Capítulo 1 - (em revisão)

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"O amor é uma força, uma energia que se manifesta na alma como um sentimento da lembrança de algo que a alma já teve, mas perdeu."

Platão.

Igor estava debruçado, apoiado no berço da sua filhinha Ailin todo derretido a olhar para ela, que dormia. Eduarda, sua esposa, descansava na cama e também aparentava dormir, mas ele não sentia sono apesar de ter passado grande parte da noite em claro. Em função disso, aproveitava o pouco tempo de que dispunha naquele momento para curtir a filha. Olhando o seu rosto sereno e pequeno, não podia deixar de sorrir, um pai babão no sentido literal da palavra.

Ela faria um ano em pouco tempo e tinha uma beleza toda angelical que puxou do lado da mãe, embora fosse bastante loira como ele. O seu rosto era ovalado, como o da mãe, muito liso e sereno, com um nariz um pouco arrebitado e orelhas ainda pequenas, enfeitadas com um par de brincos de ouro bem pequenos. Assim, com os olhos fechados, ele via alguma semelhança, até bastante, com a antepassada remota de mesmo nome, que também era ainda mais loira.

Quando se lembrou da Ailin que conheceu no passado longíncuo, Igor parou de sorrir e ficou apenas olhando para a filha, pensando em tudo e revivendo uma parte daquela época conturbada, na Gália do século III quando ele e mais um punhado de camponeses desesperados tiveram de lutar e derrotar um exército enorme de romanos. Esses pensamentos provocaram uma sensação estranha de ter perdido algo seu, algo que nunca conheceu, mas que desejaria muito ter ao seu lado e que nos últimos tempos povoava os seus pensamentos com bastante insistência.

Procurava não fazer barulho porque a esposa parecia estar em sono profundo, tendo adormecido logo após o almoço, assim que pôs adormecida Ailin na cama. Apesar de ser bem incomum, a pequenina deu-lhes um baile durante a noite e Eduarda devia estar bastante cansada.

Ailin virou-se e sorriu no seu sonho, soltando uma pequena risadinha que provocou mais sorrisos no pai, embora pouco tempo depois ele voltasse a ficar sério com os mesmos pensamentos a perturbá-lo.

Ergueu-se e, em silêncio, saiu do quarto. Foi para a sala e acabou na varanda, curtindo o frescor que a cachoeira mais próxima trazia. Olhou para a nuvem de gotículas de água à sua frente e apreciou durante alguns segundos o arco-íris que se formava quase que à sua frente.

Com um longo suspiro, apoiou-se no parapeito e prestou atenção ao lago abaixo. Sentia tanta ânsia que nem mesmo a beleza invulgar daquele vale onde ficava a cidade dos magos o impedia de pensar, sentindo com cada vez mais certeza de que tinha de colocar aquilo para fora de alguma forma porque já o sufocava um pouco, só que não sabia como fazer isso nem mesmo para si próprio.

Soltou novo suspiro, tendo já perdido a conta de quantos deu desde que olhava a filha no quarto, quando um par de nãos pegou os seus ombros com delicadeza e massageou-os. Eduarda inclinou-se e beijou-o no pescoço, provocando um arrepio. A seguir, apoiou-se ao seu lado, bem encostada, e sorriu. Igor olhou para aquele par de olhos verdes que amava tanto e puxou-a pelo queixo, dando-lhe um beijo nos lábios.

– Não conseguiste dormir, amor? – perguntou o marido, fazendo uma carícia suave no seu rosto. – Devias descansar mais porque a noite foi da pesada.

– Eu já descansei um pouco e depois deito mais alguns minutos, se sua majestade a bebê assim o permitir. – Eduarda deu uma risada. – Eu te vi olhando para ela no berço e tu parecias tão fofo...

– Tu achas? – Igor riu, voltando a olhar para o vale ao seu redor, calado.

– Sim, meu amor – respondeu Eduarda –, mas também notei tristeza e alguma coisa presa nesse teu peito. Bem sabes que isso não faz bem a ninguém; então, que tal abrires o jogo?

O Mago e a Sacerdotisa de AvalonOnde histórias criam vida. Descubra agora