Capítulo 11 - parte 2 (em revisão)

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O retorno à realidade veio devagar e, de certa forma, ajudou-a bastante a recuperar a razão. Primeiro foi a sensação de conforto e paz, uma sensação de que nem se lembrava quando foi a última vez que sentiu. A segunda coisa, foi a completa lucidez, onde passou a ter plena consciência de si mesma e já não se sentia como um animal acuado. De alguma forma, sabia que foi resgatada e salva, mas restava saber por quem, apesar de que nada poderia ser pior que as criaturas das trevas. A sua última lembrança era de estar no sudoeste de Avalon e de ser aprisionada pelos monstros. Sentia-se repousada e então criou coragem para abrir os olhos. Mal fez isso, notou que estava na penumbra, mas podia vislumbrar que o local era uma caverna; logo, permanecia na região sudoeste.

Procurou a fonte da fraca luz e viu que havia um homem que, no momento, estava de costas e tinha uma esfera de luz em cima da cabeça, flutuando a uns cinquenta centímetros e iluminando o ambiente, embora de forma difusa e fraca, concluindo que se tratava de um druida. Prestou atenção nas vestes e espantou-se muito porque envergava a capa branca que era do avô antes dele entregar o comando do Mundo de Cristal. Concluiu de imediato que aquele homem era o seu sucessor, mas não entendia como ele poderia ter chegado ali porque tomara todas as precauções para que apenas o pai conseguisse. Ainda espantada, ergueu-se, ficando sentada na cama improvisada.

– Você é da Cidadela, o Guardião Supremo – disse ela com toda a calma. – Como conseguiu chegar aqui e quem é o senhor?

Igor virou-se devagar mas não aumentou a força da iluminação para ela não ficar ofuscada. Sorriu, embora a mulher não conseguisse ver detalhes desse tipo com tão pouca luz, e disse:

– De fato sou sim – explicou, gentil. – Cheguei aqui porque encontrei informações e instruções. Vi, pelos restos de roupa que tem vestida, que é uma sacerdotisa de alto grau, mas como acabou nesse estado?

– Lutando contra os monstros – respondeu. – Foram muitos dias horríveis, umas três luas, eu acho, que fiquei no mundo deles, aprisionada e não faço a menor ideia de como consegui escapar de lá. Quem é o senhor?

Igor ia falar quando notou que as coisas não faziam muito sentido, a menos que... a sua mente recusava-se a aceitar o que a lógica ordenava e o coração deles exigia que assim fosse, deixando-o mudo por alguns segundos preciosos. Como não respondeu, a sacerdotisa insistiu:

– Então, quem é o senhor e onde encontrou as instruções?

Em vez de responder e com o coração disparado de ansiedade, o mago aproximou-se um pouco e o globo luminoso, antes fraco, tornou-se bem intenso, iluminando cada canto da caverna e permitindo que ambos se vissem frente a frente.

Nenhum dos dois esperava aquilo de fato e Igor engoliu em seco, sentindo o seu coração a bater ainda mais forte porque reconheceria aqueles olhos onde quer que fosse, bastando olhar para um espelho. Aquela mulher tinha um par de olhos cinzentos e intensos tais como os seus e isso não poderia ser escondido dele nem com toda a sujeira do mundo. Devagar, aproximou-se enquanto Morgana, a Bela, arregalava os olhos e deixava escapar um suspiro ofegante, empertigada.

– Meu pai... – aquela palavra foi dita tão baixo que era quase inaudível, mas, para ele, soou como um trovão que retumbava por toda a caverna até chegar aos seus tímpanos ecoando na sua cabeça. Foi um sussurro tremido por lábios que mal se mexiam.

Emocionado, Igor deu um último passo em frente e agachou-se, também ofegante, enquanto Morgana estendia a mão para ele, tremendo sem parar. Uma lágrima correu pelo seu rosto, deixando um sulco na pele suja. Ela não sabia mais o que dizer ou pensar e apenas desejava que aquilo fosse bem real. A sua mão tocou no braço do Igor, apalpando e agarrando-o com firmeza.

O Mago e a Sacerdotisa de AvalonOnde histórias criam vida. Descubra agora