Capítulo 40

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— Você tem certeza que está tudo certo aí?

Andre repetiu essa mesma pergunta por pelo menos seis vezes desde que entrei no banheiro para fazer xixi. Eu tinha certeza de que estava ali há cerca de 10 minutos, pacientemente esperando e seus passos nervosos atrás da porta eram impossíveis de ignorar. Ele estava aguardando por uma oportunidade para entrar, mas isso não aconteceria de jeito nenhum. O lugar já era pequeno demais para duas pessoas.

— Sim, amor — Confirmo buscando mostrar paciência no meu tom de voz, mas não deixo de rolar os olhos — A Srta. Palmer está bem aqui para me ajudar no que for preciso. Por que você não sai e providencia algo para comermos? Você sabe que eles vão querer me empurrar algum tipo de mingau asqueroso.

A ideia de me alimentar com uma papa sem gosto e com cor de vomito fazia o meu estômago vazio dar algumas voltas dolorosas. E eu não estava verdadeiramente com fome, o que era estranho, porque me lembrava com clareza que a última refeição completa que fiz foi na noite anterior ao sequestro. Eu deveria querer nada mais do que devorar um boi à essa altura do campeonato, mas nada me tentava.

— Tudo bem — Ouço o suspiro de André, resignado — Eu vou lá embaixo. Como uma sopa de tomate e pães fresco soa?

A enfermeira parece mais à vontade para me ajudar no banho quando ele finalmente sai e eu não posso culpa-la. Andre esteve deixando todos loucos desde que acordei esta manhã após um dia inteiro desacordada e outro indo e voltando do meu estado de inconsciência. Ao que parece, o meu sono era perturbador quando eu não estava sob efeito dos analgésicos e estava prestes a estourar todos os pontos com os movimentos bruscos sobre a cama. Foi assim que decidiram que a coisa certa a fazer era me manter apagada por mais algum tempo.

Eu estava um pouco atordoada quando despertei, mas tentei ao máximo não me mover antes de identificar onde exatamente eu estava. A minhas ultimas lembranças eram terríveis e todas envolviam frio e muita dor, mas aquilo tudo parecia apenas um pesadelo distante em contraste com a paz e sossego com que fui recebida quando abri os olhos naquele lugar. O quarto não estava totalmente iluminado, pelo o contrário, havia uma penumbra muito bem-vinda que me acalmava e um cheiro leve de álcool que quase me induziu novamente ao sono.

Através das persianas brancas e o vidro na parede à minha esquerda, eu conseguia enxergar enfermeiros das mais variadas idades, desfilando com os seus uniformes alvos com detalhes em azul, quase sempre empurrando um carrinho com medicamentos ou toalhas. Às vezes acompanhados de médicos sempre apressados.

Uma rápida verificada e eu soube que estava em algo como um quarto de luxo – se é que isso existe – em um hospital caro, pois toda a decoração e os equipamentos eram totalmente diferentes de onde eu já estive outras vezes. As cores eram suaves e tranquilas, o colchão da cama era bem confortável e havia uma grande TV LED desligada e presa à parede de frente para mim. Ao finalmente mexer o meu braço direito, precisei prender um gemido ao sentir um beliscão inesperado.

Eu tinha agulhas enfiadas em mim e qualquer movimento causava desconforto. Imaginei que diante do silencio que fazia, qualquer barulho – por menor que fosse –, despertaria os meus rapazes e eles pareciam exaustos como nunca tinha visto na vida. Ponderei em segundos e decidi que era sensato ficar quieta por mais alguns minutos e deixá-los descansar, uma vez que se os acordasse e mandasse-os para casa, eles ignorariam e não me largariam mais.

Andre estava sentado em uma poltrona que foi arrastada até estar ao lado da minha cama. O seu corpo tombou para frente quando adormeceu e o rosto estava descansando na área desocupada do colchão, ao lado da minha perna que estava boa. Ele tinha uma das mãos segurando a minha, a esquerda, e os nossos dedos estavam entrelaçados. Apesar de desacordado, o seu aperto era firme e aquilo me comoveu. Andre parecia querer ter certeza de saber se eu saísse ou fosse levada.

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⏰ Última atualização: Mar 11, 2020 ⏰

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