Capítulo 9 - parte 1 (em revisão)

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"A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos."

Platão.

Eduarda foi a última a atravessar o portal para a França e estava muito preocupada. Do outro lado, apareciam apenas Saci e Ezequiel. Ele não perdeu tempo com as suas tradicionais brincadeiras, motivo pelo qual a feiticeira preocupou-se ainda mais.

– Oi, filha – disse ele. Lacônico, continuou. – Vocês precisarão voar com Gwydion. Sigam Saci que lá eu explico tudo.

Subiram nos dragões, que tomaram altitude bem rápido. Valdo já tinha voado em um dragão antes e achava a sensação maravilhosa, aproveitando a oportunidade com muita alegria. Contudo, daquela vez ele teve a sensação de que estavam muito mais velozes que antes e começava a sentir os incômodos do atrito do ar com o corpo. Via as quatro asas do dragão batendo aos pares, alternadas e tão rápido que pareciam um único objeto grande e maciço, tentando calcular a frequência dos batimentos e desistindo logo a seguir por falta de parâmetros. O mal-estar provocado pelo vento não demorou muito porque Eduarda ergueu uma barreira de proteção e ele ficou a tentar calcular qual seria a velocidade do voo, mas imaginou que se equiparasse a um avião. A viagem durou menos de uma hora quando Valdo viu que Saci à frente deles parou de bater as asas, deixando-as estendidas e planando cada vez mais devagar, seguido por Gwydion que fazia o mesmo.

Logo a seguir, Saci começou a fazer círculos largos, parte deles em um lago, mas um nevoeiro formava-se abaixo deles, reduzindo a visibilidade em pouco tempo e deixando o jovem preocupado. Os dragões, contudo, não estavam preocupados e seguiam em espiral para baixo. Ele ia questionar o motivo de fazerem círculos largos perdendo tempo após um voo vertiginoso quando um estampido no ouvido trouxe a resposta e o jovem atinou-se que desciam devagar porque voaram a uma altitude tão grande que era necessário igualar as pressões aos poucos, mesmo com o campo de proteção que os dois magos fizeram.

Quando estavam a quinhentos metros. Os círculos ficaram mais apertados e a descida mais forte, provocando um certo medo no rapaz porque não se via mais o solo e ele sabia que aquilo era a margem de um lago grande. Quando Gwydion penetrou na neblina e ficou tudo leitoso, ele apertou mais a cintura da amiga, tremendo um pouco, mas acalmou-se quando ela riu.

– Calma, Valdinho – disse Eduarda. – Eles podem ver coisas que não vemos. O nevoeiro não os atrapalha.

Nem um minuto depois, sentiram a pressão súbita da parada quando Gwydion absorveu o impacto do pouso com as grandes pernas traseiras. Ezequiel já descera e aguardava por eles. Com um gesto dissipou a neblina em um pequeno círculo que envolvia apenas a eles, iluminando o local com uma luminosidade fraca. Olhou para Valdo e sacudiu a cabeça, reprovador.

– Você não devia ter trazido um mundano consigo, mesmo sendo um amigo que conhece os nossos segredos – disse, com um leve toque de repreensão. – Desculpe, Valdo, mas pode ser perigoso para você, que não tem poderes para se proteger.

– Eu sei, Ezequiel – respondeu a garota. – Mas Gwydion encorajou-me a trazê-lo e, depois de conviver com um dragão todo este tempo, eu aprendi a respeitar os instintos dele.

– Concordo com você – disse o sábio, dando o assunto por encerrado. – Bem, estamos encrencados... na verdade, Igor deve estar numa enrascada.

– O que aconteceu? – perguntou ela, já com as mãos tremendo de ansiedade. – Por favor, conte em detalhes.

Ezequiel começou a falar das pesquisas que eles faziam, contando sobre a descoberta do diário da filha dele e terminou dizendo:

– Quando ele acabou de ler diário de Morgana, ficou obcecado por chegar a Avalon porque acha que ela pode estar viva e não teve argumento que o convencesse do contrário, filha. Chegou mesmo a cogitar um pulo no tempo, mas eu implorei que não fizesse. Em compensação, aqui existe um portal, só que é natural e instável e Saci foi muito claro quanto aos riscos de se atravessar um desse tipo. Por isso, Igor optou por abrir um, mas faz sete dias que ele fez isso e não deu mais sinal de vida. Ele disse que eu esperasse cinco e então a chamasse para monitorar os plânions. Eu e Saci pedimos que não fosse, mas ele não me quis ouvir, especialmente quando viu a mensagem da vossa filha. Não sei exatamente o teor dela, mas ele ficou obcecado mesmo.

O Mago e a Sacerdotisa de AvalonOnde histórias criam vida. Descubra agora