Revirei os olhos ouvindo pela décima vez a avó da Renata reclamar do cheiro das flores. Eu posso afirmar que ela encontrou algo de errado em absolutamente tudo em que pôs os olhos desde que chegou com o marido – ligeiramente alcoolizado, provavelmente para suporta-la pelas próximas horas. Tudo tinha algum defeito imperdoável e até as flores belíssimas, escolhidas por sua filha, não passaram longe daquela língua afiada. A noiva ficou simplesmente sem reação quando a velha disse que precisava de um banho longo o quanto antes, pois tudo a sua volta cheirava a velório. Você está brincando comigo? Mentalmente eu fiz a conta dos motivos que poderiam levar Sylvia a ficar mal-humorada e ranzinza daquela forma para evita-los.
Finalmente o dia do casamento de Renata havia chegado e desde muito cedo, ela estava uma pilha de nervos. Uma pilha de nervos muito bonita, diga-se de passagem. O vestido escolhido era na cor champanhe, de um ombro só e a saia tinha o corte em A, que favorecia bem o seu quadril largo e torneado. Seu cabelo foi repartido ao meio e então, preso estrategicamente em um coque baixo muito bonito para que o tipo de véu escolhido fosse firmado quando a hora chegasse. E eu não podia esquecer da maquiagem! Seus olhos estavam mais delicados que o de costume, a boca escura e bem delineada e usava algumas joias de família que a deixaram estonteante.
— Você está passando corretor demais, linda. — Uma voz de homem extremamente afeminada soou atrás de mim, afirmando aquele disparate. Ergui a cabeça e olhei para a figura no espelho revirando os olhos, então voltei com o meu trabalho de retocar as pequenas olheiras.
— É fácil para você dizer. Não lembro de ter te visto ingerir uma garrafa de tequila às uma da manhã de ontem, então cale a maldita boca.
Eu estava com um humor terrível pela falta de sono.
Ontem aconteceu ambas as despedidas de solteiro dos noivos. Foram feitas no mesmo clube, mas em áreas separadas. As garotas não economizaram no álcool e por estar longe de comemorações assim por tanto tempo, acabei me deixando levar e bebendo além da conta, tendo em mente que ao chegar em casa, dormiria por no mínimo doze horas seguidas.
Mas os planos mudaram.
Eu pude ouvir o choro manhoso do Heitor antes de abrir a porta do apartamento e quebrou o meu coração vê-lo sendo consolado por Carol enquanto eu estava me divertindo na rua. Ela me garantiu que ele não estava doente, apenas um pouco febril e irritado por não conseguir voltar a dormir depois de ter seu sono interrompido e me convenceu que não havia nada de errado em tirar um tempo para mim mesma. Após um banho revigorante, conversamos sobre o desenrolar da noite, enquanto eu dava mamadeira para o meu garoto e o balançava em meus braços.
Caroline se despediu quando Heitor finalmente adormeceu perto das quatro horas e me perguntou outra vez se deveria adiar seus planos com Drake para cuidar do sobrinho enquanto eu estivesse no casamento, mas neguei. Eu sabia o quanto ela estava empolgada em apresentar o namorado ao pai, além do mais, Andre ficaria mais do que satisfeito em ter um tempo a sós com o filho mais tarde, uma vez que eu decidi não o trazer comigo por não saber se ele estava prestes a ficar doentinho ou se sua noite inquieta foi apenas um mal-estar passageiro.
Pego o meu celular e sorrio olhando pela quarta vez a foto dos dois enviada junto com uma mensagem há duas horas. Ambos deitados, Heitor encostado no braço do pai, tendo a cabeça cheirada por ele enquanto folheava um de seus muitos livros coloridos.
De: Andre Makayros +(630-842-3200)
Hora: 14:05 p.m.
"Estou pensando seriamente em voltar para o sofá. O seu cheiro está todo sobre essa cama e isso está tirando a minha razão. Divirta-se, mas por favor, volte logo."
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Odisséia Grega
RomanceMesmo após perder o emprego, por recusar-se a ceder às investidas do seu chefe, Giovanna está determinada a não desistir. As suas tentativas são frustradas uma e outra vez, a levando a aceitar os mais diversos serviços que estão muito longe de fazê...