Capítulo 17 - parte 2 (em revisão)

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Igor estava a menos de vinte metros deles e ergueu a sua nova barreira em que vinha trabalhando há alguns meses, tão potente que, durante os testes, chegou a entrar em uma fornalha apenas com ela. O único senão era o esforço exigido para a manter ativa, quase o triplo da verde, mas tinha a certeza de que não ficaria o dia inteiro com ela erguida e era bem mais seguro utilizá-la, face ao volume do inimigo a enfrentar. Pegou a espada com uma das mãos, enquanto a outra continuava a transformar a areia do local em pólvora, mais precisamente um potente explosivo derivado dela.

As criaturas atacavam com as suas facas de pedra, golpeando sem parar, mas nunca conseguiam atravessar as defesas e Igor esquartejava os que estavam à sua frente, abrindo caminho. Ele notou que os que carregavam algum tipo de instrumento em forma de cano, talvez uma variante de zarabatana, não atacavam e achou que poupavam aquela arma para assaltar a cidade, quem sabe por terem poucos projéteis.

Ficou espantado quando os muscolins da frente, em vez de voltarem e atacarem-no, continuaram marchando. Igor concluiu que, ou estavam com muita pressa ou o general deles estava ocupado com os outros, mas o fato é que apenas precisava de lutar com os que estavam na sua frente e isso fê-lo ganhar tempo.

Quando alcançou o fim da longa fila de quase quinhentos metros de invasores, ergueu-se no ar, flutuando devagar, e fez nova constatação: aquela quantidade de seres já lhes permitia pensar em três dimensões porque acompanharam o seu voo, erguendo as cabeças. Alguns apontaram as pretensas zarabatanas, mas acabaram não usando.

Igor desfez a barreira, sinalizou e Gwydion deu um mergulho, pegando-o e retornando a subir. Contente, o mago deu-lhe uma palmada amigável no pescoço.

– Obrigado, velho amigo, mas agora afasta-te pelo menos uns quinhentos metros que vamos fazer o maior churrasco do planeta.

Na posição indicada, Igor voltou a pegar a espada, que começou a brilhar. Dirigiu a ponta para o centro da formação e um raio rasgou o ar, alcançando o solo no mesmo ato.

O estrondo foi de tal forma violento, que o grito de susto da filha, que estava encostada a ele, nem foi ouvido. A onda de ar comprimido da explosão do tamanho de cinco campos de futebol foi muito mais forte do que Igor calculou e alcançou-os com toda a fúria, mesmo estando tão afastados. Gwydion foi atirado para trás e fez uma guinada violenta para não cair, forçando um deslocamento de lado de bem cinquenta metros. Desprevenida, Shayla escorregou e caiu, soltando um grito de terror. A mãe reagiu rápido e apontou a mão para a filha, que teve a queda interrompida, mas ela também estava na eminência de se desgarrar e escorregava, procurando algum apoio. Igor, que já se recuperara, estendeu a mão e agarrou Morgana, segurando-a firme enquanto o gigante alado tentava estabilizar o seu voo. Assim que conseguiu, Igor estendeu a outra mão e ajudou a filha a trazer Shayla de volta, que estava pálida e trêmula. Mal sentou-se, agarrou-se à mãe. O trovão foi reduzindo e os ecos se perdendo aos poucos.

– Desculpem – disse Igor, fazendo uma careta. – Confesso que eu achava que, daqui, estaríamos longe de qualquer perigo, mas enganei-me feio. Gwydion, podes aproximar-te do foco para vermos os efeitos?

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A uma ordem de Ezequiel, Saci aproximou-se e mergulhou. Ele já tinha transformado o bordão na sua tradicional e avantajada espada vermelha. Valdo segurava a cintura da amiga, aumentando seus poderes, e ela ergueu a mão para criar uma bola de plasma que começou a crescer aos poucos. O urro do dragão teria congelado o sangue de qualquer um, mas as criaturas não se intimidaram, nem mesmo reagiram. Elas apenas olharam para cima e isso foi o que bastou para a garota saber que havia algo muito errado. Antes que ela dissesse alguma coisa, a espada do sábio disparou um raio escarlate, muito quente, enquanto o espirro do dragão soltou uma chama de mais de trinta metros que foi queimando muitos deles pela frente. Para não perder tempo, ela arremessou a sua esfera de plasma que ainda era pequena, embora o estrago tenha sido violento. Contudo, pela quantidade de inimigos, era uma destruição desprezível.

Saci arremeteu quando algumas das criaturas apontaram uns canos muito estranhos na direção do dragão, que já estava a uns dez metros de altura e fazendo uma curva apertada para a direita de forma a atacar em outro flanco. Eduarda olhava para o outro lado, preparando um novo ataque e ouviu alguns estampidos agudos. Ia virar o rosto para ver do que se tratava, mas não teve tempo porque foi atirada para o lado com alguma violência, ficando tonta. Voltou a ouvir uns estampidos e o grito assustado do amigo que a agarrou com toda a força. Após, sentiu um impacto forte e perdeu a consciência.

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O super-muscolin exultava com a marcha pelo alimento. Nada o impediria de chegar lá, nem mesmo aquela coisa desprezível que até serviria de alimento, mas não tinha os nutrientes necessários para aumentar a sua inteligência de forma significativa. Depois, foi a vez de neutralizar a coisa que voava e, mais uma vez, foi muito bem-sucedido. Nessa hora, para sua ainda maior alegria, detectou um alimento riquíssimo bem à sua porta, só que ele escapou. Para pegá-lo, deslocou uma grande quantidade de massa de forma a conseguir capturar o alimento e outra parte para eliminar os outros dois alimentos descartáveis.

Estendeu seu pensamento para alcançar a massa da invasão e perguntou-se a si mesmo como foi que o piso ficou preto. Quando a sua lógica chegou a uma conclusão plausível, já era tarde. Ele ouviu um estrondo enorme e tudo ficou negro, perdendo o controle e a consciência daquele seu ramo por inteiro. Retirou-se de imediato da massa destruída a assumiu o controle setorial. Mandou a massa local recuar e guarnecer a base. Essa perda custou-lhe muita capacidade de raciocínio, sentindo-se enfraquecido e cansado. Por isso, retirou-se para se nutrir do alimento aprisionado, que era muito nutritivo, até àquele momento o mais rico que capturou. É certo que, por duas vezes, outros dois alimentos ainda mais ricos em nutriente mental escaparam, mas ele estava tinha a certeza de que, na hora adequada, capturá-los-ia. Não ia cometer o mesmo erro do controle consciente anterior que deixou escapar o mais farto de todos os nutrientes de que o seu povo já teve história.

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O Mago e a Sacerdotisa de AvalonOnde histórias criam vida. Descubra agora