Bônus

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Christina Aguilera – Beautiful 

Eu sou bonita, não importa o que eles digam

Palavras não vão me fazer cair

Eu sou bonita, em todos os sentidos


Cintia Davis

O ensino médio deveria ser classificado como a parte da sua vida em que você torce para passar ileso sem se tornar á piada maldosa que te marcará até o terceiro ano.

Infelizmente, eu não saí ilesa.

Quando completei dez anos, o médico disse que eu era muito míope para andar por aí sem um bom par de óculos. Desde então, as pessoas sempre me caçoavam por usá-los. No inicio eu tentava não me importar quando me chamavam de "topeira", "cega" ou "quatro olhos", afinal, sabia bem que sem essas lentes eu provavelmente não conseguiria dar quatro passos sem bater com a cabeça em um poste.

Mas então as brincadeiras ficaram mais pesadas, até chegar ao ponto deu não conseguir beber água sem ser chamada de alguma coisa. Não me entendam mal: não estou fazendo drama e nem vim contar-lhes a minha triste história de vida. É só que... Dói. Você sabe que não tem amigos, e não entende se isso acontece por você usar um par de óculos fundo de garrafa e se vestir mal, ou se é porque as pessoas realmente não querem ter contato com você.

Ou se é porque elas realmente são malvadas também.

O fato é que troquei de escola quando o ensino médio chegou e passei a me vestir cada vez pior (se eu não chamasse nenhuma atenção, então não iria caçoar de mim de novo). Achei que o problema estivesse resolvido, até conhecer a Sofia.

Sofia sempre foi linda, popular e rica e, apesar de escutar todas as maldades que ela fazia, nunca cheguei a odiá-la ou evitá-la. Quer dizer... Não até a aula de educação física que manchou de novo o meu histórico social escolar.

Eu odeio educação física e sempre consegui matar todas as aulas muito bem, mas naquele dia a coordenadora me achou no ginásio filando aula e ainda devorando uma barra de chocolate. É claro que ela fez o que qualquer responsável faria: tomou meu doce e me mandou ir vestir a roupa para fazer os exercícios. Eu queria? Não, mas aquilo era melhor do que levar uma advertência (e aí sim sujar meu histórico apenas escolar).

Eu estava tentando não levar uma bolada no futebol quando tropecei em algo (que mais tarde iria descobrir ser os pés da Sofia) e meus óculos voaram. O que vocês acham que ela fez? Pisou, claro.

Em um primeiro momento eu tentei não entrar em pânico e pensar que aquilo foi um acidente. Ela iria me ajudar a levantar, nós iríamos até a coordenação e eu poderia ligar tranquilamente para a minha mãe vir me buscar. Tudo com calma.

É obvio que aconteceu o contrário: Sofia saiu rindo com suas amigas; eu consegui ficar de pé, mas preferi não ter feito; recebi oito boladas enquanto tentava enxergar a saída; por sorte, a professora de educação física percebeu meu estado e me ajudou a sair do campo. Eu fui até a coordenação e liguei para a minha mãe como queria, mas de maneira apressada e com a voz quase esganiçada.

Eu chorei aquela noite. Minha mãe tentou conversar comigo, mas eu não quis.

Voltou a doer.

Eu passei mais de um ano observando Sofia de longe e sentindo uma raiva desmedida dela. Bolei planos (um mais ridículo que o outro porque, cá entre nós, eu não sou malvada), mas nunca tive coragem de executá-los. Em uma sexta á noite, enquanto eu tentava lidar com uma semana cheia de novos apelidos que havia terminado, minha avó afagou meus cabelos enquanto nós repousávamos na rede. Eis que ela disse as palavras mais importantes que eu poderia escutar:

Garotas VenenosasOnde histórias criam vida. Descubra agora