Capítulo 4-Sombras(Pt. 1)

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Sexta-feira, finalmente. Cheguei em casa do trabalho, cansada, após ter feito mais horas extras. Eu ainda iria dar um jeito de castigar minha chefe por ser tão estúpida a ponto de deixar uma garota de 16 anos ir pra casa quando já iria dar quase meia noite.

Joguei minhas coisas no chão perto da porta e olhei ao redor. Meu pai não estava em casa. Michael, um amigo da família, estava tendo problemas com poltergeists na casa dele, e meu pai tinha saído de manhã cedo para ajudá-lo. Ele só voltaria na segunda, já que Michael morava a três estados de distância, fazendo com que meu pai tivesse que dirigir o caminho todo até lá por não termos condições de comprar passagens de avião.

Não sei como, mas consegui convencê-lo a me deixar sozinha, mesmo depois do incidente com o demônio no começo da semana.

Ouvi barulhos vindos do porão e senti a presença dela. Engoli em seco, tentando não chorar. Minha mãe gritava no porão as mesmas palavras de sempre.

Meu pai não me deixava ir no porão vê-la pois, da última vez que eu fiz isso, eu desabei no chão, gritando, e a beira de um desmaio. A força que a junção do espírito de minha mãe junto com o do maníaco que tentou se apossar dela tinha era grande demais. Fazia meus sentidos fugirem de mim e me deixava atordoada. E também tinha o fato de que ver minha mãe naquele estado era horrível.

Respirei fundo e decidi que iria vê-la hoje. Eu já era mais velha agora, já tinha um bom controle sobre meus sentidos. E, além do mais, eu sentia falta dela.

Me encaminhei para a porta que levava ao porão e a abri, vendo a escuridão do lugar, e ouvindo os gritos agonizantes da minha mãe no fim das escadas.

Desci os degraus, tomando cuidado para não cair, e liguei a luz do porão. Assim que o fiz, os gritos pararam e eu vi minha mãe de pé no meio do cômodo, seu olhar fixo na parede a sua frente.

Seus cabelos escuros estavam bagunçados, e seu pijama cinza estava manchado com suco de morango, que eu vivia derrubando nela quando eu era mais nova. Ela estava exatamente como da última vez que eu a vi, sete anos atrás. Nada havia mudado.

— Mãe...? —chamei com a voz fraca, e dei um passo em sua direção.

Assim que o fiz, o maníaco apareceu, a encarando com um olhar louco nos olhos. A força que eles emanavam era tão forte que me deixava tonta apenas por estar na presença deles.

— Liz, corra para o andar de cima... —minha mãe falou

Lágrimas começaram a brotar em meus olhos. Eu lembrava daquelas palavras muito bem.

— Mãe...

O maníaco olhou para o pé da escada, onde, a muito tempo, a Elizabeth de 9 anos olhava para ele de volta, assustada.

O cara pulou na direção do espaço vazio e pude ouvir minha mãe gritar antes de se atracar com o espírito.

No mesmo instante em que eles se tocaram, o espírito tentou se apossar do corpo de minha mãe. Os gritos que minha mãe e o cara soltavam eram aterrorizantes. Gritos de dor pura. Gritos da dor de ter sua alma separada de seu corpo. Gritos de sentir sua alma e corpo sendo divididos em milhões de pedaços, cada pedacinho, preso em algum plano existente, ocupando todos eles ao mesmo tempo.

— Mamãe! —eu gritei chorando e tapando meus ouvidos para bloquear os sons que eles faziam

Corri de volta para as escadas, saindo do porão e correndo para o meu quarto, desabando na cama, sentindo a culpa por ela ter acabado daquele jeito.

x

Quando finalmente acordei, o sol batia em meu rosto, incomodando meus olhos. Olhei para o relógio ao lado da minha cama e vi que ja eram quase onze da manhã e eu estava morrendo de fome.

Levantei da cama, tirando as roupas que eu estava usando já que na noite passada eu dormi sem trocar de roupa e coloquei uma blusa folgada e uma bermuda.

Escovei os dentes correndo e desci as escadas, indo em direção a cozinha.

A casa estava silenciosa sem meu pai ali e eu senti saudades dos barulhos que vinham da cozinha quando ele cozinhava alguma coisa especial para nós.

Abri a geladeira e vi um pote com galinha assada do dia anterior e pus um pouco de arroz no fogo para cozinhar. Esquentei a galinha e assim que o arroz ficou pronto juntei os dois e me sentei no sofá, ligando a tv para ver o que estava passando.

Eu já havia terminado o almoço e não havia achado nada bom para assistir. Bufei e desliguei a televisão, decidindo pegar algum livro para ler.

Assim que ia me levantar do sofá, senti meu celular vibrando graças a uma mensagem recebida. O nome "Hannah" estava bem visível na tela do celular. Abri a mensagem indo ver o que ela queria.

Hannah:

Liz, eu preciso que você venha aqui em casa. É urgente!

Engoli em seco e peguei as chaves de casa, já saindo para ver qual era a urgência de Hannah.

Assim que tranquei a porta e me virei, tomei um susto ao ver Sebastian atrás de mim. Estava tão preocupada com Hannah que não percebi ele chegando.

— Parece preocupada com algo. —ele falou, sem sair da minha frente

Franzi os lábios e contive a vontade de matar ele uma segunda vez. Se é que isso era possível para um fantasma.

— Não tenho tempo pra conversar agora. —disse e desviei do garoto, andando a passos largos, com Sebastian em meu encalço.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não é da sua conta. —cantarolei, ainda caminhando a passos largos

— Eu poderia ajudar.

— Não pode não, vá arranjar o que fazer. Vá assombrar alguém que não seja eu.

Ha-ha, muito engraçada, piada de fantasmas. —ele bateu palmas sarcasticamente — Pura comédia.

— Sebastian, será que você poderia me deixar em paz, por favor?

Nah.

Parei de andar, e o encarei, séria. Ele percebeu que eu estava com raiva e engoliu em seco, tirando a expressão brincalhona do rosto.

— Desculpe.

— Saia. —falei e Sebastian sumiu

Senti um pouco de tontura pois tinha usado poder naquelas palavras. Expulsar temporariamente um fantasma não era tão cansativo, mas eu ainda estava aprendendo, então essas coisas levavam muita energia minha embora.

Voltei a caminhar, chegando rapidamente à casa de Hannah. Toquei a campainha e a ruiva atendeu segundos depois. Seus cabelos estavam totalmente bagunçados e ela me olhava com os olhos arregalados.

Mas o mais estranho era a energia que ela emanava. Sempre senti energias positivas vindo dela, mas, dessa vez, ela estava aterrorizada. O que ela emanava era pavor, preocupação e desespero, e isso estava me afetando.

— Hannah, o que...

— Liz, eu... Eu preciso da sua ajuda.

— O que foi que houve?

Ela abriu mais a porta, me permitindo entrar e eu o fiz. Assim que fechou a porta e respirou fundo, Hannah olhou pra mim, seus olhos mostrando o quanto ela estava instável naquele momento.

Ela tentou recuperar a postura. Colocou os cabelos ruivos pra trás da orelha e ficou mais ereta.

— Hannah, o que está acontecendo?

Ela olhou pra mim novamente e respirou fundo.

— Quem tem que explicar isso a você é meu irmão...

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