Capítulo 22

411 49 53
                                    

— Giovanna! Ah, graças a Deus... — Ouvi ele suspirar de alivio, mas não levantei o rosto. Ele parecia meio assustado quando falou novamente — O que foi que aconteceu aqui? Eu passei a noite de ontem te ligando. O que houve com o seu celular? Por que você não está falando comigo, Nana? — Sua voz e as perguntas uma atrás da outra denunciavam o seu nervosismo. Ah... certo. Será que ele estava preocupado com o estado do apartamento ou o meu? Queria ter tido o privilégio de dormir e acordar achando que aquilo podia ser um pesadelo, mas nem isso... eu ainda lembrava de cada detalhe — Ei?

— Sim, Andre?

— Você está chorando. Por que você está chorando, Nana, o que aconteceu? — Quando ele agacha na minha frente, eu começo a chorar ainda mais, sem controle. Mas que porra. Quanto de água ainda restava no meu corpo? Andre parecia genuinamente preocupado comigo, veio e segurou o meu rosto com delicadeza, tentando limpar as lagrimas gordas com a expressão de quem não estava entendendo nada, mas não me encheu de perguntas outra vez. Apenas tentou me consolar — Shh, calma. Eu estou aqui. Eu já voltei, amor.

Deixei que ele me abraçasse pela última vez e cuidasse de mim porque eu sou fraca. Porque é a nossa despedida e eu quero senti-lo só mais um pouquinho ali onde só havia nós dois e nenhum problema. Ele podia ter sido um cretino comigo, com ela, mas ainda é o único homem por quem eu me apaixonei e apesar disso tudo, deixa-lo ainda será como perder o meu braço direito – isso é incontestável.

Ele está agora sentado ao meu lado, acariciando o meu cabelo meio emaranhado. A minha cabeça descansa em seu peito e eu soluço de desgosto, estremecendo em seus braços como uma garotinha. Sua camisa está ficando úmida por minha causa, mas ao invés de reclamações, recebo caricias gostosas na cabeça e nas costas para me acalmar. Eu não posso negar, estava quase funcionando e me sentia muito grata por isso, mas nós precisávamos conversar como adultos e eu não podia ficar berrando para sempre feito um bebê que teve sua chupeta roubada.

Precisava conseguir me controlar e ficar firme sobre a minha decisão.

Ambos ouvimos quando a porta foi aberta com uma violência desnecessária. Eu me assustei e pulei no lugar, mas Andre continuou me segurando como se nada tivesse acontecido. O barulho de saltos batendo no piso se aproximou de nós e eu gelei ao virar o rosto, me deparando com a imagem de Sandra bem na nossa frente, impecavelmente arrumada como sempre, sem um fio de cabelo fora do lugar e ela parecia irada com a nossa pequena cena.

— Você! Por que ainda está aqui? — Ela aponta para mim e eu percebo o que estava fazendo. Merda, isso era errado. A coisa menos errada que já tinha acontecido ali, mas ainda era. Eu me separo de Andre e limpo meu rosto e nariz com as costas da mão, sentando melhor no sofá enquanto tentava fungar decentemente.

— Eu que deveria te perguntar isso. Quem te deixou subir? Aliás, quem disse que eu ainda tenho alguma coisa para tratar com você? Vá embora, Sandra.

— Eu vim te buscar. Nós precisamos voltar pra Atenas e eu já comprei as passagens e falei com o Jorge, está tudo certo na empresa, não se preocupe. Ah e claro, eu fiz o seu servicinho sujo, está tudo certo.

Ela cantarola, debochada, fazendo meu coração rachar um pouco mais.

— Do que você está falando? Que serviço? — Andre parece mais perdido que cego em tiroteio e seria cômico se eu não soubesse do que tudo se tratava.

Ela tinha se livrado de mim.

— Ora, a Ana! Eu já expliquei que o casinho de vocês acabou, que você tem uma noiva e que irá mais do que satisfeito para Atenas encontrá-la comigo, querido. — Com entusiasmo, Sandra fala bem devagar como quem explica algo para uma criança.

Odisséia GregaOnde histórias criam vida. Descubra agora