Capítulo 19 - parte 1 (em revisão)

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"É o homem mais feliz, seja ele rei ou camponês, aquele que encontra paz no seu lar."

Johann Goethe.


De volta à cidade, foram aclamados como heróis e a festa estendeu-se até ao amanhecer, uma vez que Igor não temia mais os efeitos da dilatação temporal entre Avalon e a Terra. Aproveitou para conversar com os dois chefes e abriu a passagem para verem o novo mundo que escolheu para eles, um planeta verdejante e selvagem, com lindas e paradisíacas praias, continentes de terras ricas e férteis. Eles e vários outros representantes do povo acompanharam o mago a conhecer um pouco do mundo que decidiram chamar de Céltia, além de alguns druidas e sacerdotisas, também interessados em ver a nova pátria. Valdo, que não queria perder a oportunidade de conhecer um mundo novo, também foi junto, mas estava muito calado, às vezes deitando olhares perdidos para Nealie, olhares que chegavam a beirar o desespero.

Ciente do seu dilema, Igor tinha pena dele, mas nada podia fazer para o ajudar a não ser dar seu apoio e conselhos quando pedidos.

A aceitação da população para emigrar, quando soube a respeito de Céltia, aumentou para quase cem por cento e ficou combinado que se preparariam para a transição marcada para dali a dez dias. Ele pediu que não se estendessem porque acreditava, segundo os cálculos da Caroline, que o desvio temporal começaria em uma semana e, em aproximadamente dois meses, o fator de distorção voltaria a ser de um para seis.

Quando retornaram a Avalon, Igor convidou Valdo a acompanhá-lo em um passeio até às fadas para conversar com elas a respeito da emigração.

― ☼ ―

Valdo ia com o amigo, calado. A sua cabeça era um turbilhão de coisas, como um caldeirão fervente onde se fez uma sopa de ideias e emoções, todas elas misturadas e descontroladas, umas tentando sobrepujar as outras para mais uma vez caírem naquele caleidoscópio mental e darem lugar a novos pensamentos, alguns desordenados, mas todos eles girando em torno do mesmo pivô. Ergueu a mão direita e fez um pequeno fluxo de faíscas crepitar dos seus dedos, sorrindo um pouco porque estava cada vez melhor. Em todos os seus vinte e cinco anos, ele nunca sofreu uma transformação tão radical quanto foi a passagem pelo portal com a amiga. Nem mesmo a puberdade, no seu caso tão conturbada, foi assustadora como era agora a percepção da vida que se apresentava.

Ele tinha dons que eram raros entre os homens, dons que o colocavam quase que no pedestal dos Deuses, que lhe davam poder de vida ou morte e que exigiam uma responsabilidade assustadora, mas não era nada disso que o importunava tanto, até porque a sua natureza era muito pacífica e bondosa.

O que o incomodava muito e não saía dos seus pensamentos há algum tempo era Nealie, apenas a bela e doce Nealie, mais precisamente as consequências do que fizeram juntos. Suspirou e olhou para o amigo porque sabia que Igor esperava que ele desabafasse. Como nada disse, o mago foi o primeiro a falar:

– Tchê, eu sinto que estás demasiado agoniado, Valdinho, e gostaria muito de poder dar uma força só que terás de me explicar o porquê dessa aflição toda.

– Mas isso não é mais do que evidente, Igor? – questionou, com a voz angustiada. – Achei que fosse!

– Não me parece muito evidente, meu velho. – Igor parou de caminhar e pôs a mão no seu ombro. – A gente te conhece relativamente bem nestes cinco anos que se passaram e sabemos as tuas preferências, que me parecem ser aquela montanha de músculos paulista, lá em Porto Alegre.

Valdo deu um sorriso e Igor continuou.

– Em outras palavras, a menos que tenhas sofrido mais transformações além dos teus poderes recém-adquiridos, que parecem continuar bem ativos e cada vez melhores, e isso te fez ficar apaixonado pela minha neta linda de morrer, as coisas não são nada evidentes.

O Mago e a Sacerdotisa de AvalonOnde histórias criam vida. Descubra agora