Capítulo 25 (parte 1)

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Boa Noite! Eu sei, eu sei, foram uma semana inteira sem postar nada, mas em minha defesa, esse capítulo vale por dois, tem basicamente o tamanho normal de dois capítulos, tanto que terei que dividir, então mereço ser perdoada. 

Acho interessante vocês verem o lado do Fábio da história, principalmente pra que a gente veja o outro lado da moeda, que talvez alguns de vocês não tinham pensado. Como que o cara lidou ao descobrir o monstro que seu pai era? Me digam se gostou do capítulo, não estava nos planos mas eu acabei gostando do resultado. 

Grande beijo, e muito obrigada pelo carinho!

Fábio


Minha vida nunca foi fácil. Antes do meu pai virar um dos homens mais odiados do país, ele já não era alguém de quem eu me orgulhava. Ele nunca chegou a bater na minha mãe, provavelmente com medo, já que ela sempre o avisou de que o mínimo toque violento o levaria à cadeia no minuto seguinte. Mas ele a magoava, sempre magoou com suas traições mal escondidas, e seus acessos de raiva corriqueiros.

Qualquer mínima coisa que eu fazia, era motivo para uma surra. Desde derramar café na mesa, à filar aula no colégio. E por isso, adolescente como era, eu o odiava tremendamente. Mas tudo mudou quando ele não voltou pra casa na noite de 18 de maio de 2008. Eu tinha ido dormir na cama da minha mãe, porque havia acabado de ter um pesadelo, e percebi que ele não estava em casa. Suas mãos gentis haviam afagado meu cabelo até minhas pálpebras pesassem e o sono dominasse meu corpo. Mas o mundo que eu tanto detestava, pareceu um conto de fadas a partir do momento em que eu acordei para vivenciar o meu próprio inferno particular.

Meu pai estava morto. Mas essa não era a pior parte da história. Ele havia infartado depois de matar um casal a queima roupa, enquanto estuprava uma menina de onze anos. Nada fazia menos sentido pra mim. Quer dizer, ele não era o melhor pai do mundo, estava bem longe disso, mas não podia ser aquele monstro que os policiais estavam descrevendo pra minha mãe.

Mas era.

Todos os jornais falavam dele. Minha mãe se negou a ir ao seu velório, e ele foi enterrado por responsáveis da funerária da família. Me lembro como se fosse hoje, da cara da minha mãe ao assistir o noticiário, ou a andar na rua, ou ir ao supermercado. Ela tentava ser forte, tentava não desabar ao ouvir os absurdos que o próprio marido, o homem que um dia ela jurou amar, havia feito. Ou ao ouvir os murmúrios onde ela passava, ou olhar de pena da moça do caixa. Ela se mostrava forte, mas eu sabia que ela estava desabando. Isso porque eu ouvia seu choro a noite, mesmo que ela tentasse esconder de mim.

Voltar a escola, foi um desastre. As pessoas se recusavam a andar comigo, riam de mim, e me apontavam nos intervalos. Na sala de aula, eu me sentava sozinho, fazia os trabalhos em grupo, sozinho, por que ninguém se disporia a passar qualquer tempo que seja ao lado do filho de um assassino estuprador. Os professores compreendiam que obrigar os alunos a lidarem comigo, apenas pioraria a situação, e permitia que todas as minhas atividades fossem individuais. Por um lado, foi bom. Assim eu soube quem eram meus verdadeiros amigos, que era... Ninguém. Por que nenhuma amizade é forte o bastante para lidar com uma situação como aquela.

2008 foi o pior ano do mundo. Aos poucos as pessoas foram se esquecendo. No ano seguinte, minha mãe se mudou, e as pessoas não nos reconheciam, nem nos aliavam ao mostro do meu pai. Na escola nova, eu voltei a me enturmar e no final daquele ano, minha mãe começou a namorar o meu padrasto atual.

Ele é calado, e confesso que no início eu não aceitei muito bem. Me trancava no meu quarto e me recusava a sair quando ele estava lá. Mas depois, comecei a ver o que ele fazia com a minha mãe. Comecei a vê-la sorrir, e eu não me lembrava de quando tinha visto aquilo. Aos poucos, participei das refeições que ele participava, e logo, estávamos os dois assistindo ao jogo do Corinthians e gritando feito louco a cada gol do nosso timão. É, ele é um cara legal. E menos de um ano depois, veio morar com a gente.

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