1940
SEBASTIAN
A guerra ocorria lá fora, mas não era como se eu ligasse para isso naquele momento.
Não que eu fosse insensível ou coisa do tipo. Sentia por todas as pessoas morrendo lá fora graças a estúpida guerra. Os EUA não estavam envolvidos, o que me deixava mais tranquilo.
Menos chances de morrer.
Mas minha maior preocupação naquele momento era não parecer um idiota aquela noite, o que estava sendo difícil.
Não acreditava que iria mesmo sair com ela naquela noite. O fato dela ter aceitado ter um encontro comigo foi uma completa surpresa.
Quando eu a chamei para sair, não achei que ela fosse aceitar.
Pus as melhores roupas que eu tinha e me olhei no espelho, me sentindo um idiota com a boina do meu pai e aquele casaco gigante.
Mas eu era um idiota muito sortudo.
Sorri ao lembrar que aquela arrumação toda era para ela.
Depois de falar com a família dela e receber permissão do pai dela para levá-la para passear e ela aceitar o pedido com um sorriso no rosto, eu finalmente teria um encontro com ela.
Elizabeth.
Já haviam anos de amizade entre nós, e a um ano eu descobri que gostava dela. Ela era a garota mais incrível que já havia visto em minha vida e eu sentia que a conhecia por uma eternidade.
Parei de sorrir feito um idiota para o espelho e corri para a porta da frente de casa correndo, saindo dali com apenas um "eu volto mais tarde" para meus pais que se encontravam na sala.
Corri pelas ruas do meu bairro, fazendo meu caminho para a casa de Elizabeth, sempre com um sorriso no rosto.
Ao chegar na casa de Liz parei para respirar e caminhei até sua porta, sentindo meu coração acelerado, tanto pela correria, quanto pelo fato de que faltava pouco para eu vê-la novamente.
Bati na porta e pude ouvir passos apressados vindos de dentro da casa e a porta se abriu bruscamente. Seus olhos escuros me fizeram perder a noção do tempo por alguns segundos. Seus cabelos pretos caiam pelos seus ombros, com um laço prendendo parte deles atrás de sua cabeça. Seu vestido não tinha mangas e era amarelo claro, fazendo-a parecer com uma criança. Os sapatos de boneca também não ajudavam muito a tirar essa imagem de criança dela.
Assim que os seus olhos se encontraram com os meus pude vê-la sorrir e seus olhos brilharam.
Recuperei o ar perdido por vê-la ali e sorri para ela.
— Olá, Liz. —me curvei um pouco e ela fez o mesmo
Seu pai apareceu na porta, me olhando desconfiado e ela se encolheu um pouco.
— Traga minha filha antes das dez. Não ouse fazer nada com ela, garoto. —ele falou, autoritário
— Sim, senhor. Cuidarei bem da sua filha. —falei e estendi o braço para que ela entrelaçasse o dela nele
Ela o fez e deu tchau para seu pai quando comecei a puxá-la para longe dali.
x
Passamos a noite passeando pelas ruas e comemos em um restaurante qualquer. E em momento algum meu sorriso se desfez.
Vê-la ali na minha frente, sorrindo para mim enquanto tinha uma das melhores noites da minha vida estava me fazendo bem.
Voltamos a caminhar pelas ruas e tive a ousadia de abraçá-la pela cintura, fazendo-a ficar mais próxima a mim. Elizabeth apenas sorriu e encostou a cabeça em meu peito, ainda caminhando lentamente.
— Então, o que achou da noite? —perguntei, notando que já não haviamos falado nada por algum tempo
— Foi ótima, Sebastian. —ela disse e me olhou
Seus olhos eram incríveis de se ver. Escuros como a noite, mas eram como fogueiras. Não por que eles viviam com uma chama neles ou por algum tipo de luxúria escondida por trás de seu olhar. Eles eram apenas bons de se ver depois de um longo dia, e me aqueciam sempre que eu olhava para eles.
Sorri assim que percebi que estava começando a ficar poético demais novamente. Era difícil resistir ao chamado da poesia quando estava perto dela.
É, talvez eu seja romântico demais.
— Fico feliz que tenha gostado. Mas acho melhor levar você para casa agora. Não quero que seu pai me proíba de te ver depois dessa noite... —falei e ela riu, concordando
Caminhamos até a casa dela e me despedi, sem querer muito fazê-lo. Assim que comecei a andar para longe da casa pude ouvir Liz me chamar.
Me virei para ela e só tive tempo de segurá-la em meus braços assim que ela pulou para conseguir me beijar.
Não soube o que fazer por algums momentos, estático e descrente de que a garota que eu amava estava me beijando. Retribui o beijo logo em seguida, pondo uma de minhas mãos em seu rosto, não conseguindo evitar não sorrir durante o beijo.
Pus ela no chão e a olhei com um sorriso de orelha a orelha. Ela estava vermelha de vergonha e isso apenas me fazia sorrir mais.
— Boa noite, Sebastian... —ela disse, sua voz baixa ao ponto de que se eu não estivesse perto o suficiente dela eu não a teria ouvido.
— Boa noite, Liz.
1941
Estava passeando com Elizabeth naquela manhã de domingo quando paramos bruscamente ao ouvir o rádio de um comerciante no meio da rua. Algumas outras pessoas também haviam parado de caminhar para ouvir o rádio, todas tão assustadas quanto nós.
O locutor dizia que, naquela mesma manhã, alguns momentos antes, houve um ataque do Japão contra Pearl Harbor, base naval pertencente aos Estados Unidos, no Hawaii.
O ataque havia durado 90 minutos e havia tirado muitas vidas.
Elizabeth segurou minha mão com mais força e resolvi tirá-la dali. Ela estava com medo, e eu sabia o porquê. Arrastei ela para longe da multidão curiosa e segurei seus ombros, fazendo-a olhar para mim.
— Liz, escute, está tudo bem...
— Não, Sebastian, não está! Esse ataque provavelmente será o que colocará nosso país nessa guerra. E se o país entrar em guerra eles vão...
— Ninguém vai me tirar de você. —falei, firmemente
— Sebastian...
— Liz, escute: Eu vou ficar com você, para sempre, ouviu? Nada nesse universo será capaz de me tirar de você.
Ela me puxou e me abraçou fortemente, me segurando em seus braços, num pedido mudo para que eu nunca fosse embora.
A abracei também, sentindo o pânico bater. Se o país entrasse na guerra, eu seria tirado daqui para ajudar. Talvez nunca mais visse Elizabeth novamente.
Fechei os olhos fortemente e apertei mais a garota contra mim. Eu nunca a deixaria, não agora que eu a tinha.
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Medium (Concluído)
Misterio / SuspensoS.M. e S.F. -Pessoa que, segundo o espiritismo, tem a capacidade de se comunicar com os espíritos, com pessoas que estão mortas. P.ext. -Pessoa que, supostamente, possui dons ou capacidades para perceber ações, situações ou coisas sobrenaturais. ...