Capítulo 32

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Amélia

Meu pai gira a chave pela milésima vez. O motor parece engasgado e não funciona. Ele solta um suspiro frustrado e sai do carro meio chateado.

— Nada? — minha mãe pergunta enxugando as mãos em um pano da cozinha.

— Não. — meu pai responde e fecha a porta do carro. — Vou levar para oficina, mas terá que ser mais tarde. Não tenho como rebocar o carro agora e não posso chegar atrasado ao trabalho.

Reviro os olhos, ciente que minha mãe vai me dar o dinheiro da passagem do ônibus, mas escuto uma buzina e outro carro estaciona na porta da minha casa.

O vidro fumê desce e quase dou pulinhos quando vejo quem é.

— Com problemas? — Drew pergunta.

— Esse Dereck de novo? — meu pai pergunta entediado.

— É Drew, pai! — Bufo e caminho até a janela do carro dele. — Bom dia! O que faz aqui tão cedo?

— Pensei em te dar uma carona para o colégio hoje — Drew explica e meu pai volta a tentar ligar o carro... Ele não desiste nunca. — e pelo visto serei útil para o seu pai também. — ele solta uma risadinha.

— Pai, quer carona? — grito. Ele coloca a cabeça para fora do carro e franze as sobrancelhas.

— Carona de quem?

Giro os olhos mais uma vez.

— Drew.

— Não precisa!

— Mas é claro que precisa, deixe de ser ciumento homem! — Minha mãe diz severa e o puxa para fora do carro, Drew e eu rimos da cena. — Ele quer a carona sim. É muita gentileza sua, querido. — ela fala diretamente com Drew, dessa vez usando um tom de voz gentil.

— Imagina. — Drew sorri envergonhado.

Meu pai é praticamente arrastado para dentro do carro e senta-se no fundo como a cara emburrada. Fala sério, eu que deveria estar assim! Quando Drew não está comigo, fico sozinha e preciso aturar Emma desfilando na minha frente com Grace... É um saco ir para o colégio!

Ligo o rádio para quebrar um pouco o clima porque não consigo conversar com Drew com meu pai sentado bem no banco de trás, nos encarando como uma águia a espreita.

— O dia está lindo. — comento aleatoriamente só para acabar com aquele silencio e Drew ri, entendendo a situação constrangedora.

— Vai chover mais tarde. — meu pai fala.

— Eu só espero que a chuva não interfira no sinal da TV, porque tem jogo do Houston Dynamo mais tarde. — Drew fala de bobeira, mas então percebo algo curioso e meu pai também.

Houston Dynamo? — meu pai repete. — Você torce para eles?

— Desde criança, senhor. — Drew responde.

Solto uma risadinha e encosto minha cabeça no vidro. Drew acabou de tocar no ponto fraco do meu pai, não preciso me preocupar mais com quebrar o silencio no carro.

— Qual o treinador do time?

— Owen Coyle.

— Eles já venceram alguma MLS Cup?

— Duas vezes, uma em 2001 e a outra em 2003.

Minha tranquilidade evapora porque se Drew errar alguma dessas perguntas idiotas, a simpatia que sei que meu pai está começando a sentir por ele irá evaporar também.

Garotas VenenosasOnde histórias criam vida. Descubra agora