Capítulo 20

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Eu já tinha calculado tudo pra tarde de quinta-feira que eu havia planejado ir ver o Rafael. Planejei e planejei mas parece que quando chega a hora, meu corpo trava de medo e de insegurança.

Eu mesma fiz um bolo - sim, eu fiz - talvez não tenha ficado tão bom, mas tinha uma cara boa. O próximo passo, era só convencer a Luana de ir comigo.

Ela evitava entrar na conversa sobre o Rafael, sempre dizia que não sabia.

Eu sei, eu sei. Sei que é difícil pra ela mentir pro Gustavo, mas ele nem ia ficar sabendo direito. Melhor... Ele não ia nem sonhar com isso. Posso parecer egoísta em querer que ela esqueça isso do Gustavo e aceite ir comigo. Talvez eu seja um pouco egoísta mesmo. Mas não é por mal. Eu só queria que ela fosse. Só isso.

Aproveitei que quinta-feira era exatamente o dia dela passar a tarde comigo, e a gente foi almoçar na lanchonete perto da faculdade.

- E aí, você vai hoje? - Perguntei, tentando não pressionar.

- Mel... Eu não sei.

- Não sabe? Mas é daqui a pouco, Luana.

- Eu sei disso. - Ela tomou um gole do suco. - É difícil pra mim, Melissa! Pode parecer fácil, mas eu tô enganando meu namorado!

- Tá Luana, eu sei disso! - Eu não estava estressada. - Mas eu sou sua melhor amiga né... - Sorri.

- Lá vem...

- Por favor, Luana! Por mim! - Juntei as mãos, como se implorasse.

- Ai... Tá bom! Pra você parar de me encher!

Vibrei, convencida. A Luana indo, eu ficava mais segura em ir vê-lo. Confesso que aquele lugar me dava medo, aquelas pessoas, tudo.

Eu nem sabia se o Rafael ia gostar que eu estivesse indo lá de novo. Alguma coisa, internamente, me dizia que ele não gostava, mas que ao mesmo tempo, se sentia bem em ver que alguém se preocupava com ele. Isso era o que eu achava e gostava de achar.

Pode ser que eu só esteja iludida com o fato de querer que ele fique melhor. E querer que ele largue essa vida.

Segundo a Luana, eu realmente estava bem iludida e o Rafael nunca ia acordar, e se acordasse, seria tarde.

- Já disse que essa sua insistência com o Rafael é desnecessária, ele não vai nunca...

- Luana, você já me disse isso no mínimo, quinhentas vezes. - Falei, pegando o bolo na geladeira.

Sem querer puxar a sardinha pro meu lado, mas já puxando, meu bolo tinha ficado lindo. Fiz uma cobertura de brigadeiro que ficou brilhando, e o formato redondinho estava impecável.

- Desculpa, mas é que eu não aguento ver você fazendo mil coisas que não vão adiantar de nada! - A Luana veio me ajudar com o bolo.

- Não custa tentar.

- Espero que o Rafael pelo menos divida esse bolo com a gente...

- Luana! - Eu ri. - Só você.

- Quer dizer... Seu cérebro magnífico pensou em levar pratinho ou guardanapo? Ou você acha que tem isso naquele lugar?

- Verdade... - Eu tinha esquecido completamente e redondamente desse fato. Onde ele ia comer o bolo? - O que você acha da gente partir? E levar os pedaços?

Foi a única ideia que surgiu na minha cabeça.

- Melhor né. É bom que eu experimento. - Ela falou, começando a cortar o bolo.

Cortamos o bolo em alguns pedaços. Comemos alguns, não vou negar. E sobraram uns cinco pra levar.

Pegamos um uber e em minutos, que pareceram segundos, já estávamos em frente à aquele lugar.

Àquele lugar. Eu não sabia que nome dar à aquele beco em baixo de uma ponte.

Como sempre, senti minhas mãos soando e parecia que a vasilha com os pedaços de bolo, iam cair da minha mão.

A Luana parecia mais despreocupada que eu. Tentei me concentrar para não tremer e ficar calma. Não sei porque eu sempre sentia isso.

As lembranças sempre viam na minha cabeça, o medo de encontrar um Rafael pior do que da última vez.

Ele estava ali. No mesmo lugar da outra vez. Nos viu de longe e soltou um riso. De deboche.

- Oi. - Falei, forçando a voz para sair algum som.

- Vocês não cansam? - O Rafael falou, mostrando os seus dentes, cada vez mais amarelos e podres.

- A gente veio trazer uma coisa pra você. - A Luana falou. Ela viu que eu não estava conseguindo falar muita coisa.

- Aé?

- Aqui. - Entreguei a vasilha com bolo.

- Desculpa mas acho que vocês erraram a data... Não é meu aniversário. - Ele falou, devolvendo a vasilha.

- Eu sei que não é. Eu trouxe só porque eu quis. - Falei, recusando receber a vasilha.

- Entendi. Então, vocês me trouxeram um bolo do nada? - Ele se aproximou de nós e começou a rir, de uma forma debochada.

- É, Rafael. Trouxemos pra ver se você não parava de se drogar feito um... lixo. Queríamos só ajudar! Mas você não deixa, eu sei! E mesmo assim, a Melissa acha que vai conseguir te fazer mudar e fazer você voltar a viver sua vida normalmente, mas não vai! Eu sei que não vai, porque você nunca ligou pra ajuda de ninguém! Você não sabe das inúmeras vezes que seus pais quiseram te ajudar! - A Luana falava num tom que não era alto, mas da forma que dizia, parecia agressivo. O Rafael nos encarou profundamente enquanto escutava aquilo. - E você também não sabe das inúmeras vezes que o Gustavo chorou por você! Ou do tanto que ele ainda se importa com você, mesmo que ele negue! Você não sabe de nada disso...

- Gustavo? - O Rafael questionou. - Ele me abandonou. Nunca veio atrás de mim. Talvez eu ligaria para alguém... Mas todos que vêm aqui ou que se dizem preocupados, me procuraram depois de sei lá quanto tempo... Pra que? Do que adianta?

Dessa vez, ele se levantou e falou mais perto de nós. Ele cheirava mal, não só nas roupas, mas seu hálito era podre. Me doeu.

- O Gustavo nunca veio atrás de você mesmo... Mas será por que? Ia adiantar alguma coisa? Ele não consegue nem ouvir seu nome, Rafael. Ele não suportaria te ver assim, eu sei que não. E você continua achando que ninguém liga pra você...

- Parabéns. As duas já vieram aqui e já deram o showzinho. Sorte que o pessoal aqui é muito camarada e não vieram botar medo nas duas princesinhas. Obrigado pela visita. - Por um momento, parecia que o olhar dele vacilava e tudo não passou de um delírio. Como se ele não se importasse com nada que dissemos. Ele cambaleava e quando pronunciava as palavras, algumas saiam emboladas demais.

- Rafael, eu quero só te ajudar. Por favor... - Falei, tentando não chorar.

- Quer me ajudar? - Ele gargalhou. - Vai embora, Melissa! Vai achar alguém pra te satisfazer!

A Luana me tomou pela mão e antes que eu pudesse escutar mais alguma coisa, já estavamos dentro do táxi, no caminho pra casa.

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Desculpas pelo atraso! Não foi proposital, eu esqueci totalmente de vir postar! 🙈

O que acharam? O Rafael tá muito na defensiva? Me conteeem!

Beijos. ❤

Quase Amigos #2Onde histórias criam vida. Descubra agora