Capítulo 5

644 69 14
                                    

A cozinha cheirava a café fresco e havia uma pequena pilha de louça suja dentro da pia esperando por mim, mas eu não conseguiria lidar com tarefas domesticas nesse momento. O sol aumentou de intensidade, enviando raios fortes através da janela que caiam diretamente sobre a cabeça de Caroline, sentada à minha frente. Seu longo cabelo alaranjado brilhava e era lindo de se ver, mesmo estando preso de qualquer maneira com uma caneta velha que já não servia para escrever.

— E foi só isso? Tem certeza? — Perguntei a ela pela quarta vez nos últimos quarenta e cinco minutos.

Passava das 8 e estávamos tomando o café da manhã que ela preparou antes de eu acordar. Era o seu dia de folga. Normalmente, Carol ficava em casa descansado ou ia resolver as coisas que precisou deixar de lado pela falta do tempo, mas hoje nós tínhamos programado um dia só para nós duas. Sem influencias externas. Sem família, trabalho ou encontros, mas agora a minha mente estava em outro lugar. Eu não podia apenas esquecer que ele esteve ali na noite anterior.

Na minha casa. No meu quarto.

Ela estava fazendo de propósito, me matando de curiosidade lentamente apenas por ter me recusado a falar o porquê de ter chegado em casa apagada daquela maneira. O que eu podia fazer? Contar-lhe a verdade? Não, era embaraçoso falar que um cara que eu só vi duas vezes na vida, me proporcionou orgasmos tão alucinantes usando as mãos, que as minhas forças se esvaíram totalmente.

— Pela última vez, Nana: sim. Foi apenas isso. O que você esperava? — Respondeu dando de ombros e colocando a xícara quase vazia sobre o pires sem olhar para mim.

Quando acordei desorientada às 7 da manhã, fui até o quarto de Carol para sacudi-la, até que acordasse e me explicasse o que tinha acontecido, mas a encontrei colocando a mesa e ela apenas falou que ele se apresentou, me pôs na cama e disse que entraria em contato. Quero dizer... que diabos?! O Makayros era melhor que isso.

Certo?

Aquela cadela estava definitivamente se divertindo com o meu conflito interno porque começou a rir pelo nariz enquanto limpava os lábios com o guardanapo e tentava disfarçar. Estreitei meus olhos para ela e alcancei o copo de suco de laranja, segurei-o na mão e inclinei-o em sua direção. Carol arregalou os olhos e pulou da cadeira estendendo a mão para mim em sinal de 'pare'.

— Você não ousaria! — Falou toda nervosa. Apenas arqueei a sobrancelha e a encarei — Inferno, Giovanna, não se atreva. Eu farei esse copo ir parar no seu intestino e não será pela garganta!

Por um tempo que pareceu longo demais, nós continuamos desafiando uma a outra até que ela bufou e se deu por vencida ao rolar os olhos. Ajeitou a postura, prendeu os cabelos com mais firmeza e voltou a sentar-se, dando a entender que agora conversaríamos como pessoas civilizadas.

Eu fiz o mesmo e devolvi o copo para o seu lugar.

— Eu posso ter... omitido algumas coisas sobre ontem. — Falou partindo um pãozinho ao meio com os dedos.

— Como o que, Slater? — Eu me mordia de curiosidade, mas tentava a todo custo manter-me naquela seriedade, como se realmente fosse ficar brava com ela.

— Certo. Mas depois chega com inquisição — Assenti em concordância — Pois bem, vamos lá. Estava eu largada no sofá com os pés dentro de uma bacia de água morna, relaxando após meu expediente puxado que durou toda a semana, esperando a minha garota voltar do seu encontro para fofocarmos, quando a campainha toca. Eu fiquei tipo "Quem diabos está aqui há essa hora? Nana tem as chaves" e quando abro a porta, eu não sei o que me assusta mais. Você desmaiada nos braços de um homem ou esse homem que era a coisa mais perto de um deus mitológico que eu já vi. Ele com aquele sotaque lindo apresentou-se como Andre Makayros, pediu desculpas por interromper o meu momento e deixou claro que eu não deveria me preocupar com você, que tinha apenas adormecido no carro, dando a entender que tinha exagerado um pouco no vinho, o que é bem típico de você, então eu não questionei. Aí ele me perguntou se deveria te acordar — Ela pausou para tomar o ultimo gole de café e antes que conseguisse botar a torrada na boca, eu a chutei por baixo da mesa — Ok, cacete! Eu disse que não precisava, pedi para ele me acompanhar e nós fomos até o seu quarto. Eu puxei as cobertas e ele com muita gentileza para não atrapalhar seu sono, te pôs na cama e te cobriu. Perguntei para ele como foi a noite e Andre disse que foi melhor do que esperava, usando um sorrisinho pra lá de charmoso e ah, me entregou um balão amarelo meio murcho — Carol deu de ombros, menosprezando o meu balão e continuou — Mas a melhor parte é que quando já estava de saída, ele simplesmente chegou perto de você e te beijou na testa. Foi a coisa mais fofa que eu já vi um cara fazer para uma mulher inconsciente. — Finalizou, suspirando toda derretida.

Odisséia GregaOnde histórias criam vida. Descubra agora