VII

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Íris POV

Tive a impressão de estar acordada antes mesmo de abrir os olhos. Estava suada. O calor atingira o meu corpo anormalmente. Estremeci antes de sentar na cama. Estava confusa e assustada. As imagens daquele sonho invadiam a minha mente como um tipo de tortura. Toda essa complicação passou quando vi Gabriel na beira da cama, ele olhava-me preocupado, e quieto. Rapidamente peguei-me a engatinhar na cama para a sua beira. Envolvi os meus braços em torno do seu pescoço, abraçando-o aliviada. Ele não correspondeu, mas pude sentir que ficou menos tenso. Olhei o seu rosto por segundos, parecia fissurado em algo distante, mas voltei a abraça-lo e esconder o meu rosto na sua clavícula. O silêncio domou o quarto, não se ouvia exatamente nada.

— Tive um sonho horrí... — parei de falar ao observar o estado precário da camisa dele. Os rasgos nos ombros, braços e peito estavam presentes no sonho, onde Gabriel estava preso à uma cruz. Olhei-o assustada. Ele finalmente tinha os olhos fixos em mim.

— Não foi exatamente um sonho. — a sua voz soou rouca e cansada. Fechei os meus olhos apreciando o som falho.

Gabriel estava ferido. O que não fazia sentido. O seu aspecto cansado me dizia isso. Agarrei as suas mãos, os punhos cerrados foram abertos muito lentamente. As marcas atravessavam as suas mãos, o furo escuro ao meio de cada uma delas. Senti um nó horrível espremer a minha garganta ao lembrar daquilo. O meu anjo crucificado. Não sabia o que dizer ou pensar, ou como ajudar. Apenas olhei-o nos olhos, não conseguindo impedir a emoção de molhar os meus.

— Vai curar. Daqui algumas horas. — ele respirou fundo — Usaram prata santificada.

— É isso que pode te matar?

Gabriel negou. Não conseguia entender mais nada do que acontecia, e a razão para tudo. O que ele quis dizer com "não foi exatamente um sonho?" Eu lembro-me de dormir. Mas depois era como se eu estivesse em um lugar estranho, onde eu estava? Gabriel foi crucificado na minha frente. Havia um homem elegante e misterioso que transformou-se em uma criatura horrível.

— Onde eu estava?

— No inferno. — ele respondeu. A sua resposta me fez congelar por instantes. Então o homem era o diabo? Teria conseguido a minha alma? Gabriel falhou?

— Como eu estava no inferno? — cuspi as palavras, gaguejando com a surpresa.

— Lúcifer quer você. A tua alma mas... Asmodeus não foi atrás de você pela alma. E nem te levou para o inferno por isso.

— Então por que? E como?

— Ele queria que eu fizesse isso. Desafiasse Lúcifer e não cumprisse a minha pena. Queria que eu fugisse, e te levasse comigo. Queria que eu usasse as minhas asas. Ele quase conseguiu.

— O que tem as asas? — inquiri confusa.

— Lúcifer quando me concedeu as asas impôs uma regra; Eu não poderia usa-las no inferno. Elas queimariam.

— Isso significa que você perdeu as suas asas? Porque eu as vi.

Ele abanou a cabeça, depois inspirou com precisão.

— Se tivéssemos ficado por lá mais uns 7 segundos, eu acredito que as perderia. Mas foi rápido. E elas vão se curar também.

A minha mão percorreu do seu ombro às suas costas, muito lentamente. Perguntei-me como estruturas tão grandes como aquelas asas podiam simplesmente desparecer.

Crows { H.S }Onde histórias criam vida. Descubra agora