Capítulo 3 parte 2 (em revisão)

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Sentados à mesa, após comerem, Igor materializou algumas xícaras de café enquanto a pequenina mamava quietinha. Ezequiel perguntou:

– Afinal o que desejam de mim? – levantou-se e pegou uma coisa na mesa da sala ao lado, retornando.

Igor ia falar quando viu a bolsinha de couro que ele carregava, mudando de assunto e reagindo de imediato:

– Bah, tchê, mas nem pensar em fumar esse cachimbo fedorento na frente da minha filha. – Sorrindo, estendeu o dedo e a bolsa desapareceu no nada. – Pronto, assim está bem melhor.

– Ei – disse o ancião. – Tá bom, eu admito que não é lá muito salutar para um bebê, mas nós magos somos imunes...

– Ezequiel! – Igor fez cara de zangado, entretanto notava-se que era falsa e Eduarda começou a rir dos dois.

– Ok – concordou –, só que bastava uma barreira simples...

– Ezequiel...

– Muito bem, mas devolva para eu poder fazer isso lá fora depois. – Ele pediu, rindo. – Desmancha prazeres.

Brincando, Igor estalou os dedos e a bolsa ressurgiu na mesa. O sábio cruzou os dedos, apoiando-os na barriga, e perguntou outra vez, olhando de soslaio para a bolsa que se afastou sozinha por alguns milímetros:

– Mas então, o que você desejava?

– Ezequiel, quando o senhor ergueu este castelo e trouxe os originais de todos os documentos históricos para cá de forma a que a sabedoria da nossa gente se preservasse, só havia aquela biblioteca no Palácio de Cristal?

– Sim, só havia aquela biblioteca – respondeu o sábio sem compreender direito a pergunta, a seu ver meio tola. – Fui eu quem a construiu há uns mil e setecentos anos. Por quê?

– Foi o senhor que ergueu o Palácio de Cristal? – voltou a perguntar, ignorando o questionamento do amigo.

– Noventa por cento dos primeiros prédios da cidadela foram erguidos por mim junto com a minha neta Morgana e confesso que ela fez mais edifícios do que eu porque era muito mais poderosa, mas não lembro qual de nós dois ergueu o Palácio. Talvez tenhamos sido ambos, em conjunto. Contudo, a biblioteca tenho certeza de que fui eu que criei. Por quê?

– Explicarei depois – disse Igor. – Mas eu gostaria de consultar e comparar alguns registros.

– Caramba, Igor, os computadores do Mundo de Cristal contêm todos os documentos que há aqui. Os originais estão preservados neste planeta para o caso de uma catástrofe, apenas isso. Na verdade, eu fiz isso por causa da sua visita ao meu passado.

– Tem a certeza, Ezequiel? – perguntou Igor. – Porque há documentos que não constam dos computadores...

– Impossível, filho – interrompeu o ancião. – Eu mesmo fiz as cópias que ficaram lá.

– Inclusive da sala secreta?

– Sala secreta? – Pela cara do sábio, Igor logo viu que ele nada sabia a respeito. – Que raio de sala secreta?

– Encontrei um recinto secreto na biblioteca com alguns documentos antigos, muito antigos mesmo – explicou o mago. – E esses documentos não constam dos computadores, Ezequiel.

– Pela Deusa! – exclamou o velho. – Quem terá feito isso.

– É incrível, né? – perguntou o guardião supremo. – Na verdade, esperava que o senhor soubesse de alguma coisa a respeito, sem falar que desejava saber se há alguma alusão nesta sua biblioteca aqui no Castelo da Sabedoria Ancestral porque alguns mapas me deixaram curioso demais. O problema é que os documentos não estão datados nem assinados.

– Preciso de ver isso – disse o velho mago, estourando de curiosidade.

– Imaginei que desejaria isso – respondeu Igor, estendendo o seu celular após abrir a galeria de fotos. – Aqui está, mas trata-se apenas de uma amostra.

– Essa letra no rodapé da página não me é estranha – comentou Ezequiel, ampliando a imagem. – Podia jurar que é a letra da sua filha Morgana, Igor, mas isso não faz sentido porque ela desapareceu há mais de mil e quinhentos anos. E note que são anotações feitas em relação ao texto original que deve ser muito, muito mais antigo do que isso.

– É antiquíssimo, Ezequiel, e há uma parte que fala em uma rede de túneis que cortam grande parte da Europa, a maioria concentrada na Gália. Há dois até mesmo por baixo do Canal da Mancha indo até à Cornualha na Bretanha.

– Sim, lembro-me que existia uma rede secreta de túneis, mas nada que fosse por baixo do Canal da Mancha nem que cortasse toda a Europa.

– E se eu lhe disser que há uma menção a um portal natural...

– Isso é impossível – interrompeu ele, olhando a bolsa de couro do seu cachimbo. Igor sorriu e a bolsa afastou-se sozinha, fazendo Ezequiel resmungar. – Você não perdoa mesmo. Eu pretendia ir para a Terra, mas decidi que nós vamos para a Cidadela que desejo ver isso in loco.

– Seu auxílio seria muito apreciado, Ezequiel, só que antes vamos dar um pulo em Porto Alegre que Eduarda vai passar uns dias com os pais dela.

– E quando vamos? – perguntou Eduarda. – Acho melhor deixar para amanhã de forma a Gwydion poder ficar algum tempo com os seus.

– Concordo até porque o Saci também anda fora – disse Ezequiel, estendendo a mão e fazendo a bolsa do cachimbo voar para si. – Nem se atreva que eu vou lá para o pátio.

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O Mago e a Sacerdotisa de AvalonOnde histórias criam vida. Descubra agora