Capítulo 17

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Sofia

Eu não quero ir! — digo em alto e bom som, mas meu pai parece me ignorar.

— Vá pegar sua bolsa, Sofia.

É, ele está me ignorando.

— Esse evento é só uma reunião desses acionistas velhos daquela faculdade! — Giro os olhos e meu pai bufa.

— Nós já estamos atrasados, será que você pode adiantar? — minha mãe interfere, enquanto checa as horas. — Você só precisa acenar, sorrir e tirar algumas fotos, Sofia. Facilite a nossa vida, por favor.

— Mas, mãe...

— E vai ser ótimo pra você! — Ela me corta, sem se importar. — Gabe vai estar lá e vamos conversar com ele sobre a probabilidade de você e Drew voltarem. Vai dar certo querida, confia na mamãe.

Ainda tinha mais essa. Ontem minha mãe perguntou sobre Drew e, pela cara que eu devo ter feito, ela viu que algo estava errado e não sossegou até que as palavras "nós terminamos" saíssem da minha boca. Vi meu dia, que até então estava calmo, transforma-se em um belo redemoinho de perguntas e reclamações dos meus pais.

"Como terminaram? O que você fez? Por que deixou alguém como ele escapar?! Você só tinha um simples dever, Sofia: Agarrar o Drew."

E para piorar a situação, eles não desistiram da ideia de nós dois voltarmos, o que é ruim para mim, já que eu sei que a última coisa que Drew quer é namorar comigo de novo... Afinal, desde o ano passado ele queria terminar, mas não sabia como.

Aquele sentimento estranho e sufocante tinha voltado desde ontem. Quer dizer, não só ele... O de rejeição também. Sei lá, eu sou perfeita! E Drew também é perfeito... Então por que duas pessoas perfeitas não podem ficar juntas? O que há de errado nisso?

Certo que Drew não me queria mais, mas... Ele não poderia fazer um esforço para continuarmos juntos? Amor não enche barriga de ninguém, nós só precisávamos ser companheiros.

— Eu não quero ir. — resmungo, de novo.

— Isso não está aberto para discussões. — Meu pai rebate, impaciente. — Bolsa e rua.

•••

Meus saltos afundam naquela grama maldita. O caminho até o saguão onde todos estão reunidos para esse evento beneficente idiota parece lento e torturante. Normalmente, a faculdade faz essas reuniões sem nexo uma vez por mês para extorquir o dinheiro dos acionistas. Eles dizem que metade vai para os investimentos nas estruturas dos campos, nos projetos sociais que o lugar apoia e também para manutenção do time da casa.

Meu pai é um desses acionistas a ser extorquido.

Não que ele precise desse dinheiro que dá – no final das contas, sempre acaba voltando mais para ele –, mas por consequência de ser acionista, ele precisa estar nessas reuniões e como se não bastasse, sou arrastada junto.

Na maioria das vezes consigo forjar alguma coisa para não vir, ou simplesmente me escondo na casa da Isabel – ou ainda me mando para alguma festa. Faz alguns meses que consigo escapar, portanto, quando sou cumprimentada por algumas pessoas, preciso revirar minha mente para lembrar seus nomes.

É claro que no final das contas mamãe os sussurra para mim, porque eu não me importo em lembrar e ela sabe disso.

Há dois anos atrás, eu comparecia a todos esses eventos com Drew. Era sempre mais legal quando ele podia vir – o que não acontecia com frequência, mas quando ocorria, tinha minhas noites de sábado de volta. É inevitável as perguntas do tipo: "O seu namorado não pôde vir?"

O que eu devo dizer? "O meu namorado pôde me dar um pé na bunda, isso basta?"

Mas é obvio que faço o que minha mãe pediu: "Drew está em casa estudando, mas mandou lembranças."

Mandou lembranças? Drew também nem deve saber quem são essas pessoas. Se eu mal frequento, ele é ainda pior... Por mais que Gabe queira forçá-lo a vir também, já que os acionistas ficam de olho nos melhores jogadores para colocarem nos times, Drew não se importa.

Deixo meus pais tendo conversas insuportáveis sobre dinheiro e investimentos e encosto-me no bar. Espero que o barman esteja distraído e então puxo uma taça de champagne. Estou levando-a aos lábios quando sinto minha mão ser puxada para baixo.

— O que está fazendo? — minha mãe dispara, recolhendo a taça.

— Isso aqui está um saco!

— Você não tem idade para beber isso!

Estreito os olhos na direção dela.

— Não se faça de boba, mãe. Sabe quantas vezes eu fiquei bêbada nessa vida?

— Não, você sabe?!

— Claro que não, eu estava bêbada! — digo, como se fosse obvio.

Ela bufa e coloca a taça longe de mim. Estou pronta para protestar, mas minha mãe me puxa pelo braço e me arrasta para o meio do saguão de novo.

— Fique perto de mim e não faça nenhuma bobagem. Já foi uma tremenda vergonha você vir sem o Drew, não vá inventar de ficar bêbada também.

Puxo meu braço de volta e emburro a cara, mas caminho ao seu lado, por mais que minha vontade seja dar o fora daqui.

Meus ouvidos voltam a ficar cheios com papos super desinteressantes. Esforço-me ao máximo para não soltar bocejos entediados ou revirar os olhos várias vezes.

Tudo isso é um saco!

— Sr. e Sra. Cooper — O reitor da faculdade se aproxima de nós enquanto fala. Atrás dele, consigo ver pontas de um cabelo loiro, mas não consigo ver o rosto da pessoa. — Quero que conheçam Noah Clark. — Ele finalmente sai da frente, e então um rapaz de uns vinte e poucos anos entra em meu campo de visão. — Ele é bolsista e tem tido muito destaque no curso que está fazendo.

— Muito prazer. — Meu pai estende a mão, e o tal Noah aperta-a. —Minha esposa, Sylvia — ele continua, e é a vez da minha mãe cumprimentá-lo. — e essa é Sofia, nossa filha.

Esse Noah finalmente me encara. Diferente do que fez com meus pais, ele não estende a mão para mim, apenas faz um leve aceno com a cabeça. Meu pai começa uma conversa sobre algo de computação e, pelo que ouvi, tem a ver com o curso que esse garoto faz. Analiso-o por todo o tempo, tentando traçar um perfil. Bolsista – eca –, cabelos loiros, pele meio bronzeada – talvez seja do sul –, olhos claros, talvez tenha dentes tortos ou sujos, porque quando sorri parecendo "simpático" não os mostra... Enfim, um cara extremamente sem graça!

Estou a ponto de fazê-lo a minha chacota da noite quando minha atenção é desviada. Sinto todo meu corpo congelar e meu estomago embrulha em fração de segundos.

— Não é mesmo, Sofia? — minha mãe diz. — Sofia?

Não consigo responder. Parece que tudo morreu dentro de mim e não tenho nem certeza se estou respirando.

— O que ele está fazendo aqui? — Papai pergunta. — E quem é aquela?!

Empurro todos da minha frente, inclusive aquele Noah sem sal, só para poder ver mais de perto, porque é quase impossível que isso seja verdade.

Além deu ter ganhado um pé na bunda, eu fui trocada.

Drew e Amélia estão aqui.

Juntos.


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CONSEGUI AMIGAAAAAAAS!!!

Amanhã tem a segunda parte desse capítulo, tá bom? Vou ter que ir dormir porque tá tarde e amanhã eu tenho curso bem cedo... Mas enfim, consegui postar os dois capítulos que queria!

Beijocas com pipocas ❥

Garotas VenenosasOnde histórias criam vida. Descubra agora