Capítulo 3

2.8K 240 36
                                    

Era dia da Luana ficar na casa no Gustavo. Ou seja, sobrei. Normalmente, nesses dias eu ficava em casa, moscando. Ou estudando, vendo alguma coisa aleatória na TV, fuçando na internet, vendo séries repetidas.

Só que eu simplesmente, não conseguia ficar em casa. Minha mãe, depois que eu entrei pra faculdade e passei a ter mais responsabilidade, voltou a trabalhar e meu pai, nunca parou, então, eu ficaria sozinha em casa a tarde toda. E havia uma coisa na minha cabeça que não saía.

Rafael.

Não. Eu não pensava nele de uma forma romântica. Não. Era de uma forma amiga e com vontade de ajudar. Eu queria começar a ajudar, sempre quis mas nunca tive coragem.

Eu precisava.

Me lembrei que numa avenida perto de casa tinha uma clínica de reabilitação e falavam muito bem da mesma.

Entrei, respirando fundo mesmo que isso fosse uma completa idiotice e dramatização já que nada estava acontecendo.

Se acostume. Eu sou bem dramática.

Não fazia a mínima ideia de como funcionavam essas coisas.

- Oi. É... Eu queria saber umas coisas... Pra ajudar um amigo. - A moça da recepção me olhou com uma expressão de "estou esperando você falar" - Qual seu nome?

- É Elisa. - A moça disse. - Se eu puder ajudar.

- Bom. É que eu tenho um amigo que está envolvido com drogas e enfim, eu queria ajudar.

- Primeiro, ele quer ser ajudado?

- Não sei.

- Olha moça... Ah. Tem um grupo de ajuda... Para quem ainda não tem certeza se quer ficar na reabilitação. É meio que experimental.

Me animei.

- Ótimo. É só trazer a pessoa?

- Sim.

- Obrigada.

Saí dali feliz. Já tinha dado o primeiro passo. Sei que não é grande coisa, mas já era alguma coisa.

Por um instante eu esqueci do principal.

Eu não sabia nem mesmo onde o Rafael ficava, nem se ele queria, nem se ele estaria em condições para ser ajudado. Eu não fazia ideia de nada. Nada. Que tipo de pessoa faz isso? Eu nem sabia se o Rafael lembraria de mim.

Céus. Isso não vai dar certo.

Parei numa lanchonete pra comer alguma coisa e pra ver se vinha alguma ideia de por onde começar na busca do Rafael. Ia ser difícil e cansativo. Eu não fazia ideia nem por onde procurá-lo.

Quando terminei de tomar o café, veio uma luz. Uma lâmpada piscou.

Os pais do Rafael. Era uma ideia muito ruim? Que eu saiba, eles ainda moravam na mesma casa, não custava nada ir até eles. Não havia mais ninguém que pudesse me ajudar nisso.

Sabe aquela sensação de quando o xixi está quase descendo? Foi o que aconteceu comigo quando toquei a campainha da casa ou ex-casa do Rafael e a mãe dele apareceu na porta. Meu deus.

- Dona Luci?

- Eu mesma. - Ela estava mais acabada. Talvez pelo fato do desgosto vindo do filho.

- Sou a Melissa. Não sei se você vai lembrar de mim...

- Vagamente. Amiga do Rafael? - Ela perguntou, forçando a vista.

- Sim. Sim.

- E eu poderia ajudar em que?

- Então. Eu queria tentar ajudar o Rafael.

Antes que eu pudesse continuar a falar, ela indicou para que eu entrasse. Eu nunca tinha ido à casa do Rafael mas haviam fotos dele na parede da sala. E um pequeno porta retrato dele com os pais.

Nunca deixaram de o amar, e pelo visto, nunca deixariam.

- Quem é a moça? - O pai dele perguntou.

- Oi seu João. É Melissa.

Ele acenou com a cabeça.

- Você disse que quer ajudar meu filho? - Dona Luci prosseguiu.

- Isso. Eu sempre quis mas... Não tinha coragem e agora... Eu vi ele numa festa e estava tão... Mal. Eu quero ajudar. Tentar ajudar. Vocês tentaram colocá-lo em algum centro de reabilitação?

- Tentamos. Logo quando começou. Mas ele relutou ao máximo. Você sabe essa história. Ele nunca quis. - Ela falava, como se lembrasse de tudo em um segundo.

- Eu queria tentar uma espécie de centro de ajuda. Mas eu não sei onde o Rafael fica. Onde ele costuma... Bom...

- Fumar. - O pai disse.

- Sim. Vocês sabem?

- Nunca contamos isso pra ninguém. Mas nós vamos ver o Rafael todos os dias. Paramos o carro e ficamos observando ele de longe. Hoje é mais fácil lhe dar com isso... No início era mais difícil. - A mãe dele falou.

Fiquei chocada. Ainda viam ele sempre.

- É na Avenida principal. Na Rui Barbosa. Ele fica lá sempre.

- Quero muito tentar. - Falei.

- Ah, filha, se conseguir nos conte, há fazem dois anos.

- Avisarei.

Saí feliz. Contente comigo mesma. Já tinha conseguido a primeira informação.

Não ia ser nada fácil. Se o Rafael ainda continuasse o mesmo cabeça dura de sempre, ia ser quase impossível, arrisco dizer.

O importante era pelo menos tentar. E depois desses anos, me sinto meio que em dívida. Demorei dois anos para dar o primeiro passo de ajudar um amigo. Sei que foi um amigo não tão amigo mas eu tinha esquecido as coisas ruins. Não me levaria à nada guardar mágoas de alguém que me prejudicou sim, um dia, mas que agora precisava de ajuda, mesmo que não quisesse.

Não podemos ajudar quem não quer ser ajudado mas podemos tentar e arriscar. Eu arriscaria. E iria até o fim. Até eu receber o último não. Ou talvez um obrigado.

É sonhar alto demais, eu sei. Mas pode anotar. Vou até o fim e ninguém ia mudar isso. Nem a Luana. Que até agora, não fazia ideia do que eu estava planejando. E juro, eu temia.

Digamos que a Luana não é uma das pessoas que mais aceitam coisas que ela não quer. E eu teria que contar. E o Gustavo? Como ele iria reagir?

Por um momento, cheguei a pensar se eu devia mesmo contar. Afinal, eu não tinha certeza se ia dar certo e contando, eu poderia criar falsas esperanças para o Gustavo.

Eu podia só torcer. Torcer pra dar certo. Torcer pra eu achar o Rafael. Torcer pra ele querer ajuda.

Estou torcendo.

★★★

E começou a saga de ajuda ao Rafael. Será que vai dar certo?!

Li alguns comentários falando pra eu fazer um capítulo com o Rafael narrando. Então, eu não sei se isso faria muito sentido e nem eu sei o que ele diria para acrescentar algo a história. Algo que fizesse ter um capítulo digno. Me entendem? Mas como sempre, as ideias de vocês me fazem pensar e quem sabe... Mais pra frente, quando descobrirmos mais sobre ele, não rola um especial falando do ponto de vista dele como foram os dois anos passados, o que está acontecendo agora, etc. O que acham? Me contem e lógico, se tiverem mais idéias, estou sempre lendo!

Beijos. ❤

P.s: Vou me esforçar para postar todo domingo!

Quase Amigos #2Onde histórias criam vida. Descubra agora