Odisséia Grega

Capítulo 27

Olhei-me no espelho uma última vez.

Eu estava bem assim, certo? Com certeza bem para um jantar de aniversário. Com certeza bem para apresentar meu filho à sua família paterna. Com certeza bem para reencontrar o ex amor da minha vida? Aí era onde a dúvida apertava. Não que eu estivesse me vestindo exclusivamente para ser aprovada por Andre. Eu só não queria parecer aquela mesma menina que ele conheceu há alguns anos. Tiro, então, o colar do pescoço, decidindo que já estava exagerando e o jogo em cima das outras joias espalhadas em uma caixinha na minha penteadeira.

Urgh, por que mulheres tinham que fazer essas coisas com elas mesmas?

Não interessava o que ele ia pensar sobre mim.

Eu não estava indo para um encontro. Hoje seria tudo sobre o meu pequeno e inocente Heitor. Ele tinha estado agitado e impaciente de ontem para cá, como se percebesse a tensão em volta que eu não conseguia fazer dissipar-se. Quanto mais os dias passavam, mais dúvidas eram implantadas na minha cabeça e de repente eu me vi tentada a fugir, mas a ideia escapou tão rápido quanto veio.

Andre me encontraria. Se não o fez antes foi porque não quis, mas agora eu tinha algo que lhe pertencia – de certa forma. Isso era o suficiente para que ele não me deixasse em paz a partir do momento em que Drake despejasse tudo que sabia.

O meu reflexo me pedia para parar com a insegurança boba. O meu cabelo estava ótimo caindo em ondas brilhosas sobre os meus ombros e no meio costas. A pele também não estava ruim. Não exagerei investi muito tempo na maquiagem, mas dei o meu melhor para cobrir as olheiras que as noites mal dormidas me resultaram. A calça jeans deixava as minhas pernas bonitas e a blusa era na parte de trás, mas não reveladora ao ponto de me constranger na residência dos Makayros.

O que ela estaria vestindo hoje?

Deveria estar magnifica para comemorar a data especial ao lado de Thomas.

Pensar em ver o casal de gregos arrebatadores fazia o meu estômago se contorcer da pior forma possível, mas eu estava me preparando há algum tempo. Não entendi, porém, de onde tirei todo aquele sangue frio para lidar com a Sonia durante a semana.

Ela foi doce, sensata e muito engraçada todas as vezes em que nos encontramos. Queria ter dado a sorte de tê-la como sogra, mas isso é privilégio de outra. Outra tão sortuda que até a amizade da cascavel que era Sandra, também tinha.

Desviei o assunto várias vezes sempre que ela colocava seus filhos na conversa. Eu não queria de jeito nenhum vacilar e dar a entender que os conhecia, mesmo que devesse ter a decência de informa-la disso. E de qualquer forma era bonito ver seus olhos brilharem ao contar que Sarah já era mãe. Quem diria?

Sou incapaz de conter um sorriso ao imaginar aquela coisa pequena que pulava para cima e para baixo pelo menor motivo, barriguda e inchada. Jesse deve ter passado por poucas e boas durante a sua gravidez. Notei, entretanto, que ao falar sobre Andre, ela tinha uma certa preocupação no olhar, como se não estivesse satisfeita ou feliz com alguma coisa. Era... estranho e extremamente curioso.

A reforma, como eu imaginei, seria iniciada em exatos dois dias após o aniversário do seu marido e agora eu me perguntava se ela ainda estaria disposta a me querer naquela equipe depois que eu acabasse de arruinar o clima no aniversário do marido.

Maldito seja, Drake.

— Você pode, por favor, me passar essa bolsa com estampa de onça? — Sonia pergunta apontando para onde a sua bolsa estava aberta sobre o balcão da pia do banheiro. Havia várias coisas deslizando para fora, mas de longe eu podia notar uma bem menor de estampada amarelada com preto e marrom, como se fosse para maquiagem — Presente de Sarah. Ela sempre verifica se eu uso o que ela me dá.