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27 de Novembro, 2024. 

A fina névoa noturna impedia a minha visão para a maior parte das lápides fixadas na terra fria daquele jardim de cadáveres, não deixavam de ali estar, o cheiro das flores misturava-se com a decomposição e terra molhada. O ruído asqueroso e baixo emitido nas vezes incontáveis que a brisa tocava as folhas secas das árvores, faziam-me indagar o quão irritadas estavam com os gritos e clamores da criatura que por mim era arrastada. O banco no qual me sentei era revestido por uma camada gélida de mármore desgastado, precisava acabar com aquilo, calar a voz maldita que interrompia o descanso dos mortos. As provocações inefastas que me eram lançadas esvaíam-se e eram corrompidas pelo meu silêncio.

— Matas da tua própria espécie, traidor. Asmodeus irá arrastar-te novamente para as chamas inferno, quando te encontrar — visava a perfeita imagem do seu asqueroso corpo a debater-se contra o chão, agarrado pelas mãos das almas do local. O demônio era enfraquecido pelas bençãos e mágoas do campo-santo. Não iria de forma alguma aplicar-se em fugir, ou reagir. Arranquei o crucifixo espelhado que pingentava a corrente fina no meu pescoço. A prata santa e hundida matava um demônio quando simplesmente tocava o seu sangue. Impedindo-o de conseguir outro corpo ou recriar-se em outra vida, aniquilava e carbonizava o escuro dos seus olhos e alma negra.

— Deus te abençoe.

O silêncio voltou a domar o ambiente quando a prata do crucifixo derreteu em sua garganta. A criatura desintegrou-se num grunhido de angústia, mais parecidos com gritos de uma legião de almas amaldiçoadas. Lamentei interiormente por todos aqueles que padeceram nos labirintos do componente infernal na minha frente. Este que agora revelava a sua verdadeira aparência cremada. Roguei por aqueles que gritavam, cortejando-os com o sinal da cruz. 

Podia jurar que ouvi o distante bater das suas asas antes de ser surpreendido pelo estrondo grave dos seus pés a embaterem no chão. Rafael. Seria capaz de desenhar as rachaduras causadas pelo impacto sem se quer vê-las. A estrutura das minhas costas vibravam com o instinto de zaga, mesmo sabendo que não precisava temer nada vindo do fraco arcanjo.

— Como ousas ainda usar o nome de Deus nos teus atos? Como ex-recruta da mansão deverias saber que ele não vai te ouvir — indaga, afirma, e acusa o anjo. As suas provocações não eram algo novo, repetitivamente ineficazes e sem qualquer alternância nos meus atos. — É compreensível as tuas atitudes de tentar chamar a atenção do mestre, suponho que não seja fácil ser rejeitado e exilado dos céus. Já não tiveste demasiada atenção quando com Lúcifer mataste Miguel?

— Eu não matei Miguel. — não pude evitar a vibração raivosa da minha voz.

— Além de tolo, és covarde. A sede por poder deixou-te cego. Não aceitavas o fato de que Miguel é e sempre será o supremo de Deus. Achas que matar uma dúzia de mensageiros de Lúcifer vai fazer com que ele te perdoe?

— Não procuro perdão. — estava farto. Ergui o meu corpo, permanecendo de costas para o arcanjo.

— Quando ele pisar na Terra, vai arrancar a tua alma, e queimar as tuas asas, Gabriel. — a minha movimentação foi suficiente para que ele batesse as asas, deixando-me finalmente sozinho.

13 de Setembro 2020.

— Já disse que não faço aqui fora. — as minhas palavras não pareciam alterar nada. Os rapazes sempre sabem o que queremos. Negar era mentira para mim mesma. A forma predadora como que ele me tocava aquecia a minha carne. As minhas pernas estavam presas em torno da sua cintura máscula. Jogadores de basquete. A pressão exercida por seu corpo grande contra o meu era dolorosa por conta da parede atrás das minhas costas.

Completamente entregue, surpreendi-me quando os seus dedos frios tocaram a parte inferior da minha coxa, invadindo as saias curtas que usava. Ele afasta o tecido rendado e macio das minhas cuecas o bastante para avançar com os dedos.

Crows { H.S }Onde histórias criam vida. Descubra agora