VI

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Miguel estava do meu lado, junto dele os outros anjos que caíram, e os que ainda faziam parte da comunhão celeste. Asmodeus não teria facilidade na sua atividade de me matar. Não voltei para casa naquela noite, eu precisava de falar com Íris. O teletransporte foi tranquilo, desta vez, embora ainda me tenha sentido um pouco tonto quando cheguei à casa dela. Escalei para a varanda, ouvindo os passos delas em direção ao quarto, parecia estar a falar ao telefone com alguém. Sentei-me sobre os meus tornozelos, permanecendo sobre o parapeito da varanda.

Íris POV

— Deixar a universidade? — a sua voz demonstrava surpresa e desapontamento. Aquilo de fato incomodava o meu pai.

— Eu sei que parece besteira e impulsivo. Mas eu não me sinto confortável depois do que aconteceu. As pessoas olham para mim como se eu fosse um tipo de... — libertei um suspiro de derrota — Eles não param com as perguntas sobre aquela noite, acho que começam a pensar que eu os matei.

Ele resmungou ao encostar-se na bancada, de braços cruzados e uma expressão séria.

— Íris, você não pode apenas desistir agora. Esteve quase 3 anos nisso, era o seu sonho.

— Eu não sonhei isso sozinha.

— Você preguiça seguir em frente! Eles morreram, não você!

Abanei a cabeça negativamente. Ele não compreendia. Era inútil tentar. Abandonei a cozinha antes que o jantar estivesse pronto, pude ouvi-lo chamar por mim algumas vezes mas apenas subi as escadas. Rachel ligou.

— O que é? — a irritação era presente na minha voz.

— Alguém está de mau humor. — ela riu — Adivinha quem vai te convidar para sair?

— Quem?

— O mais velho dos Stewart's.

— Aquele com olhos verdes?! — Não era possível disfarçar a empolgação no meu sussurro. Assim que entrei no quarto, arfei e recolhi o meu corpo numa expressão assustada. — Rachel, preciso desligar, falamos depois.

Terminei a chamada, agarrando o celular com ambas as minhas mãos, excitada com a vista para a varanda. Braços apoiados nos joelhos, sobretudo negro por cima da roupa escura, Gabriel irradiava a beleza divina, e o olhar infernal. A lua iluminava os traços mais fortes do sei rosto, ele parecia distraído com algo distante. Aproximei-me em passos lentos, a sua presença me deixava nervosa, e receosa. Gabriel olhou-me, podia ver o brilho esverdeado dos seus olhos, o seu olhar irradiava cansaço.

— Está tudo bem? — inquiri num tom baixo. Os movimentos dos seus cabelos e da sua roupa faziam-me perceber que o vento estava parcialmente forte.

Ele assentiu em silêncio. Saltou para o chão segundos depois, e aproximou-se. Os passos que exercia em minha direção, era os que recuava. Eu queria estar perto dele, mas existia algo nele que ainda me deixava com medo.

— Preciso pedir uma coisa. — Gabriel sussurrou.

— Me pedir uma coisa? — ele não podia estar a falar sério. Como eu poderia ajudar o meu próprio anjo?

— Que me prometa uma coisa.

— Que coisa? — ele estava tão perto, que podia sentir a energia gerada pelo calor dos nossos corpos. Por instantes pensei que nos beijaríamos. Gabriel parecia mergulhado nos meus olhos. A calmaria dos teus me deixou em um tipo de transe. — Que coisa? — desta vez sussurrei, incomodada pelo silêncio.

Crows { H.S }Onde histórias criam vida. Descubra agora