Capítulo 61

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Amélia

Eu tive que me lembrar o tempo todo de sorrir e fazer de conta que a viagem tinha sido uma maravilha. Enquanto jantávamos, meus pais não pararam um segundo sequer de fazer perguntas. Inúmeras delas. Não os culpo, afinal, se esses últimos dias tivessem acontecido como estava imaginando, agora eu estaria falando por puro prazer, igual uma doida.

Acontece é que nada saiu como eu esperava. Nada mesmo. Se antes eu já estava confusa sobre várias coisas, agora a situação só fez piorar e em dobro. Estou uma bagunça.

Quando meu despertador toca na fatídica segunda-feira de volta ás aulas, desejo apenas que um meteoro caia no meu quarto. Enrolo na cama por quinze minutos, mas sei que não posso ficar por mais tempo ou meus pais farão mais perguntas. Drew me mandou mensagens o final de semana inteiro, só que eu apenas as ignorava, assim como suas chamadas. Não estou evitando Drew – sei que é isso que está parecendo – estou apenas tentando evitar toda esta situação.

Enquanto tomo banho, não consigo deixar de pensar no quanto odeio a Emma e no quanto quero ensinar uma lição para ela. Esse provavelmente deveria ser o trabalho da Sofia, mas estou furiosa á ponto de bolar tantos planos em minha cabeça que fico até assustada.

Quando o susto passa, me dou conta de que ela merece. Por Deus, ela merece! Desde o inicio do ano a minha vida tem sido um bendito inferno, e tudo por causa daquela cobra!

Emma fez aquilo comigo porque ela me considera fraca. Para atacar a Sofia, ela precisa de artilharia da pesada. Comigo, ela sempre soube que bastava uma foto e um mero boato e então pronto... Eu estaria aos prantos, chorando no ombro de uma pessoa que á meses atrás era a minha maior inimiga e me sentindo completamente humilhada e desmerecida.

Eu agi exatamente como ela tinha planejado, caí em seu jogo e não havia me dado conta... Pelo menos não até agora.

Não mais, Emma... Você vai conhecer uma nova Amélia hoje.

Pensando nisso, pego a roupa mais provocativa que encontro em meu armário – algo que não usaria NUNCA para colocar meus pés no colégio. E, por falar em pés, pego um salto que usei á trezentos anos atrás. Nem sei se me servem mais, mas irei com eles.

Acho que está na hora de mudarmos o roteiro desta história.

•••

Meus pais não estão entendendo minha roupa ou a maquiagem no meu rosto.

— É algum tipo de brincadeira por que você é terceiro ano? — meu pai indaga, bebericando o café e tentando não exclamar por causa do tamanho da minha saia.

Não é que ele implique com roupa curta; Ele implica com roupa curta no lugar certo, que com certeza não é o colégio.

— Não.

— Então... Por que está vestida assim? — mamãe pergunta, sem conseguir comer nada. — E você está de salto! Sabe quanto trabalho dava para te convencer a usar um?

— Eu decidi mudar um pouco, estava me sentindo muito careta. — Falo a primeira coisa que se passa em minha cabeça.

Claro que se esse fosse mesmo o caso, eu não sairia da caretice para algo tão extremo de uma só vez. Até algumas semanas atrás, as únicas peças de roupas que eu me sentia confortável para ir ao colégio eram calças jeans, camisas de manga e algum casaco confortável – tudo isso, obviamente, calçando um bom par de tênis.

Hoje estou usando uma saia vermelha xadrez curta, uma blusa sem mangas preta acompanhada de uma jaqueta de couro que comprei para ir a uma festa á fantasia (a primeira e única que fui na vida, na época eu decidi me vestir como uma cantora de rock das antigas), uma meia ¾ e uma botinha preta de salto.

Garotas VenenosasOnde histórias criam vida. Descubra agora