Capítulo 2 - parte 2 (em revisão)

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A cavalgada durou metade do dia porque a suma sacerdotisa ia devagar para não despertar suspeitas. Quando chegou à região central mudou o rumo para o bosque. Na orla, desmontou e amarrou o cavalo a uma árvore, entrando com muita atenção no território do povo pequeno.

Ela estava certa de que era observada por eles, mas não sabia se fariam contato. Acreditava que não seria atacada, da mesma forma que nem a mãe nem a avó jamais foram. Eles não costumavam hostilizar as sacerdotisas, talvez por serem parecidas com as fadas, que eram reverenciadas, pensava enquanto andava, mas a verdade é que pouco se sabia a respeito deles. De forma inconsciente, pôs a mão na coxa, sentindo a pequena faca presa por debaixo das vestes.

A caminhada já durava uns quinze minutos quando achou que estava na hora de alguma coisa acontecer. Assim que chegou a uma pequena clareira parou, girando devagar sobre o próprio eixo. Ergueu o ceptro e a sua ponta começou a brilhar, cravando-o no chão aos seus pés, enquanto a luz estendia-se para todo o seu corpo. Por duas vezes ela já tivera contato com as criaturas e precisava de ter paciência porque eles podiam deixá-la esperando por horas, se desejassem.

A sua previsão, contudo, não se revelou acurada porque quatro deles surgiram à sua frente, enquanto uma dúzia pulava das árvores à volta, cercando-a. Ao contrário das outras vezes, eles pareciam apreensivos. Tinham um formato humanoide, mas não ultrapassavam um metro e vinte. A pele era de tez escura, como se fossem muito bronzeados pelo sol e os membros, tanto superiores quanto inferiores, eram bem musculosos. Possuíam troncos desproporcionais ao resto do corpo por serem maiores que o normal, em contraste com as pernas curtas. As cabeças eram grandes, como os troncos, com dois pequenos chifres na testa. Possuíam olhos de pupilas contraídas em dois pequenos veios, que variavam entre o azul e um amarelo forte e que expressavam inteligência bem como agilidade mental. Nas pequenas mãos, portavam zarabatanas e, nas aljavas, muitas setas que podiam desde não ter nada até serem dotadas de algum veneno mortal, conforme a necessidade.

Gwenhwyar aguardou o tempo adequado antes de se manifestar porque sabia que eles levavam a etiqueta muito a sério, até mesmo nas piores crises. Ao fim do tempo previsto, iniciou os cumprimentos que foram bastante facilitados por eles terem dons telepáticos fracos. Para manter o foco dos pensamentos, falava bem baixo enquanto se concentrava:

– Salve irmãos do Bosque Sul – ergueu a mão fazendo uma luz branca pairar acima deles, simbolizando paz. – Perdoem-me a invasão ao vosso reino, mas vim solicitar uma audiência com urgência.

– "Salve, irmã maior" – disse o da frente, erguendo a mão de forma a ela saber com falou. – "Esperávamos a sua chegada, mas não imaginamos que viria tão rápido."

– O nosso povo queixa-se muito, irmãos – informou, procurando ser simples nos pensamentos porque eles tinham uma linha de raciocínio bem diferente, exceto pelas fadas que se adaptavam a qualquer situação. – Alguns morreram.

– "Por isso a aguardávamos, irmã" – explicou mais uma vez o porta-voz, sem confirmar nem negar. – "O grande mal ronda à solta. Ele ataca o povo do bosque e os irmãos da planície."

– Há quem acuse o povo do bosque, mas eu não quis acreditar nisso.

– "O povo do bosque honra o tratado, irmã maior, e solicitamos que nos acompanhe para falar com a nossa rainha-mãe."

– O meu povo haverá de respeitar o tratado e eu ficarei honrada em falar com a rainha-mãe, irmão.

Eles nada mais falaram; apenas viraram as costas e começaram a andar. Gwenhwyar compreendeu que os devia seguir e foi atrás. À medida que penetravam mais para o coração do bosque, outros homens pequenos juntavam-se ao grupo e, ao fim de uma hora, alcançaram o sopé de um morro.

O Mago e a Sacerdotisa de AvalonOnde histórias criam vida. Descubra agora