Capítulo 17 - parte 3 (em revisão)

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Eduarda sentia um zumbido forte nos ouvidos, a cabeça latejava um pouco e tinha dores por várias partes do corpo. Além disso, a boca estava seca e a pouca saliva que tinha grudava-se na língua, dando-lhe um gosto bastante desagradável que lembrava o cheiro de telhado de zinco, como se tivesse passado a noite toda bebendo e agora acordasse de ressaca. Devagar, abriu os olhos e viu que estava deitada no chão de pedra, toda torta e atrás de um pedregulho de respeito. Espantada, franziu a testa, pensando que caiu do dragão. Devagar e soltando alguns gemidos de dor, sentou-se e virou o rosto para o lado, vendo Valdo que a protegia das criaturas, lutando de mãos nuas com uma grande quantidade delas. Não era muito difícil porque só precisava de se defender das estocadas das facas, já que cada pancada que dava nos demônios era um que ficava destruído, convertido em pó, só que a quantidade de atacantes não acabava nunca e, para cada um que caía, dava ideia de que apareciam dois.

Ela reagiu de imediato e ergueu-se, soltando a seguir um berro involuntário de dor e voltando a sentar. Valdo, preocupado, virou o rosto e perguntou:

– Tá tudo bem, Dudinha? – deu um chute pegando mais um que se aproximou demais. – Estás muito machucada, linda?

– Não, mas torci feio o tornozelo e a minha cabeça parece que vai estourar. Vem cá, a gente andou bebendo todas?

Valdo precisou de se virar e atacar mais alguns deles de forma a criar um perímetro aos dois, mas deu uma risada rápida do comentário da amiga. Vendo que ele ia acabar extenuado e já ofegava com o esforço, Eduarda perguntou:

– E tu, tá tudo bem contigo, Valdinho? – levantou-se, passando todo o apoio para o pé bom. – Tô ficando maluca ou nós dois caímos do Saci? Tu viste o que aconteceu? Eu perdi a consciência e só me recuperei agora. Faz quanto tempo aconteceu?

– Nem um minuto, linda – respondeu o amigo. – Pega leve que bateste a cabeça e caíste toda torta.

– Mas o que aconteceu para a gente cair do dragão? – perguntou ela, sem entender.

– Bem, Duda, nós não exatamente caímos do Saci – disse o amigo à guisa de resposta. – Na verdade, Saci é que caiu.

– Mas o que aconteceu? – perguntou, confusa. – Vem para perto de mim que vou erguer uma barreira.

Valdo obedeceu e a luz azul passou a brilhar em volta deles com um diâmetro suficiente para lhes dar folga. Agora que não podiam ser atingidos, Valdo relaxou e respirou fundo, ainda muito ofegante.

– Como Igor pensou, eles ficam mais inteligentes com a quantidade e agora olham para cima – explicou o jovem. – Para piorar tudo, têm uns paus de fogo que lembram as espingardas da mais remota antiguidade e Saci levou um monte de tiros!

– Ai, meu Deus! – exclamou desesperada. – Ele está onde, e Ez?

– Calma, Dudinha – disse Valdo. – Ele já se recuperou. Disse que na forma de dragão não é nada fácil matá-lo, mas precisou de sair porque o bracelete de Ezequiel estourou e ele começou a ficar fraco e apático. Eu pedi a Saci que o tirasse daqui e disse que encontraria com eles quando tu te recuperasses para aguardarmos o retorno do Igor.

– Espero que ele se lembre desse detalhe e não atinjam Gwydion também. Cair do dragão não é nada agradável.

– Consegues andar, guria?

– Está doendo muito, mas acho que...

O trovão foi de tal forma absurdo que não conseguiram falar mais nada. Logo após, além do solo tremer, uma chuva de destroços de cascalho, areia e pedaços de muscolins tostados começou a cair para todos os lados.

Os dois recuaram a agacharam-se atrás de uma pedra, olhando na direção do estrondo. Tudo o que viram foi uma coluna grande de fumaça a cerca de um quilômetro e um ponto no ar, muito afastado para distinguirem embora tivessem a certeza de que se tratava do outro dragão.

– Acho – disse Valdo, arrepiado de susto –, acho que Igor devia ser um pouquinho menos enfático. Mais um pouco e ele afundava a ilha inteira!

– Mas bah! – exclamou Eduarda. – É bem por aí mesmo. Acredito que ele detonou com todos de uma só vez.

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– Tem uma nuvem de poeira muito forte no ar, pai – disse Morgana. – Não creio que consigamos ver alguma coisa.

– Isso resolve-se – respondeu o mago, fazendo um gesto e dissipando as partículas de areia.

Gwydion nem levou meio minuto a chegar ao núcleo da explosão. No solo havia apenas uma cratera de uns cinquenta metros ou mais de profundidade e uma parte da borda da floresta incendiava. Igor olhou para cima e o céu era límpido. Adivinhando as suas intenções, Morgana concentrou-se e ergueu ambas as mãos. Em menos de quinze segundos o céu estava preto e uma forte chuva começou a cair apenas naquele lugar.

– Eu adorava dar banho aos romanos, embora nem sempre fosse chuva de água, quase nunca, na verdade. Onde será que foi parar tudo o que estava aí?

Igor deu uma risada e disse:

– Acredito que tenha voado para todos os lados. Deve ter chovido pedaços de muscolin e terra por alguns quilômetros – encolheu os ombros. – Gwydion, vamos encontrar os outros. Está ficando muito escuro e, em breve, será noite fechada.

― ☼ ―

Eduarda ergueu-se devagar e não reprimiu um gemido, mas o seu humor mudou de forma radical quando viu os muscolins afastarem-se. Desfez a barreira de proteção e olhou para o horizonte, notando que o ponto preto crescia a olhos vistos.

– Eles recuaram e Igor está de volta – disse ela, tão entusiasmada que até tremia. – Eu acho que, como ele mesmo diz, os diabos tomaram uma tremenda indigestão. O primeiro round é nosso.

– Vamos nos juntar a Ezequiel – sugeriu Valdo, apoiando a amiga. – Assim que Igor pousar vai começar o segundo ato e é melhor estarmos juntos.

– Sim, e a esta hora o pessoal já deve ter chegado à periferia... ai, que dor!

Com cuidado, Valdo foi ajudando Eduarda a caminhar porque a distância ainda era de uns duzentos metros. Andaram por alguns segundos quando o amigo perguntou:

– Dudinha do céu, será que tu não consegue pular para lá que nem da outra vez, menina?

– Aquilo não foi intencional, mas vamos tentar. Afinal, Igor disse que é que nem andar de bicicleta...

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O Mago e a Sacerdotisa de AvalonOnde histórias criam vida. Descubra agora