Capítulo 38

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Amélia

Troco de pijama pela milésima vez. Não sei se devo usar o que normalmente uso para dormir – folgados e com estampas de desenhos animados – ou os que me fazem parecer uma pessoa compatível com minha idade. Resolvo ficar com a segunda opção e, para me certificar que ninguém veja o que estou vestindo para desaprovar, coloco um blusão por cima. A calça ainda fica exposta, mas pelo menos consigo amenizar o estrago.

Desço as escadas e pego a bolsa que separei para levar. Estou apenas carregando escova de dente, remédios e meus fones de ouvidos – porque sei que irei precisar já que vou ficar completamente deslocada nessa tal festa do pijama.

— Está pronta? — meu pai pergunta vindo do corredor. Assinto com a cabeça e me certifico de que peguei tudo que precisava.

Agora que o carro do meu pai – finalmente – saiu da oficina, minha rotina havia voltado ao normal e eu não precisava mais de caronas ou de ônibus... Se bem que eu ainda ia com o Drew para a escola, mas isso era um pedido dele.

— É tão bom ver você socializando! — minha mãe exclama animada.

— Mãe — giro os olhos. — falando assim você faz parecer que sou uma excluída.

Ela maneia a cabeça.

— Mas você era. — ela diz e meu pai ri. — Não é nada pessoal, meu anjo, mas ter só dois amigos no colégio e não fazer outra coisa além de trabalhar e estudar, meio que te torna uma excluída mesmo.

— Ei! Eu tinha uma vida social, quer dizer, tenho!

Minha mãe sorri e beija o topo da minha cabeça.

— Tenho certeza que agora sim. — ela fala. — Se precisar de alguma coisa durante a noite, não hesite em me ligar, ok?

— Talvez eu precise mesmo, afinal estou indo dormir na casa da minha inimiga.

Dessa vez meus pais dão risada.

— Inimiga. Tá, sei... — mamãe murmura.

•••

Sofia não mora perto do centro da cidade – onde tudo está localizado –, então não chegamos tão rápido e eu adoro isso. Aproveito para cochilar já que não irei dormir direito esta noite, já que a Sofia estará por perto e eu não posso vacilar com ela – não quero despertar e ver meu cabelo com chicletes ou até de um jeito pior.

Escuto o barulho do motor desligando e acordo de supetão, olhando para todos os lados. O intenso movimento de pessoas é o típico horário de um sábado á noite em uma cidade que não tem nada para se fazer, á não ser rodar por aí sem parar.

— O que estamos fazendo aqui? — eu pergunto ao meu pai, que já está com a mão na maçaneta da porta.

— Preciso pegar uma coisa. — ele limita-se a dizer, o que é bem estranho já que meu pai fala muito.

— Que coisa? — questiono. Ok, talvez seja mal de família.

Ele suspira e depois dá uma risada.

— Foi você que perguntou. — ele me alerta, antes de começar: — Você não vai dormir em casa, então eu e sua mãe pensamos em...

— Pai! — grito, colocando a mão na frente da sua boca. — Eu já vou ter pesadelos suficientes essa noite, não me traumatize pelo resto da minha vida!

Ele ri e tira minhas mãos.

— Eu te avisei.

— Não te pergunto mais nada. — digo, virando-me para a janela.

Garotas VenenosasOnde histórias criam vida. Descubra agora