Sofia
Eu não consegui tirar as palavras, ou o abraço, de Cintia da cabeça. Senti-me tão estranha ao ouvi-la falar aqui... Ao mesmo tempo em que quis me abraçar por... Sei lá... Ter feito alguma coisa boa, quis dar um murro no meio da minha cara por arrastar a auto-estima de alguém pro esgoto.
Sou popular, rica e maravilhosa, mas senti na pele o que Cintia passou quando me chamaram de perdedora. E olhe que continuei sendo magnífica, imagina ela?! O que não deve ter pensado? O quanto chorou? Quer dizer... Eu chorei quando fizeram comigo, por que com ela seria diferente?
Passo todo o jantar quieta – outro fato bem raro. Estou me sentindo estranha. Eu nunca fui de me importar com o que tinha feito ou quem eu tinha magoado ou deixado de magoar (até certo tempo atrás eu, literalmente, cagava para essas pessoas). Mas hoje... Hoje depois de ouvir Cintia falar aquilo... Ela realmente me perdoou. Eu consegui ver em seus olhos que ela estava falando, que ela... Estava orgulhosa de mim.
Talvez seja por isso que eu quero tanto me dar um soco.
Quando me deito para dormir, não consigo pregar os olhos. É a segunda noite desde que chegamos que eu não durmo, daqui a um tempo – se a situação se estender – não haverá colher congelada que resolva o problema!
Muito mais do que "não parar de pensar na Cintia", eu não consigo me concentrar com Noah ressonando baixinho no chão.
É por isso que antes mesmo do sol sequer surgir entre as nuvens e neve de Aspen, arrumo-me rapidamente e desço na busca de uma boa xícara de café. Por sorte, os funcionários do hotel também parecem sofrer da mesma insônia que eu.
O saguão de refeições está completamente vazio e não culpo ninguém – se eu estivesse normal, também estaria no décimo quinto sono. Encho uma xícara até a boca e acabo queimando as pontas do dedo.
— Merda! — reclamo, soltando a xícara em cima da mesa e enxugando os dedos na calça térmica. — Que...
— Bom dia!
A voz de Alicia irrompe pelo local e eu tenho vontade de jogar esse café nos meus ouvidos.
— O que você faz acordada? — pergunto mal humorada.
— Eu posso te fazer a mesma pergunta. — Alicia devolve com aquele sorriso idiota. Ela pega uma xícara de café também, mas ela coloca algo em volta. — Tente utilizar o protetor.
Giro os olhos e o pego, colocando na minha xícara.
— Eu já queimei os dedos mesmo. — falo e caminho até uma porta que vai do chão ao teto. Ela está fechada agora porque está nevando, mas dá para uma varanda consideravelmente grande e bonita.
— Não me diga que você está chegando de algum lugar.
Bufo.
— Queria eu.
— Por que acordou tão cedo então? Você não pratica aquele ditado do "sono de beleza"? Porque eu sim!
— Se você realmente praticasse jamais acordaria.
Alicia ri e toma um gole.
— Adoro a sua personalidade, Sofia.
— Você é tão chata... — Resmungo.
— E você continua falando comigo. Por que, então?
Olho-a sem saber o que responder. Por fim, faço cara de mesquinha e dou de ombros.
— Talvez eu tenha me acostumado com você.
— É, talvez... — Ela murmura, ainda rindo. — Se eu falar o motivo pelo qual estou acordada, você faz o mesmo?
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Garotas Venenosas
Teen FictionAmélia Harley define sua vida em uma única palavra: tédio. Além de não fazer parte de nenhum grupo social do colégio, possui apenas dois amigos: Josh Cohen e Grace Hill - ambos considerados seus amigos para sempre. A única coisa que movimenta sua pa...