pijama, enquanto Vítor se arrumava, em outro banheiro, para dormir. Ele entra no quarto apenas vestindo uma bermuda branca, seus cabelos estavam bagunçados e seus olhos, cinzas, estavam mais claro que de manhã.
Estava apenas com uma blusa grande que ia até à metade da minha coxa, deito na cama de casal e ele se deita em um colchão no chão, queria manter um pouco de distância por pensar que eu iria estranhar ele dormindo perto, perto demais.

~°~

Acordo de madrugada e vejo Vítor encolhido no chão, coberto apenas por uma fina manta. Saio da cama e me ajoelho perto de sua cabeça, olhando seu rosto e acariciando seus cabelos castanhos.

- Vítor... - sussurro baixo. - Vítor.... Acorda.

Aos poucos ele vai abrindo os olhos e logo se sente rapidamente me olhando um pouco assustado.

- Sophi ta tudo bem? - ele me olha nos olhos.

- Sim, se acalma. Vem... Aqui tá muito frio. - digo pegando na mão dele e puxando lentamente para cama.

- Tem certeza.? - disse ele se levantando e vindo para cama.

- Não quero que fique no chão por minha causa.

Me deito e ele faz o mesmo, tento ficar um pouco longe dele, mas seu calor me atraía mas em uma noite fria era impossível se esquentar. Me aproximo dele lentamente, até que o mesmo perceba e me puxa para deitar com a cabeça em seu peito, ele passa seu braço pela minha cintura e sua outra mão acaricia meus cabelos. Ele começou a cantarolar baixinho uma estranha música em outro língua, aquela música me dava sono. Aos poucos vou pegando em um sono, ouvindo a música, sentindo suas mãos nos meus cabelos e o melhor... Sentido seu corpo, respiração lenta e ouvindo seu coração em uma harmonia com sua respiração.

Linda, Louca e Mimada 2Onde histórias criam vida. Descubra agora