Acordei de meu sono sem sonhos pela voz de Sebastian me chamando. Abri os olhos com dificuldade, me acostumando com a luz que entrava pela janelinha ao meu lado, e pude ver ele a minha frente.
— Vamos pousar. —ele disse
Franzi o cenho e pisquei algumas vezes, ainda sonolenta. Olhei para a poltrona a minha frente, notando-a vazia. Éter tinha ido embora, mas uma parte de sua calma ainda parecia inundar o avião.
Me levantei com dificuldades, me dirigindo para a parte da frente do avião onde todos estavam. Pude ver a ilha a frente, impotente no meio do Oceano Índico. Podia ver algums pontos diferentes em meio à paisagem natural, notando que eram casinhas. Haviam poucas pessoas ali, levando em conta o tamanho da vila. Olhei para o céu a nossa frente e senti a tensão percorrer meu corpo. Uma tempestade estava chegando.
— Temos um problema... —ouvi a voz do meu tio se pronunciar, olhando em minha direção — Não há pista de pouso.
Franzi o cenho e engoli em seco. — Então como... Como vamos pousar?
— Vou tentar achar uma área plana, é o único jeito. —o piloto falou, mexendo em alguns botões que eu não fazia ideia de para que serviam
Respirei fundo e fechei os olhos, pedindo a qualquer um que me ouvisse que não deixasse aquele avião cair. Alguns minutos depois estavamos fazendo um pouso turbulento num campo desprovido de árvores. Apesar do enjoo, nem eu nem ninguém se machucou, o que contei com uma vitória.
Olhei para minhas coisas e decidi que tudo que precisava levar era o cajado. Peguei-o, não me importando em transformá-lo em algo menor, deixando-o em sua forma original, e caminhando para fora do avião, deixando a carta que havia escrito aquela noite em cima de uma das poltronas do avião.
As nuvens escuras cobriam a ilha, fazendo com que a luz do sol fosse quase completamente apagada. Pássaros voavam para todos os lados, sentindo a tempestade que se formava.
Engoli em seco, olhando com atenção ao meu redor, memorizando em minha mente cada pedaço de paisagem que podia. As florestas ao longe, a grama verde, os pássaros, tudo. Se falhasse, nunca mais os veria novamente.
A angústia que eu sentia era tão grande que parecia que eu estava em Oizus novamente, sentindo seu desespero e sua tristeza.
Senti a mão de Sebastian segurar a minha e o olhei, vendo-o sorrir. Sorri de volta, mesmo vendo a mesma angústia que eu sentia em seus olhos.
— Aqui estamos. —ele falou, desviando seu olhar de mim para olhar para o horizonte — Para o lugar que estavamos destinados a vir.
— É assustador saber que todos esses séculos foram pra isso. Pra esse momento. —comentei
— Mas também reconfortante. —ele murmurou e eu o olhei — Depois disso, teremos nossa paz.
Ele sorriu para mim e meu coração pareceu afundar. Lágrimas teimosas caíram dos meus olhos sem permissão e ele pareceu preocupado.
Como dizer a ele? Como dizer o preço que seria pago para que vencessemos essa luta?
Assim que abri a boca para falar alguma coisa, um trovão retumbou nas nuvens acima, assustando nós dois, e uma chuva forte começou a cair. Minha mãe correu até nós, sendo seguida pelo meu tio.
— Ele chegou.
Ela tinha razão. Podia sentir a presença dele em algum lugar da ilha, e sabia que ele podia sentir a minha e a de Sebastian. Olhei em volta ignorando a chuva, que já havia me deixado completamente ensopada, e notei o vulcão da ilha. O ponto mais alto dela. Se tivesse que chutar, Lúcifer estaria ali.
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Medium (Concluído)
Mystery / ThrillerS.M. e S.F. -Pessoa que, segundo o espiritismo, tem a capacidade de se comunicar com os espíritos, com pessoas que estão mortas. P.ext. -Pessoa que, supostamente, possui dons ou capacidades para perceber ações, situações ou coisas sobrenaturais. ...