Capítulo 33

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Acordei no dia seguinte me sentindo terrível pela falta de sono.

Tanto quanto amava estar com Andre, eu não conseguia acompanhar aquele ritmo de ficar acordado até altas horas da madrugada e, então, levantar pela manhã como se nada tivesse acontecido. Estava exausta. Por muito pouco não liguei para o trabalho alegando estar doente para que pudesse ficar em casa e simplesmente não sair da minha cama por nada no mundo, mas não foi possível.

Heitor levantou antes nós dois.

Quando chegamos lá em baixo, o encontramos brincando no jardim com Thomas enquanto Sonia terminava de colocar a mesa do café da manhã junto com Judi, a moça da cozinha responsável por todas aquelas delicias cheirosas e apetitosas.

— Bom dia para vocês! — Sonia cumprimentou feliz e eu precisei retribuir o seu sorriso porque ainda não sabia como negar alguma coisa a ela — Oi, querido. Eu não vi você chegar ontem à noite. Vamos, sente-se aqui.

Foi divertido ver Andre ser servido pela mãe por diversas vezes durante a refeição. Ela fazia questão de ter em mãos todas as suas coisas favoritas para que ele nunca saísse de casa com o estômago vazio, assim, eu finalmente entendi o motivo de seu apartamento ridiculamente caro viver praticamente abandonado. Se ele podia ficar na minha casa sempre que quisesse e tinha a mãe bem aqui para mima-lo dessa forma, por que diabos ficaria sozinho vivendo a base de comida congelada?

Andre é um tremendo filhinho da mamãe.

— O que Marcos tinha a dizer, filho? — O meu sogro pergunta ao entrar no cômodo e, após nos cumprimentar, foi servindo-se de uma xicara de café com um pouco de leite.

— Ele disse que pegaria um voo hoje mesmo para Atenas e adiantará as coisas para mim — Andre responde, lembrando-me que aquele era o nome de um dos seus advogados — Disse que precisamos seguir o rastro de quem quer que tenha enviado a caixa, enquanto ainda está fresco e eu concordo. Não podemos esperar.

— Eu realmente não entendo porque essa pessoa resolveu se manifestar após tanto tempo — Thomas balançou a cabeça parecendo confuso e eu desviei o olhar para a porta de vidro à minha direta, que mostrava Heitor perseguindo a avó pela grama verde. Ele usava apenas uma fralda e um sorriso gigante. Seu cabelo estava uma bagunça adorável — É possível que ele ou ela esteja fazendo isso por arrependimento, mas também pode estar se vangloriando e é melhor termos cuidado para que aquilo não se repita. Não podemos ser atingidos novamente.

Seria possível que estivéssemos interpretando errado esse aviso? Em vez de uma pessoa tentando nos levar ao culpado ou com remorso, estaríamos tendo alguém mexendo na ferida só para tentar atingi-lo novamente? Andre realmente precisava voltar para Atenas e precisava ir rápido. Ele ficava enfurecido sempre que lembrava da quantia absurda que que roubaram, não porque lhe fez falta ou o deixou no vermelho, mas porque a empresa ficou em estado de alerta por um período e aquele dinheiro era dos seus funcionários. Daqueles que trabalhavam de segunda à sábado para sustentar suas famílias. Nenhum infeliz deveria sentir-se no direito de pegar o que não lhe pertencia e prejudicar milhares de pessoas.

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O resto da semana passou-se feito um borrão e eu me sentia cada vez mais acabada. Apesar de o momento não ser o mais perfeito para isso, não tive tantas dificuldades em conseguir algum tempo fora do trabalho quanto pensei que teria e algo me dizia que tinha o dedo da minha sogra nisso. Porém, como os dias de sombra e água fresca ainda não haviam chegado, me dediquei em dobro – talvez em triplo, quem diabos sabe? – na empresa para não ser prejudicada com serviço acumulado na volta ou até mesmo alimentar motivos para uma futura demissão. Chegava tarde em casa todos os dias e, mesmo sentindo falta do Heitor, aquele sacrifício seria por um bem maior. Em breve teria dias a fio para me dedicar a ele e sua diversão, mas por enquanto, a Kara exigiria um pouco além do normal do meu tempo.

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