Capítulo 45-Peniel(Part. 1)

101 13 0
                                    

ELIZABETH

Caos.

Isso era tudo que parecia existir naquele momento a minha volta e em mim mesma. As pessoas falavam a minha volta mas eu não parecia conseguir ouvi-las. Minha cabeça estava uma bagunça, tentando processar informações que me cercavam e tudo que havia aprendido nas últimas horas.

Assim que acordei de meu desmaio após lutar com Nix contra Lúcifer me encontrei numa cama confortável em um quarto luxuoso com Sebastian sentado ao lado da cama, me encarando. Ele me contou o que havia acontecido enquanto eu estava fora e eu estremeci ao ouvir sobre Elric. Ele era apenas uma criança...

Contei a Sebastian sobre os novos planos, explicando em detalhes cada um deles, fazendo-o arregalar os olhos a cada detalhe. Contei-lhe tudo, menos um pequeno detalhe que não podia me permitir falar em voz alta. Contar a Sebastian como iríamos derrotar Lúcifer não era uma opção ainda.

Assim que me senti confiante para sair do quarto, peguei meu cajado, que agora estava na sua forma original, e caminhei para a porta. Só então notei que estávamos em um hotel. Sebastian teve de me explicar que estávamos num prédio no meio da cidade do Cairo onde jovens mediums moravam enquanto estavam em treinamento. E que os donos eram os pais do Elric.

Assim que chegamos no lobby, tudo pareceu virar uma bagunça. Todos os mediums que ali estavam avançaram em nós, alguns preocupados com meu estado, alguns gritando insultos para Sebastian. Meu tio e minha mãe apareceram do nada, nos protegendo da horda de pessoas enfurecidas.

Os gritos de todos ali, misturados com a bagunça que era minha mente parecia estar me deixando louca. Senti o mundo girar aos meus pés e tudo ficou em silêncio, exceto por uma voz.

Essa voz não era para estar ali. Eu deveria estar ficando louca, mas não, eu podia ouvir claramente a voz de meu pai chamando meu nome como um sussurro em meus ouvidos.

Tão rápido como veio, a sensação passou. Pisquei algumas vezes e sacudi a cabeça, antes de me irritar ao ouvir os gritos das pessoas a minha volta novamente.

— PAREM! —gritei

As vozes se calaram e eu esfreguei minhas têmporas, ainda sentindo a tontura do que quer que tenha acontecido momentos atrás. Olhei para a multidão que me olhava de volta, um brilho feroz em seus olhos.

— Primeiro: sim, eu estou bem. —falei depois de respirar fundo — Segundo: Parem de xingar o Sebastian.

— Ele matou nosso filho! Foi culpa dele! —uma mulher gritou

Olhei diretamente para ela e não demorou para saber quem era. As olheiras em seus olhos de tanto chorar pareciam negras em sua pele pálida, seus cabelos negros completamente bagunçados. Era a mãe de Elric.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Sebastian deu um passo a frente e continuou andando até chegar na mulher. Seus olhos azuis exibiam um olhar duro e seus lábios estavam trincados em uma linha fina. Achei que Sebastian fosse brigar com ela, mas, ao invés disso, ele caiu em seus joelhos em frente a mulher, seus olhos fitando o chão, e suas mãos fechadas em punho, tremendo, como se fosse desabar a qualquer momento.

— Eu peço perdão. —ele falou, sua voz baixa e frágil — Foi minha culpa. Eu não queria que acabasse assim. Se eu pudesse tomar o lugar dele eu tomaria, mas infelizmente eu não posso. Então, por favor, eu só peço que acreditem que eu nunca quis que aquilo acontecesse.

A mulher parecia abalada. Não parecia saber como reagir àquilo. Ela engoliu em seco antes de virar as costas e caminhar para longe. As pessoas ao redor pareciam estar tão pasmas quanto a mãe de Elric estava.

Caminhei até Sebastian, pondo uma mão em seu ombro, vendo ele colocar uma mão em cima da minha. Ele estava chorando.

— Venha, vamos sair daqui.

x

Minha cabeça estava doendo como se fosse explodir. Nem mesmo remédios foram capazes de melhorar a dor. Sebastian estava dormindo dentro do quarto enquanto eu estava sentada na varanda, olhando a paisagem e esperando que aquela dor passasse.

Já eram quase 4 da manhã e eu não havia dormido mais depois que acordei de meu desmaio. Respirei fundo e olhei para o céu, vendo as estrelas, me perguntando se aquilo era Nix, ou apenas uma cópia dela naquele plano. Tinha que perguntar algum dia.

Fechei os olhos, sentindo a pontada de dor na minha cabeça começar a aumentar gradativamente. Estava ficando insuportável. Me encolhi na cadeira, sentindo a vontade de gritar pela dor que aumentava, mas o som não saía. Meu corpo estava paralisado com a repentina dor. Pude sentir quando caí no chão e pus as mãos em minha cabeça, com dificuldade.

O que diabos estava acontecendo?

Subitamente, a dor parou e me senti deitada numa superfície mais gelada que o chão da varanda do quarto. Abri os olhos e notei a escuridão me cercando e entrei em desespero. Onde eu estava?

— Não se preocupe, Liz, você está bem. —ouvi a voz do meu pai falar e me virei rapidamente, vendo-o de pé na escuridão, olhando para mim

— Pai...?

Ele parecia acabado. Seu rosto estava mais pálido que o normal, com olheiras debaixo de seus olhos. Sua boca estava tão seca que haviam feridas se formando nela. Mas seus olhos estavam em pior situação. Pareciam estar perdendo a cor. O azul acinzentado que tanto admirava nele estava apagado, quase chegando a um tom branco doentio.

— O que houve com você? —perguntei, me levantando do chão e caminhando até ele, tocando em seu rosto

Ele estava gelado, como se estivesse morto.

— Eu devo estar horrível, não é? —ele deu uma risada sem graça — Minha alma foi arrastada por muito tempo já. Devo estar em péssima forma.

— Como... O que está fazendo aqui? Como chegou aqui?

— Lúcifer parou de se mover, está descansando meu corpo para a última viagem. Ele acabou descansando sua essência também, me dando liberdade para conseguir achar você e lhe dar esta mensagem.

— Que mensagem?

— Lúcifer está se preparando para acabar com isso de uma vez por todas. Ele está contando com você não saber a localização da sua próxima parada...

Os olhos do meu pai se arregalaram, ainda olhando para mim, e eu pude ver o seu corpo, tensionar. Ele engoliu em seco e deixou que um tremor passasse por todo seu corpo.

Antípoda.

Depois dessa palavra, acordei no chão da varanda, suando frio e respirando pesadamente, tentando entender o que meu pai quis dizer com aquilo, e sentindo as lágrimas começarem a correr pelo meu rosto.

Eu pude ver em seus olhos. Ele estava em perigo.

Medium (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora