Capítulo 20-"O Canto do Desesperado"(Part. 3)

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Me soltei de Hannah e dei dois passos a frente, em direção a minha mãe, não acreditando em meus próprio olhos. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas não estava me importando com elas. Tudo que me importava era a mulher confusa a minha frente.

Era a mesma mulher que havia ficado presa no limbo 7 anos atrás. Todos os detalhes dela estavam ali. Ela não havia envelhecido, mas seus olhos pareciam cansados e o brilho deles era fraco, como se a chama deles estivesse prestes a apagar.

Era de se esperar isso, já que ela passou tantos anos no limbo sofrendo dia pós dia.

— O que...? —ela falou, sua voz fraca e confusa

As lágrimas agora corriam mais forte e eu podia sentir meu rosto se contorcendo numa careta de choro. Por um lado eu estava feliz, minha mãe estava ali. Meu pai finalmente havia conseguido.

Por outro, uma rachadura havia sido aberta nos planos. Rachadura essa que permitiria Lúcifer ser livre.

"Pelo canto do desesperado, os planos irão ceder, e a luz irá se erguer"

E lá se foi uma parte da profecia. A luz estava se erguendo, mas não era a luz boa. Era apenas Lúcifer, o anjo de luz caído mais perigoso da história da criação.

O "canto do desesperado" era obviamente o feitiço ou seja lá o que meu pai fez para tirar minha mãe do limbo.

Assim que me dei conta disso tudo, o peso em minhas costas pareceu aumentar. Meus pensamentos estavam confusos e minha visão embassada pelas lágrimas.

Pude ver, em meio ao borrão que o mundo a minha frente havia virado, minha mãe correndo até mim e me segurando em seus braços.

A sensação do abraço dela me acalmou um pouco. Tomei liberdade para encostar minha cabeça nela e deixá-la lá, onde poderia descansar um pouco e fingir que o apocalipse não estava a minha porta, apenas esperando para entrar e acabar com tudo. Fingir também que eu e toda minha raça de mediums não estavamos condenados a carregar o fardo de impedir que a raça humana fosse dizimada.

— Minha Elizabeth... Eu... Eu não entendo... Você está tão grande! Você era uma garotinha.... Como pode...? O que...?

Desincostei minha cabeça e a olhei nos olhos, notando novamente o quão parecidos com os meus eles eram.

— Mãe, temos muito que conversar...

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Já estava perto do anoitecer quando terminei de contar tudo para minha mãe. Contei desde o dia em que ela ficou presa no limbo, até os dias mais recentes, vendo-a ficar com os olhos cheios de lágrimas de medo e pena.

Fomos para o lado de fora da casa onde Sebastian poderia participar da conversa também. Hannah escutava tudo com atenção. Sua expressão não dizia muito, mas sua aura estava agitada em desespero ao ouvir tudo que eu revelei.

Assim que terminei de falar, minha mãe passou as mãos no rosto e olhou para o horizonte.

— Matt não deveria ter feito isso... Eu sei que feitiço ele usou para me tirar do limbo. Ele não deveria tê-lo usado.

— Que feitiço é esse? —perguntei

— Um feitiço antigo e poderoso do Carminum Liber. É chamado de "Rimas", que significa "fissuras" em latim. Se feito corretamente abre uma rachadura em todos os planos existentes em qualquer lugar do universo. Rachadura grande o suficiente para tirar alguém de um limbo, já que as partes da alma e da matéria presas nos planos teriam livre acesso para se conectarem novamente pela rachadura aberta."

— Mas infelizmente essa rachadura está servindo de válvula de escape para Lúcifer. —disse, sem emoção na voz

— A rachadura é pequena demais para que ele saia de imediato. Levará algum tempo para que ele finalmente saia, mas não muito. Eu daria uma semana no máximo.

Ri secamente e me levantei, me segurando no corrimão da varanda.

— Ótimo. Temos uma semana para descobrir um jeito de parar a ascensão de Lúcifer e tampar a droga da rachadura nos planos.

Olhei para minha mãe e vi em seus olhos tristeza. Franzi o cenho e cerrei os olhos.

— Minha pequena, eu sinto muito... Não podemos impedir isso. A profecia tem que se cumprir. —ela falou, se levantando e vindo mais para perto de mim — Algo grande está vindo, algo grande será ergido; Algo que não irá se render, algo que não irá ceder.

As linhas da profecia que ela recitou só me fizeram sentir ainda mais desespero.

"Algo que não irá ceder..."

Meus pensamentos se esvaíram assim que vi a luz de um carro atingir a casa.

Me virei rapidamente para ver meu pai saindo do carro, olhando para minha mãe, sem acreditar no que via. Meu tio saiu também, fazendo a mesma cara ao ver a irmã.

Minha mãe então correu na direção de meu pai que a abraçou assim que ela chegou perto dele. Lágrimas caíam de seus olhos e ele a segurava com força, como se tivesse medo de que ela fosse desaparecer a qualquer instante.

Baixei os olhos para o chão. Eu deveria estar feliz por isso. Minha família estava reunida novamente e minha mãe fora do limbo. Mas tudo que eu sentia eram emoções negativas.

Medo do que estava por vir; Tristeza por não poder aproveitar que minha mãe estava de volta sem ter de lembrar que o preço de sua volta era o maldito apocalipse; Raiva por meu pai ter feito aquilo sem pensar em consequências; Cansaço por sentir tanta responsabilidade em minhas mãos; E finalmente vinha uma sensação estranha de que alguma coisa ruim iria acontecer além do apocalipse. A sensação de que algo estava prestes a acontecer diante dos meus olhos mas eu não fazia ideia do que era.

Senti Sebastian se aproximar de mim e senti a vontade de me aconchegar em seus braços. Quis que, naquela hora, ele fosse humano para que pudesse me confortar nele. Olhei em seus olhos e a angústia que sempre me deixava intrigada estava estampada neles, borrando o azul deles e os deixando mortos. Olhei para Hannah que observava meus pais com atenção. Podia sentir o medo vindo dela mas percebia que ela estava feliz por ver meus pais juntos novamente depois de tantos anos.

Agora ela estava em perigo, e eu precisava protegê-la. Não podia permitir que ela se machucasse, e eu faria tudo ao meu alcance para protegê-la.

Olhei novamente para os meus pais, todos aqueles sentimentos ruins sendo substituídos por um vazio incomodo. Juntamente com o som ensurdecedor de uma risada de prazer em meus ouvidos.

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