Três. Esse foi o número de dias que levou pra o inferno se instaurar na Terra.
Com a força que Lúcifer usava para se erguer, os planos de agitavam cada vez mais. No primeiro plano, terremotos fortes ocorriam até mesmo em lugares onde eles nem deveriam ocorrer, destruindo cidades despreparadas, e causando maremotos que açoitavam os litorais a toda hora.
Pessoas entravam em desespero, pressentindo o fim do mundo, e não podia culpar elas, afinal, elas estavam certas.
Havia se passado exatamente uma semana desde que a rachadura fora aberta e muita coisa já havia acontecido nesse curto espaço de tempo, entre elas minha demissão.
Com minha distração pelo eminente apocalipse, havia esquecido de ir ao trabalho nos últimos dias e não atendi nenhuma das ligações da minha chefe. Não fiquei surpresa ao atender o celular e ouvir ela me demitindo irritada.
Fora isso, havia estudado o feitiço de aprisionamento como uma louca. Era minha única chance de parar aquilo, e não podia errar sequer uma palavra.
Ainda estava confusa do porquê pude ler aquele feitiço mas ninguém mais pôde. A lembrança de uma "eu" mais velha escrevendo o feitiço ainda me fazia perder o sono. Como estava acontecendo naquele exato momento.
Estava deitada na cama, sem conseguir dormir. O sol entrava pela janela e incomodava um pouco meus olhos, mas eu não estava realmente ligando para isso.
Bufei, desistindo de continuar ali deitada sendo inútil e me livrei dos lençóis, levantando da cama. Amarrei o cabelo bagunçado para que não ficasse caindo nos meus olhos e fui até a porta, saindo do quarto e indo direto para a sala. Meus pais estavam no sofá com caras preocupadas, assim como meu tio. Eles conversavam baixo e senti a preocupação deles me atingir em cheio, me deixando nervosa.
— O que houve? —me pronunciei
Todos me olharam assustados. Não tinham percebido que eu havia chegado ali.
— Liz, meu amor, você acordou... —minha mãe falou, indo até mim — Eu sinto muito dizer isso, mas não temos boas notícias...
Franzi o cenho, olhando para todos ali, esperando.
— Talvez fosse melhor ele falar com ela pessoalmente. —meu pai se pronunciou
— Ele? —questionei
— Seu amigo, Sebastian, está lá fora. Ele estava batendo na porta desesperado hoje de manhã. Acho melhor ir falar com ele. Ele sabe explicar a situação melhor.
Engoli em seco, imaginando o que fez Sebastian vir bater na minha porta em desespero. Apenas assenti para minha mãe me dirigi até a porta da frente.
Assim que saí de casa, pude ver Sebastian sentado no degrau que levava a minha varanda. Ele virou o rosto para me encarar e eu sentei do seu lado.
— O que houve?
— Seus pais não lhe contaram?
— Minha mãe disse que você explicaria a situação melhor.
Ele assentiu e pareceu tomar um segundo para pensar nas palavras que iria dizer.
— Você lembra do Nuntius, não lembra?
— O Homem de Chapéu? O que tem ele?
— Ele veio ao meu encontro antes do sol nascer. Ele estava... Tenso. Me disse que já que não podia alcançar você para dar um aviso graças as barreiras protetoras da sua casa, eu era a melhor opção.
— Um aviso? Que aviso?
— Lúcifer está chegando...
— Bem, isso eu já sabia. —falei, fazendo uma cara de desgosto
— Posso terminar, por favor? Jesus, Elizabeth, você nem sequer espera.
— Você parou de falar do nada, Sebastian!
— Se chama pausa dramática.
— Não é hora pra piadas...
— Desculpe, achei que podia melhorar seu humor um pouco... Você está muito tensa, posso sentir daqui. Não gosto de vê-la assim...
O olhei curiosa, notando seus lábios contraírem minimamente e seus olhos observarem o chão como ele fazia toda vez quando se sentia mal por eu tratá-lo rudemente. Respirei fundo, ignorando a urgência de pedir desculpas e apenas tentei melhorar um pouco minha aura para que eu não parecesse estar tão tensa.
— Tudo bem. Mas qual foi o aviso?
Ele engoliu em seco e virou para mim lentamente, me olhando nos olhos logo em seguida, me permitindo ver o medo dentro deles.
— Lúcifer já está na porta. Ele irá conseguir escapar essa noite. Mas tem mais um problema... A rachadura foi aberta para que sua mãe pudesse ser liberta, então a rachadura foi aberta no exato local aonde sua mãe estava antes de sair do limbo.
Parei alguns instantes para processar a informação e senti que meus pulmões não queriam mais reter o ar que eu com tanto esforço puxava para eles.
— A droga da rachadura está no meu porão? —perguntei com minha voz falha
— Ahn, é... A droga da rachadura está no seu porão.
Pisquei algumas vezes e levantei, andando no jardim da frente da minha casa de um lado para o outro. Lúcifer iria se erguer essa noite, no meu porão.
Lúcifer iria se erguer essa noite.
No meu porão.
Perfeito. Simplesmente perfeito! Como se eu já não tivesse problemas o suficiente, agora eu teria que lidar com o Diabo no meu porão.
— Liz, calma, tem uma parte boa nisso tudo. —Sebastian falou, se levantando com cautela e se aproximando de mim
— Parte boa? Sebastian, você tá louco? Onde pode ter uma parte boa n-
— Dá pra me escutar, estressadinha? Lúcifer vai se erguer na sua casa, o que quer dizer que ele não vai poder sair de lá.
Franzi o cenho, tentando entender aonde ele queria chegar com aquele raciocínio.
— Sua casa tem proteções que mantêm os seres dos outros planos do lado de fora. Mas hoje a noite vai funcionar para manter um do lado de dentro.
Fazia sentido. A magia de proteção que mantinha minha casa segura dos seres do lado de fora poderia acabar sendo uma prisão para os seres que estavam do lado de dentro.
— Você pode estar certo. E se estiver, isso é bom. Ele não vai poder fugir durante o feitiço de aprisionamento.
— Ainda acho perigoso você fazer esse feitiço. Seus pais podem dar conta dele, você não precisa se arriscar.
— Sebastian, já falamos sobre isso. Eu vou fazer esse feitiço sim. Eu tenho que fazer.
— Certo, certo... Não vou tentar te impedir, não conseguiria mesmo que tentasse. Você sempre foi muito cabeça dura... —ele disse e deu um sorriso
Franzi o cenho ao olhá-lo depois que falou aquilo. O sorriso e o olhar em seu rosto pareciam saudosos, como se estivesse lembrando de alguma coisa com aquelas palavras. Assim que notou meu olhar confuso, Sebastian piscou algumas vezes e voltou a ficar sério me olhando profundamente nos olhos.
— Boa sorte, Elizabeth. Tenha cuidado. —e antes que eu pudesse sequer responder, ele sumiu, me deixando sozinha com a lembrança de que hoje a noite eu enfrentaria o Diabo.
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Medium (Concluído)
Mystery / ThrillerS.M. e S.F. -Pessoa que, segundo o espiritismo, tem a capacidade de se comunicar com os espíritos, com pessoas que estão mortas. P.ext. -Pessoa que, supostamente, possui dons ou capacidades para perceber ações, situações ou coisas sobrenaturais. ...