Capítulo 14

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A história de ir na clínica de reabilitação foi levada a sério. Eu queria mesmo ir todas as quintas-feiras, escutar Rodrigo e Felipe falando com os viciados ou ex- viciados. Eles sempre diziam como superaram e o quão difícil é. Depois da minha última visita ao Rafael, eu vi que não seria só ir querer ajudar e puxar ele pela mão. Ia ser necessário entender mais daquilo, ver de uma forma diferente como era viver ali, mesmo que eu nunca fosse entender completamente.

Eu já estava sentada na roda, esperando todos chegarem quando me lembrei da festa. E que o Felipe tinha me visto, que a gente tinha se esbarrado na festa e dez segundos depois, eu estava atracada com um cara.

- Oi, Melissa. - Ele sorriu ao me cumprimentar.

- Oi. Tudo bem? - Eu respondi, tentando retribuir o sorriso.

- Tudo. Com você... Deve estar tudo ótimo... Depois da festa de sábado né...

Eu não sabia onde colocar minha cara. Era vergonhoso me lembrar que ele tinha visto tudo...

- Foi ótima mesmo. - Falei, convencida e tentando não demonstrar que eu tinha ficado desconfortável.

- Percebi.

- Pena que você não aproveitou tanto... - Foi de propósito que dei uma certa alfinetada nele.

Ele apenas me olhou no fundo dos olhos, apertando os mesmos, como se discordasse de mim ou tentasse achar uma brecha para dizer alguma coisa. Ou talvez apenas contemplando a minha tentativa de não perder a pose.

- Vamos pessoal? - Meus pensamentos foram interrompidos pelo Rodrigo.

E eu dei graças a Deus por isso. Não queria escutar o Felipe falando alguma coisa sobre a noite que eu aproveitei muito bem. E não me arrependo.

Tinha uma menina na roda que me impressionava muito. De aparentemente uns 17 ou 18 anos, mas ao contrário de mim que também tenho 18 anos, estava com os olhos fundos, o corpo mole. Parecia sóbria, acho que eram mais marcas do que vivia do que a realidade do agora. Ela não falava muito, pelo menos não desde que cheguei.

Eu gostava de observar como todos se comportavam durante os encontros. Alguns falavam mais, outros escutavam mais. Quem mais me impressionava era uma mulher, de uns 25 anos, que aparentava estar muito bem, mas pelo que nos contava já tinha ficado no meio das drogas por muitos anos. E agora estava bem, conversando e tinha até um trabalho. Esse tipo de coisa que me fazia crer que o Rafael também podia sair dessa.

Tinha um novo rapaz na roda, ele não parecia tão acabado. Mas também não tinha a melhor das aparências.

- Pessoal, esse é o Lucas. - O Rodrigo falou, apontando para o rapaz. - Por favor Lucas, conte sobre você um pouco. Se quiser... é claro.

- Eu tenho 19 anos. Eu morava com meus pais e quando tinha uns dezessete anos comecei a me envolver com as drogas... Influência de amigos que fumavam só por brincadeira, mas eu me envolvi de verdade. Traficava e fumava bastante. - Ele fez uma pausa, como se observasse nossas expressões. - Parei faz uns cinco meses.

- Posso fazer uma pergunta? - Perguntei, sem pensar duas vezes. Eu queria saber mais. O garoto era tão jovem quanto o Rafael e conseguiu parar.

O Rodrigo me olhou, como se não fosse adequado fazer perguntas, afinal aquilo não era uma entrevista.

- Eu acho que...

- Tudo bem, Rodrigo. Pode fazer. - O rapaz disse, me olhando, aguardando a pergunta.

- Por que você decidiu parar? Eu digo, como você conseguiu... Teve ajuda de alguém? - Acabei adicionando muitas interrogações na minha pergunta.

- Minha irmã. Ela tem dezessete agora, e viu que eu precisava de ajuda. Meus pais já tinham desistido e tudo... Eu não sei porque ela quis tanto que eu largasse as drogas, mas ela me visitava no lugar onde eu costumava fumar... Me falava coisas que no início eu ignorava, achando que era só uma tentativa de me tirar da rua pra livrar a reputação dos meus pais. Mas não. Eu vi que ela se importava, ela levava comida, passava um tempo comigo... Eu percebi que estava acabando com a minha vida, mais do que já estava acabada.

- Fico feliz que sua irmã tenha tomado essa decisão, de te ajudar. - Falei.

- Comigo também foi assim. Mas foi um amigo meu que me ajudou. Ele contava as coisas legais que fazia sendo um adolescente normal e eu me vi perdida, num lugar sujo e horrível. Perdendo meus amigos, minha vida, minha família, e a chance de ter um futuro. - A menina que tinha cerca de 17/18 falou. Ela ficou cerca de três anos com as drogas. Agora estava melhor, já fazia meio ano que ela tinha saído desse mundo.

- Bom, seja bem-vindo Lucas. Espero que você possa dividir com a gente seus aprendizados com tudo isso... - O Felipe falou, colocando a mão no ombro do rapaz.

Começamos a mesma coisa de todo dia depois de dar as boas vindas ao Lucas. Não consegui prestar atenção na discussão de hoje. Eu só pensava em planos para ajudar o Rafael, baseado no que o Lucas disse.

Se eu fosse visitá-lo, contar das minhas coisas, levar comidas pra ele (não sei quem vai cozinhar pra eu levar pra ele, eu não tenho dotes pra isso).

Eu já estava com metade do pé pra fora da clínica quando o Felipe me chamou.

- Melissa! - Ele gritou.

- Oi?

- Desculpa por ter falado de sábado... Eu não tenho nada a ver com isso...

- Ah, tudo bem. Eu também fui grossa. - Reconheci. Apesar de ter sido grossa só porque ele jogou indiretinhas.

Ele sorriu, satisfeito.

- Tchau então e até mais. - Falei.

- Tchau. - Ele respondeu, com um aceno.

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Beijos ❤

Ah, esses dias eu postei uma coisinha lá no instagram do livro @quase_amigos , tem pouca coisa porque eu tinha esquecido a senha!

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